#Capítulo 2 Escolha uma Carta.

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06:30

Adoraria estar acordando a essa hora, mas, após aquele incidente ocorrido na madrugada, não consegui dormir novamente; Ainda sinto um formigamento em minha mão direita, descobri meus poderes aos nove anos, um pouco depois daquele encontro bizarro na cozinha do orfanato, o que aconteceu com aquela coisa entupida de dentes? Não me recordo, toda a lembrança é turva e cheia de lacunas.

Levanto-me da cama, dolorido, preciso de uma cama melhor.

A manhã está calma, os pássaros cantam alegres nos cabos elétricos dos postes de luz, pela janela entra o cheiro amargo de café, vindo do Minguant, o bar aqui do lado, se é que posso chamar aquele lugar afável de bar.

Faço minha higiene matinal e me visto, se tem uma coisa que meus poderes me proporcionaram por todos esses anos, além de manter os demônios afastados, foi roupa, muita roupa.

Escolho uma calça de moletom preta e um casaco de algodão cinza, sempre gostei de cinza, combina com minha pele pálida e meus cabelos escuros; Já que estamos falando de aparência, vamos ao clichê de apresentação; Sou magro, talvez um pouco de mais, alto, com 1,69 de altura, cabelos pretos acinzentados na altura das sobrancelhas, olhos pretos com olheiras aparentes e cílios longos, odeio eles.

Assim que termino de me vestir pego meu celular e quando já ia descendo me dou conta de que não peguei dinheiro algum, então volto ao meu armário; Lá, em uma caixa de sapatos escondida em um fundo falso atrás dos meus casacos, duas notas de 20 e uma de 50 jogadas junto com mais alguns trecos.

-Tá acabando...

Digo, pegando uma das notas de vinte e pondo-a entre as mãos, em conchinha, fecho os olhos e me concentro, sinto as mãos formigarem com a energia ali presente, abro as mãos e onde havia apenas uma nota de 20 agora tinha duas, idênticas, mesma numeração e até o mesmo rasgo na ponta.

-...ou não.

Abro um sorriso largo, descobri esse meu talento aos 13 anos, quando as freiras davam apenas dois biscoitos recheados de sobremesa para as crianças, mas descobri da pior forma que esse truque não funciona com comida ao negociar dois biscoitos falsos por um chiclete com Hugo o valentão do orfanato, qualquer coisa clonada fica sem gosto, o que me rendeu um belo olho roxo.

Amaço uma das notas para disfarçar e desço para o Bar/Café Minguant.

Ando pela calçada e me surpreendo ao ver uma equipe de jornalismo filmando justamente aquele beco da noite passada, meu coração palpita por um instante, e se a criatura não desapareceu com o nascer do sol? Corro desengonçado até a aglomeração que se formava em volta das câmeras de filmagem.

Chego aos tropeços e paro, aliviado por não ver nada além dos restos carbonizados daquele homem azarado da noite passada.

-E mais uma vítima é encontrada morta e carbonizada; Identificado como Seu Alcir, o morador de rua local, foi, provavelmente atacado por traficantes de drogas ilícitas. Os moradores do bairro dizem que Seu Alcir vinha apresentando comportamento estranho...

A jornalista falava, inexpressiva ao ler o vete que passava em uma tela atrás da câmera que a filmava. Pessoas curiosas se chegavam para mais perto, sedentas por um pouco de realidade bruta.

-Dá pra acreditar que alguém seria cruel o bastante de fazer uma coisa dessas, cara?

Um Homem alto, corpulento, óculos com armação remendada, pele branca e longos cabelos loiros presos em um coque samurai se dirige a mim, se aproximando de braços cruzados e cenho franzido. Igor.

Mantenho a boca fechada um uma linha reta, fazendo cara de indignação e concordando com a cabeça, eu acredito, eu mesmo incinerei aquele corpo, mas eu fiz o que devia ser feito.

Órfão ArcanoOnde histórias criam vida. Descubra agora