Capítulo 2

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-Filha levanta! Vai se atrasar para a aula!- fala minha mãe.
-Ai mãe! O Nick pode me esperar mais...cinco minutunhos?- falo virando para o lado da parede.
- Nem pensar mocinha!- diz puxando a coberta, o frio atingindo meu corpo.
Olho feio para ela, mas acabo me levantando. Vou ao berço no canto do quarto e vejo meu irmão mais novo dormindo, tem apenas 5 meses, nada de tarefas, sortudo!
Coloco um vestido bege que vai até os meus joelhos, sem nenhum detalhe ou coisa do tipo. Vou para a a cozinha e vejo Charlot.
-Lot! Mamãe também te fez madrugar?
-Ann, já vai dar nove da manhã! Dorminhoca!- ela ri, eu a acompanho.
- Vou para a aula,onde está Lice?
- No jardim, brincando com Kevin.
Eu tenho 3 irmãs mais novas e agora veio Junior.Somos eu, Charlot, Lice, Arienne e o nosso maninho. Meu pai nos ama, mas já estava perdendo as esperanças achando que nunca viria um menino.
Subo o último lance de escadas e trombo com o meu pesadelo vivo. Alex, um dos guardas do palácio, aparentemente apaixonado por mim.
- Onde uma jovem tão linda vai sozinha?-ironiza ele.
-Tentando ir para a aula- falo me desviando para a direita, ele acompanha o gesto-mas tem um poste ambulante na minha frente!- ele realmente parece um poste, fino e alto.
-Eu posso ter a honra de acompanha-la?- ele questiona, tampando minha passagem quando tento fugir pela esquerda.
-Hum... Não!- falo já sem paciência e o empurro, posso ser pequena, mas sou bem forte.
Chego na sala de estudos. Prateleiras estão espalhadas pro todas os cantos, e Nicolas está sentado em uma das meses de carvalho, olhando para o relógio na parede.
-Mais um segundo e você estaria atrasada. Isso é um novo recorde!-brinca ele.
-Hey! A culpa não é minha! Culpe o Alexander!
-Ele ainda não desistiu? Nem quando você pegou todos os chocolates e deu para as crianças? Ou colocou as rosas no fogão?
-Infelizmente não!- falo deixando meu peso cair sobre a cadeira ao seu lado-O que vamos estudar hoje?
-Sua matéria predileta!- comemora com a cara que significa uma única coisa: discursos.
Eu amo falar, acho que é o que mais gosto de fazer. Posso falar horas e horas sem me cansar e sem ficar sem assunto. Discursos são a minha matéria predileta pois posso falar o que eu penso e como quiser, mas tenho tentado ser mais cordial e de acordo com Nick, tenho que me lembrar de que os outros também podem falar e que eu não posso extrapolar, ou seja, me empolgar demais e acabar mudando de assunto toda hora.
-Hoje você deve fazer um discurso sobre o assunto do momento.
-Deixe me adivinhar... Você?- indago com a melhor cara de "metido" para ele.
-Eu ia falar da Seleção.
-Que irá ocorrer por você estar fazendo 19 aninhos!- falo pulando em seu pescoço e o abraçando- Parabéns antecipado maninho!
-Valeu Ann, mas meu aniversário só é amanhã.
-Eu sei, mas queria ser a primeira a te dar os parabéns, e lhe lembrar do que o espera! Meninas brigando pelo seu coração - falo mexendo os dedos em direção ao seu rosto- ou a sua coroa!- falo me lembrando da minha mãe falando de sua própria Seleção, mas ela acabou se apaixonando por meu pai, e ela queria que a rainha, sua amiga, ganhasse.
- Nem me lembre. Tenho medo de acabar escolhendo a pessoa errada, depois não tem troca.
-Calma meu amigo, eu vou te ajudar, e como vou ser uma das empregadas vou saber de tudo!
-É, eu estou condenado!
Eu dou um tapa em seu braço e ele ri, uma risada soluçada, estranha, assim como a minha. Eu o acompanho.
-Podem dividir a diversão comigo?- a rainha entrou no recinto, a mais nova princesa no colo.
-Majestade!- eu me levanto e faço uma reverência- Eu estava falando que vou ajudar Nick com a escolha da princesa e ele riu, a senhora acredita!
-Não, não tenho ideia do motivo!- ela riu, uma risada bem mais delicada que a minha.
-Posso ver ela?
-Claro! Venha.
Eu me aproximei e vi o rosto delicado de uma menininha de apenas 1 mês, cabeludinha, lindos cabelos dourados.
-Ela não veio ruiva como a senhora!
-Sim, Maxon queria que viesse, mas estou feliz por ela se parecer com ele.
Eu passei minha mão sobre a cabeça dela que sorriu durante o sono.
-Annabel, poderia entregar essa carta para a sua mãe?- pergunta me entregando um envelope- É sobre um novo documento que você tem que fazer.
-Annabel!- Kevin e Lice apareceram por de traz da saia da rainha- Você pode brincar com a gente?- falaram em uníssono.
-Bom dia para os dois! Eu adoraria brincar, mas tenho que estudar.- eu me abaixo e coloquei a mão como se fosse contar um segredo- Meu professor ama pegar no meu pé.- falo apontando para Nick.
Todos rimos, inclusive Nicolas, mas que não deixou de se auto-defender:
-Hei! Tenho de cuidar da minha única aluna! Bom... Se eu poder jogar também, talvez eu...
-Pode!- falaram as crianças antes que ele completasse a sentença.
Lice pegou minha mão direita, Kevin a esquerda e começaram a me puxar. Eu acenei com a cabeça para a rainha, a carta que me dera debaixo do braço.
Chegamos a parte aberta do jardim, onde eles haviam improvisado dois gols com pequenos pedaços de madeira. Eu fiquei com Kevin e Lice com Nick. Com a pequena bola em meus pés e meus olhos nos de Nicolas dei o primeiro chute, passando a bola para Kevin que começou a ir em direção a Lice, mas o irmão entrou na frente e roubou a bola, eu avancei e driblei ele, tendo posse da bola e marcando um gol enquanto minha irmã se importava em marcar meu companheiro de time. Vibramos de alegria e eu o rodei no ar. Lice reclamava com Nick e eu intervi.
- A maninha, a culpa não é dele se minha beleza faz todos se esquecerem do que estão fazendo!- falei jogando o cabelo por cima do ombro. Todos começamos a rir.
- Eu também sou bonita neh?- ela questionou, os olhos verdes como esmeraldas de meu pai brilhando.
-Você é linda Lice, você é suas irmãs são as moças mais lindas de Ílleia.- falou Nick, olhando para ela,depois para mim, com o seu sorriso singelo nos lábios, e olhou para ela de novo-Espero achar uma esposa como vocês.
-Isso é fácil! É só você é a Ann se casarem!- exclamou Kevin.
Eu olhei assustada para ele e então comecei a rir, um Nicolas vermelho e uma Lice sorridente me acompanharam. Imagine! Eu, praticamente uma irmã dele, como princesa! Aquilo só poderia ter sido uma piada.
- Kevin, para mim vocês são meus irmãos! Não posso me casar com meu irmão! Até porque Nick vai ter 35 garotas para escolher, e muitas delas vão ser mais bonitas que eu.- aquilo era verdade.
-Mas nenhuma delas vai ser tão legal quanto você!- rebateu ele.
- Annebel! Lice! As duas venham para a cozinha!- a voz de minha mãe tomou conta do jardim.
-Melhor a gente correr pequena! Até logo Kevin!Até a noite Nick.- me despedi com um aceno, peguei a carta no banco onde eu havia deixado e corri com Lice para a cozinha.
- Hora das tarefas! Lice, as meninas estão te esperando no tanque. Annabel, já sabe onde está sua faca, ao trabalho.
-Mãe, a rainha mandou esta carta para a senhora, acho que é sobre algum documento que eu tenho de fazer.- falei passando o envelope para ela.
Ela pega o papel e vai para algum lugar além do meu campo de visão. Eu caminho até o canto próximo a janela, onde as meninas já começaram a descascar as batatas, minha faca em cima de meu pequeno banco.
-Olá meninas!
-Deixa a gente adivinhar, estava com o Nicolas?- perguntou Agatha, filha de uma cozinheira, menina de cabelos negros e lindos olhos verdes. Todas as outras meninas riem.
-Estava, aula não se lembram? - falei me sentando.
-E sobre o que vocês falaram?-questionou Merida, filha de um guarda e uma mulher de uma das províncias mais distantes, a mãe faleceu, mas deixou uma menina muito habilidosas para nós.
-Na verdade nada.-falei notando que não havíamos discutido nada- A rainha chegou e depois veio Kevin e Lice e todos fomos para o jardim.
- E como está o príncipe? Ancioso com a Seleção?- questiona Agatha.
-Nervosíssimo! Ele tem medo de escolher a errada e só descobrir depois, mas falei que ele vai ter a gente para ajudar, já que vamos saber de tudo entre as Selecionadas e vamos passar para ele.- a maioria de nós seriam criadas.
-Ele vai ter a você não seria a frase correta? Vocês não se desgrudam!- falou Paylor.
-A culpa não é minha de nossos pais são amigos e crescemos juntos.
-E o que afinal vocês vão fazer hoje a noite.- havia se espalhado que ele havia pedido um banquete completo para aquela noite, mas todos os anos ele levava comida, então eu sabia que era apenas boatos.
-A gente olha a nossa estrela e conversa, nada de mais.
-Ah, a tal de Nicol... Qual o nome?
-Nicobel Annalas.-respondi
-De onde você tirou esse nome maluco?- perguntou Katherine, ela me detesta, tem uma queda pelo Nicolas desde pequena, e não gosta nadinha de me ver por aí com ele.
-É a junção dos nossos nomes, para mostrar que sempre vamos estar juntos.
-E vocês fazem isso todo ano neh? Desde quando vocês tinham 6 anos.- fala Lucinda, minha melhor amiga.
-É, sempre no noite antes do aniversário dele e do meu.- falo sorrindo com as lembranças que vem a minha mente.
-Pena que será o último ano.- falou Katherine em tom sarcástico.
-Por que o ultimo?- questionei.
-Você acha que a esposa dele vai gostar de ele ir duas vezes por ano ao jardim passar uma noite com uma mulher? Pelo menos alguém que se valha não aceitaria.
Todas começaram a concordar e dar suas opiniões, eu apenas olhava para a pessoa que não tinha motivos para me odiar, eu sou irmã de Nicolas, não sou ameaça, ele que não se interessou por ela.
- Annabel, venha fazer suas mala, você vai para a casa da sua avó.- falou minha mãe entrando no meio da roda, o que gerou um silêncio
assombroso.
-Por que? O que eu vou fazer lá?
-O documento que a rainha informou naquela carta. Você parte amanhã de manhã e volta junto com a selecionada de nossa província.
-Mas mãe! Eu vou ser uma das criadas! Tenho que estar aqui quando as selecionadas chegarem!
- E estará, elas ainda terão uma dia até o salão antes de irem para os quarto, o tempo necessário para você se arrumar. Agora venha.
Eu me levanto, coloco a faça sobre o banquinho e caminho até meu quarto. Minha mãe pega uma de nossas malas e coloca sobre minha cama.
- Você vai ficar lá até o dia 27, quando as selecionadas irão vir para o castelo. Então acho que você deve levar 20 roupas, mas você ainda tem algumas na casa de sua avó então vamos pegar 10 vestidos e 5 conjuntos. Pega duas camisolas por favor?- falou começando a colocar os vestidos no fundo da mala.
-Mãe, posso fazer uma pergunta?- falei entregando a ela as camisolas.
-Sim filha, o que foi?- continuou arrumando a mala sem olhar para mim.
-Como você descobriu que estava apaixonada por papai?
Ela parou e me olhou, abismada com meu questionamento.
- Eu sabia que o amava quando sentia meu coração bater mais rápido só de ver seus olhos, sabia quando sonhava com ele, eu soube quando meu mundo podia estar desmoronando, mas eu sabia que se eu estivesse ao lado dele estaria bem. Por que a pergunta?
-As meninas que ficam pensando besteira! Elas acham que tem algo entre o Nicolas e eu!- falei incrédula pegando dois pares de sapatos.
-Filha, não me leve a mal, pode ser sincera, mas realmente não tem nada? Nunca aconteceu nada?
-Claro que não!- falei, assustada pelo fato de até minha mãe desconfiar de algo tão banal- Eu o considero um irmão!
-Eu seu filha, não precisa ficar brava, foi só uma pergunta. Mas ... Quem sabe um outro rapaz? Alguém já lhe chamou a atenção?- questionou com aquele olhar curioso.
-Não, nenhum, estou com medo de que só me reste o Alex!
Rimos juntas e voltamos a fazer a mala. Acabamos fazendo uma para minha irmã Arianne, que estava passando uma temporada com meus avós e iria voltar comigo.
Quando o relógio mostrava serem 20:00 eu peguei minha toalha, um vestido não muito diferente do que eu estava usando antes, mas agora esse era laranja, minha cor predileta. Tomo um banho rápido, deixando os cabelos molhados mesmo e correndo para o jardim. Tenho a sorte de não encontrar meu seguidor e adentro no jardim, indo até a fonte de sempre e vendo que não eram boatos. Nicolas está deitado sobre uma toalha e dessa vez não tem apenas alguns doces e um suco, ele fez um jantar completo. Risoto, frango, e uma panela cheia de chocolate, obviamente um fundi que será feito com as frutas que estão em uma prato ao seu lado.
-Não acredito que você mandou fazer tudo isso! Quem mais vem? Toda a nossa família?- brinquei, me sentado ao seu lado.
-Boa noite para a senhorita também!-falou me encarando, sorriso nos lábios.
- Boa noite seu bobo.- digo abraçando ele- É que eu estranhei o motivo de tanta comida, eu adorei, mas... Para que?
-Eu achei que seria legal fazer algo diferente, já que nos próximos anos talvez... Annabel, você está bem?- ele me olhou assustado, uma lágrima havia escapado.
-Não Nick, estou com medo! Medo de você me esquecer! Medo de que a sua esposa não goste de mim e te proíba de me ver, de fazermos o que estamos fazendo agora!- falei deixando escapar o que martelava minha cabeça desde a conversa com as meninas.
-Annabel, olha nos meus olhos.- eu o obedeci- Mesmo que minha esposa não queira que eu venha, mesmo que ela tente nos separar ela não vai conseguir, você é minha melhor amiga, você me conhece como ninguém, você é quem mais sabe as minhas manias, quem sabe quando estou triste, mesmo que não queira mostrar... Eu não vivo sem você, então ela terá de se acostumar com essa ideia, ou eu escolherei outra.
Suas palavras soaram como averdade mais clara, derramaram de sua boca como mel, eu queria acreditar nelas, mas algo insistia em temer o futuro, como uma sirene tocando, avisando "PERIGO A VISTA", tentei silencia-la naquele momento.
- Esta bem.- falei forçando um sorriso e olhando no fundo de seus olhos, vendo a mim mesma, uma menina de cabelos loiros revoltados, olhos chocolates e um semblante de incerteza, tentei esconder melhor esse último.
- Vamos comer agora, sua parte favorita não é?- brincou ele, pegando um prato e me servindo uma bela porção de risoto e uma parte do peito do frango.
Comemos em silêncio apenas olhando um para o outro, pensamentos guardados... Isso nunca acontecia, éramos o diário um do outro, mas de um tempo para cá ele estava me escondendo algo, algo sobre a Seleção.
Quando a tigela de chocolate finalmente acabou a lua estava exatamente no meio do céu, meia noite.
-Parabéns maninho, que você tenha um reinado de sucesso, que encontre uma esposa que lhe ame, que saiba ser aquilo que você necessita, e que essa noite se repita por muitos anos.- falei me aproximando mais dele e abraçando seu braço direito.
-Obrigada, que isso aconteça.- respondeu passando sua mão sobre meu ombro.
Ambos nos deitamos e fitamos o céu, nosso estrela brilhando como nunca.
- Amanhã vai ter uma edição especial do jornal, eu queria que você aparecesse.- ele falou calmamente.
-Ai Nicolas, eu adoraria, mas vou ter que ir para a casa da minha avó amanhã bem cedinho, para fazer o tal do novo documento que sua mãe falou.
-Quando você volta?- ele perguntou, mudando de posição para me olhar.
- Volto junto com as selecionadas, então já vou poder ficar de olho em quatro delas.- falei dando uma piscadela, ele riu.
- Vou ficar com saudade, o palácio vai ficar tão silencioso.
-Logo eu volto.
Ele voltou a posição de antes, mas a cabeça virada para mim, sua mão deu leve batidinhas em seu ombro, onde eu coloquei minha cabeça, e continuamos a olhar as estrelas, e eu acabei caindo no sono.

"Erros ortográficos são culpa de meu corretor drogado e a falta de tempo de eu revisar antes de postar"

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