Questões familiares

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Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira

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Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.

Naila ainda estava atordoada com o que ocorrera nos últimos dias de sua vida. Quando ela, Tarquin e Varian retornaram para a Estival Cresseida estava em pânico. Não tivera muitas notícias da batalha, sobre quem sobrevivera e quem morrera. Ou quem estava inteiro após a batalha. Elas estavam nos braços uma da outra antes que Naila pudesse puxar uma inspiração forte no cheiro de maresia característico apenas da Estival. Cresseida era quente, delicada e macia nos seus braços, o local aonde Naila quisera que ela apenas pertencesse, o local aonde ela não tinha mais o direito de desejar que Cresseida estivesse.

– Achei que iria perdê-la. – Cresseida sussurrou, baixinho, os olhos cristalinos fixos nos escuros de Naila e, por um momento, a Princesa teve certeza que Cresseida iria beijá-la.

– Eu vou sempre voltar, Cress. Sempre. – Naila sussurrou a promessa que ela não poderia ter feito. Sabia que se tivesse lutado com Valkyrie por mais alguns minutos teria morrido. A lembrança da Almirante ruiva enterrou a ternura do momento e Cresseida deve ter encontrado alguma escuridão em seus olhos, pois se afastou imediatamente para recepcionar o irmão e o Grão Senhor.

Eles tinham se mantido quietos, deixando-as naquele momento que quase se prolongara. Mas haviam traumas e sombras demais em ambas. Naila, Tarquin e Varian ainda tinham cheiro de suor, fumaça e sangue por debaixo da magia que usaram para tirar a sujeira. Aquilo ainda se pressionava em suas peles, gargantas e alma.

Mas Tarquin...

Naila focou os olhos de Tarquin.

Aquele não parecia o primo que correra por entre os navios ancorados em água rasa durante a infância, não aquele que ouvira suas confidências nem o que se prostrara no sangue para impedir que Naila fosse morta. Ele a vira ser torturada em vez de morta, mas nem mesmo isso trouxera aquele aço, aquela fúria, para os olhos de Tarquin.

A mandíbula cerrada, os olhos azuis incandescentes e toda a tensão habitava em Tarquin desde que a Almirante de Hybern fora levada pelo Encantador de Sombras da Corte Noturna. A forma como ela gritara quando eles a obrigaram a mostrar suas asas... Aquilo não sairia da mente de Naila. Aquilo ressuscitara seus próprios gritos, sua própria violação...

Ela não deveria sentir empatia por aquela fêmea.

Não deveria, mas sentia. Era o sentimento de uma fêmea que sabia o que era perder o controle do próprio corpo, mesmo que as situações fossem totalmente diferentes.

Valkyrie a teria matado. Teria matado Tarquin, Cresseida e Varian... Ela matara muitos de Prythian, mas aquilo era guerra. A inocência de Naila de achar que havia um lado vencedor na guerra se partira depois de ouvir o clamor dos moribundos e o peso da consciência da morte. Sua linha definida quem era amigo e inimigo também fora cortada.

The depths of the soulOnde histórias criam vida. Descubra agora