48. Calmaria

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Dezembro, 2021

Calmaria. A ausência ou cessação de ventos. Os ventos podem ser literais, como o evento natural de ventania, ou podem dar significado á alguma outra coisa. Num relacionamento, por exemplo, o vento pode ser um momento de desentendimento, de briga. No trabalho, o vento pode ser aquele fechamento de mês que requer alguns bons relatórios que demoram anos a serem completados. Na vida em geral, o vento pode significar alguns dias de infelicidade, ou dor.

A calmaria, por outro lado, é o que vem antes ou depois do vento. Antes ou depois do temporal. Antes ou depois do furacão. Antes ou depois, até mesmo, do tsunami. Sabe que antes de uma grande noite de tormentas, nós temos a calmaria, né? Aquele marasmo, clima quieto, as arvores não se mexem, e tudo parece tranquilo. Tudo isso pra, depois de algumas horas, sermos presenteados com uma tempestade cheia de ventos. E, normalmente depois que ela passa, quando tentamos reconstruir nossa vida, temos a calmaria... as vezes até parece que nada aconteceu! Até o tsunami, que não envolve ventos diretamente no cenário, tem a calmaria antes. Quando o mar recua e deixa tudo quieto. Após um tsunami somos presenteados com a mesma calmaria.

Você também tem medo do que a calmaria pode significar? Porque Rafaella estava morrendo de medo.

Desde que Bia e Rafa retornaram da Australia as coisas tem sido extremamente quietas. Calmas. Estavam vivendo em uma calmaria que até assustava, tudo estava perfeito, cor-de-rosa, um mundo sem problemas, mas simplesmente não parecia normal. Bom, pela primeira vez Rafa estava insegura no relacionamento. A insegurança originava não só da ausência completa de brigas e desentendimentos, mas também porque Bia estava um pouco mais 'alheia' do que o normal. Tudo bem que a carioca estava bem focada em colocar algumas ideias pra teste; estava tão decidida em fazer a sua estada no Rio vingar que teve que colocar todas as cabeças pra pensar. Agora tinha algumas estratégias e testaria todas elas pra ver qual geraria mais buzz.

Só que Bia também estava um pouco distante. Rafa sabia, internamente, que não era um problema grave, afinal não tinham problemas e as coisas não poderiam estar melhores, mas ainda assim se assustava um pouco com o que sentia. Por mais confuso que fosse. Sua namorada parecia extremamente pensativa, como se planejasse algo, ou tivesse cheia de duvidas; e isso a preocupava.

"Manuzinha, eu já falei p'rocê ficar tranquila que eu tô no Rio já!" Rafaella disse ao telefone enquanto destrancava a porta da própria casa.

"Tem certeza que não quer que eu volte? Porque, amiga, de São Paulo pro Rio é um pulo!" Manoela ofereceu um pouco preocupada com a amiga.

"Relaxa, tá tudo bem!"

"Então fica chato eu perguntar o que aconteceu? Você mal chegou em Goiânia e já voltou!" Perguntou curiosa.

Manoela estava em São Paulo para as comemorações de final de ano. A maior parte da familia da atriz residia na capital paulista, e por isso ela aceitou viajar até lá e fechar a MARS por alguns dias; isso porque Rafa também estaria em Goiânia, teoricamente.

A mineira deveria ter permanecido por lá até o dia vinte e oito de dezembro, mas logo após o natal desistiu retornar. Genilda conseguiu que Rodolffo estivesse no mesmo condomínio da chácara de sua avó, e isso já deixou Rafa irritada. Relatou tudo á Bianca e, estranhamente, a carioca não teve nem um comentário raivoso ou ciumento; simplesmente disse que confiava na administradora e é isso. Calma como uma represa. Aí alguns dias depois sua avó também começou a questionar seu relacionamento com Bianca, e Rafa tinha certeza que isso era obra de sua mãe. Enfim, se sentia tão desconfortável naquele ambiente que inventou uma reunião urgente pra escapar de lá.

O lado bom é que poderia voltar pros braços de Bianca.

"Minha mãe e as ideias sem noção dela, Manu... nunca vi alguém tão difícil de aceitar a felicidade alheia..." Suspirou alto largando a mala ao lado do sofá e caminhando pela casa. "Na verdade nem é alheia, é a felicidade da filha dela!" Completou incrédula com as atitudes de Genilda.

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