Eu estava boquiaberto, o que tinha acabado de acontecer? Mas oque é que ta acontecendo aqui?
-O que... mas o que...?
Gaguejo, eu não estava conseguindo raciocinar, olho para os lados, ouço o tilintar de xícaras vindos da cozinha, Yuri ainda estava ocupado, ele não deve ter visto isso.
Aquele garoto estranho ri com ironia, apertando os olhos, seu nariz enruga.
-Você usa Pyromancia mas fica impressionado com um simples truque de cartas?
Ele guarda a carta na manga no casaco e volta a se endireitar no banco, Yuri retorna da cozinha, resmungando alguma coisa inaudível, ele não lidava com as bebidas quentes e sim com as alcoólicas, era visível que estava descontente. Ele serve o café para o garoto ao meu lado, o cheiro forte sobe à minhas narinas; Quando abriu a boca para falar alguma coisa, o sino das portas anunciam a entrada de Igor.
Ele carrega uma pilha de pequenas caixas achatadas de papelão, o cabelo reluzindo com a luz do sol matinal, Thor teria inveja de cabelos assim, após bater os pés no tapete de entrada, ele levanta os olhos, que passam mecanicamente de mim, para Yuri e finalmente para o estranho sentado ao balcão.
-Não sabia que abriríamos mais cedo, me atrasei com as rosquinhas...
Tentou se justificar, olhando para os lados, procurando mais algum cliente; A cara de insatisfação de Yuri foi o bastante para que Igor soltasse um sonoro "Ah...", ele se direcionou para o balcão, passando para o lado de dentro e indo em direção a cozinha, mas antes de entrar deixou um saquinho a minha frente.
-Por conta da casa.
Diz e some pela porta branca que se fecha atrás de si, Yuri por sua vez "seca" as mão com o pano ao seu lado, como que por hábito, olha para mim por de baixo dos óculos, em seguida para o rapaz ao meu lado, em seguida vai atrás de seu irmão que já havia começado a derrubar tudo na cozinha.
Fez-se um silêncio cortante que se arrastou até que eu decidisse abrir o saco que Igor havia deixado para mim, esqueci-me de agradecer, burro...
O som da sacola de papel sendo amassada fez com que o garoto voltasse a olhar para mim, o que me faz lembrar do que tinha acabado de acontecer, paro e o encaro, agora era possível ver seu olho esquerdo por completo, amarelo cor de âmbar, contornado por delineador preto, ele me examinava, demorando seu olhar na sacola de rosquinhas em minhas mãos. Tomo coragem.
-Primeiro, o que foi aquilo? Segundo, o que você é?
Falo, pausadamente; Quando falo com desconhecidos tenho problemas com pronúncia.
Ele olha para mim e dá de ombros, ignorando-me; Ele deve ter minha idade mas como pode ser tão insolente? Olho para o saco de rosquinhas à minha frente, tiro uma e estendo para ele, o doce de leite escorre na ponta dos meus dedos, ele olha pelo canto do olho para mim e pega a rosquinha, mordendo-a e sujando o canto da boca. Minha sobrancelha treme com aquilo.
Tosco
-Bom...
Ele começa a falar, de boca cheia.
-Aquilo que você viu foi um de meus truques, eu manipulo cartas, e... eu sou como você, um mago.
Meus lábios se contraem em um sorriso torto.
-Um mago?
Digo, agora rindo de nervoso. Sim eu já lutei contra alguns demônios, disparo feixes elétricos e fogo pelas mãos mas nunca me passou pela cabeça que isso poderia ser...
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Órfão Arcano
FantasiDesde a infância Bernardo tem visto coisas que nunca soube explicar, desde objetos se movendo sozinhos à criaturas grotescas; Mas é quando chega a sua adolescência que descobre o que realmente é, um mago caçado por crias do submundo, terá ele a dete...