36. Ajuda

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Cuidado com a diabetes...

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Março, 2021.

Acho que muita gente aqui sabe como é difícil pedir ajuda as vezes né? Dependendo do assunto, principalmente os mais emocionais, fica bem complicado se abrir com alguém e dizer 'preciso de ajuda'. Se você já teve o prazer de fazer uma sessão de terapia, então sabe muito bem a sensação de alivio que você tem depois que ela acaba; depois que despejou todos seus sentimentos confusos e estranhos em uma pessoa praticamente desconhecida. Se essa pessoa que você nunca viu na vida também te dá alguns conselhos ou empurrõezinhos então... é quase como ganhar um prêmio! Vou ser sincera, já fiz algumas sessões de terapia pra aprender a lidar com todos os meus sentimentos. Durante um bom tempo era como se varias coisas dentro de mim se misturassem e criassem uma bomba relógio que podia explodir em qualquer lugar. Não tinha uma diferença entre o 'eu-pessoal' e o 'eu-trabalho'; as duas eram misturadas e uma verdadeira confusão.

E bom, Bianca tem alguns traços disso, mas ela simplesmente não descobriu ainda.

"Bom, Bianca, eu entendi completamente a sua história, mas a minha pergunta é porque mudar agora? Você parecia satisfeita antes... né?" Thelma, a terapeuta, perguntou atenciosa. Era a terceira sessão de terapia de Bianca; estava fazendo duas vezes por semana, no Rio de Janeiro mesmo. Thelma era extremamente gentil e nunca julgou a empresária de qualquer maneira, na verdade até falava palavras de conforto dizendo que entendia, que tudo era compreensível; aquilo estava, aos poucos, ajudando a carioca a lidar com os próprios pensamentos, especialmente porque contando sua história em voz alta, pra alguém leigo, deixava tudo mais claro.

"Eu não tava satisfeita, Thelminha, mas eu achava que estava." Corrigiu a especialista. "Sinceramente não sei que horas eu percebi... acho que a briga com a Marcela foi tipo crucial, sabe? Eu me sentia sozinha, e quando ela disse que as pessoas gostavam de mim porque não me conheciam...." Deixou no ar tentando controlar o impulso de derramar algumas lágrimas. Chorar um pouquinho já era completamente normal durante a terapia. "Eu olhei ao redor, e vi que era verdade! Quem me conhecia de verdade tava longe de mim... bem longe."

"Mas você também falou da sua amiga... Flay, né?"

"É, sim, só que ela me conheceu em São Paulo já, e só ficou sabendo de tudo isso há algumas semanas.... acho que se soubesse antes ela nem olharia na minha cara...."

"Porque você acha isso, Bianca? Ela parece ser bem fiel, até mesmo te recomendou aqui, né?" Thelma perguntou de forma carinhosa. A empresária parecia querer colocar-se pra baixo, mas a terapeuta estava decidida a ajuda-la nessa parte.

"É... pensando por esse lado..."

"Porque você acha que nunca dividiu com ela seus medos...? Digo... o passado."

"Vergonha!" Respondeu rapidamente sem duvida alguma. "Muita vergonha, Thelminha, vergonha porque, apesar de eu continuar fazendo merda atrás de merda, eu me sentia um pouco mal..." Suspirou alto olhando ao redor da sala. "Falando pra ti, assim aqui, parece muito fácil, mas ela me conhecia, entende? A gente trabalha juntas e aí se eu falasse isso eu tinha medo de... sei lá!"

"Medo disso atrapalhar em algo, né?" Tentou ajudar a carioca em descrever seus sentimentos.

"É! Isso! Era tudo que eu tinha, se virasse as costas pra mim aí sim..."

"Mas Bianca, ainda temos alguns minutos.... Como estão as coisas com a Rafaella?" Thelma questionou arrancando um sorriso bobo de Bianca.

A carioca tinha compartilhado absolutamente tudo com a terapeuta, exceto o beijo que trocou com Rafaella um dia antes de começar a terapia. Ela não estava propriamente escondendo aquela parte, mas entre tantos relatos, tantas histórias e sentimentos, a empresária sequer teve tempo de mencionar aquela parte.

End Game  |||  RABIAOnde histórias criam vida. Descubra agora