19. Perda

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Maio, 2014

Nenhum tipo de perda é fácil; perder seu colar favorito numa festa te deixa chateado, perder o ônibus e chegar atrasado no trabalho te deixa puto, mas a pior perda é quando alguém que amamos muito se vai. E essa perda não te envolve, você não fez nada de errado pra que ela aconteça, é apenas parte da vida. Você podia evitar usar aquele colar na festa, podia evitar dormir além do horário e chegar atrasado no ponto de ônibus, mas você não pode evitar a morte do seu avô que já não estava muito bem.

Rafaella quis, mas não pode fazer nada quando sua mãe ligou do hospital avisando que seu Hercilio não estava bem. Na verdade os médicos estavam dando apenas mais algumas horas de vida pro senhor de 80 anos. A mineira foi, se despediu, disse tudo que queria dizer. Declarou todo seu amor pelo senhor que tinha se mudado pro Rio de Janeiro há apenas dois anos pra ficar mais perto da familia. Queria entender se a partida dele tinha qualquer coisa a ver com a mudança, ou com a bebida, ou com qualquer outra coisa não saudável que ele fazia. Só que não conseguia, só conseguia chorar.

Suas quatro amigas chegaram no hospital só alguns minutos depois de Manoela descobrir o que tinha acontecido. Rafa foi praticamente monossilábica ao contar onde estava e porque, mas isso já foi suficiente pra paulista juntar todas as meninas e ir até o hospital apoiar a mais velha.

"Rafa, meu amor, vai ficar tudo bem!" Marcela encorajou abraçando a mineira fortemente. Tentava transmitir qualquer sentimento de força pra mulher que precisava muito agora.

"Eu tô muito triste, Ma..." Confessou entre soluços.

O abraço de Marcela era reconfortante, assim como o das outras quatro meninas; Rafa ficaria bem com aquele apoio, mas precisava de mais, precisava dela em especial. Independente de qualquer coisa que aconteceu, dos erros de Bianca, era ela que Rafa precisava agora. Estava colocando seu orgulho e tristeza de lado pra ter a carioca por perto nesse momento tão difícil, e esperava que a mais nova fizesse o mesmo.

Rafaella pouco se importava, nesse momento, se Bianca tinha a deixado sozinha no quarto de hotel ano passado, ou se tinha simplesmente evitado qualquer tipo de contato por mensagem ou telefone, nada disso era relevante. De certa forma parecia que Rafa já tinha se acostumado com o coração partido, estava na fase de aceitação.

"Ma, você pode ligar pra Bia?" Pediu ainda agarrada ao pescoço da futura médica. "Diz que eu preciso muito dela aqui, diz que meu avô tá morrendo e eu só preciso do abraço dela..." Falou baixinho e chorando ainda mais. "Por favor diz pra ela vir, eu preciso, eu-

"Tá bom, Rafa, eu vou ligar pra ela agora." Assegurou passando as mãos no cabelo da mais velha com a intenção de acalma-la.

Marcela se desvencilhou da mineira, que logo se pendurou em Manoela pra continuar chorando. A estudante de medicina não queria ter que ligar pra Bianca, ainda mais pra pedir isso, sentia que Rafa estaria mostrando um sinal de fraqueza muito forte pra alguém que já tinha provado que não se importava. O ultimo acontecimento no hotel só provou que mesmo sendo 'famosa' e mais velha, Bianca Andrade continuava super imatura. Conseguia imaginar a frustração de Rafaella ao ser acordada por batidas na porta, completamente sozinha, e ainda sendo praticamente 'despejada' do quarto porque o horário do check-out já tinha passado. Porém, naquele momento, não era questão de fraqueza, era questão de confortar a mineira num momento horrível. Precisava fazer tudo e qulquer coisa pra que a amiga ficasse bem, mesmo que isso significasse ligar pra empresária e implorar que ela tomasse juízo e aparecesse no Rio.

Ao mesmo tempo que Marcela e Manoela queriam matar a empresária, elas também queriam sentar com ela e ter uma conversa muito madura sobre o que estava acontecendo. Precisavam entender porque Bianca decidiu simplesmente se afastar de todo mundo, sem mais nem menos.

End Game  |||  RABIAOnde histórias criam vida. Descubra agora