"Eu passei por uma porra de uma guerra mundial . Perdi um filho. Perdi dois maridos. Passei fome junto com um exército, fui espancada e ferida, fui tratada como se fosse inferior, fui traída, presa e atacada. E eu sobrevivi, porra! E agora devo ficar estraçalhada porque uns infelizes, uns patéticos arremedos de homens enfiaram seus pequenos apêndices imundos entre as minhas pernas e se remexeram? Bom, eu me recuso." - Claire Fraser.
Acho que quem acompanha as minhas resenhas já saiba que eu sou uma apaixonada por Outlander. Conheci a saga em 2008, espero ansiosa e até cansada pelo nono livro desde 2016 quando li o oitavo e com satisfação assisti ao primeiro episódio em setembro de 2014 quando a série estreou. Claire continua sendo a minha personagem preferida, assim como Jamie o meu personagem literário dos sonhos. Mas o amor atemporal de Jamie e Claire é o que me faz continuar apaixonada por Outlander mesmo depois de tantos anos.
Admiro a escrita da Diana Gabaldon, mas não concordo com o excesso de violência e principalmente de estupros. Entendo o contexto histórico, porém vejo uma fixação da autora no tema e não foi fácil ler o livro 06 e me deparar com o estupro de Claire. Eu até nutria alguma esperança de que a série não fosse tão fiel aos livros, afinal, já havia mudado alguns enredos... só que Never My Love veio para encerrar essa boa temporada e provar que em Outlander tem muita dor, violência e injustiça, mas principalmente o amor como cura.
Never My Love começou diferente de todos os episódios. O episódio anterior encerrou com o sequestro de Claire e com Jamie acendendo a cruz e convocando o seu povo. Neste episódio, as cenas que sempre mostram o que aconteceu antes e com as falas dos personagens, e, principalmente com a narração de Claire falando: "anteriormente em Outlander...", estavam mudas. As cenas passaram com um fundo instrumental e logo depois ouvimos os primeiros acordes de Never My Love da banda The Association da década de 1960. E enquanto ouvíamos a doce melodia víamos também uma bela casa com Claire vestida à moda dos anos 60, linda, porém triste e calada, sentada em um sofá enquanto via Jamie chegar. É então que percebemos que esse é um sonho ou uma fuga que Claire utiliza para fugir do terrível momento que ela enfrenta. O sonho sempre funcionou como uma válvula de escape dos nossos problemas, ansiedades, desejos do dia a dia e traumas. Sonhar sempre foi essencial ao ser humano, e, talvez esse distanciamento de Claire fosse a forma que ela encontrou para buscar a sua tábua de salvação.
A realidade de Claire é brutal e violenta. Ela tenta não demonstrar o seu medo e a sua fragilidade. Sabe que aqueles homens só querem dominá-la e ela sempre foi uma guerreira, por isso os enfrenta. Sabe que eles a temem e usa isso para sobreviver. Enquanto sofre humilhações, um espancamento brutal e depois o estupro. Ela se apega à sua tábua de salvação. A música toca e ela volta para o seu sonho, onde recebe em sua bela casa dos anos 60, os seus entes mais queridos. Vemos Murtagh vivo e feliz ao lado de Jocasta. O Jovem Ian ainda sendo um guerreiro nesse tempo e com o sorriso e olhar de menino de volta. Marsali apaixonada por Fergus que têm as duas mãos e continuam sendo o mesmo casal de coelhos. Todos estão felizes e Claire contempla tudo quieta e triste. Ela é confortada a todo momento por Jamie que é o único que não está vestido como os outros com roupas dos anos 60. Talvez porque ela saiba que Jamie é a sua única salvação e esperança naquele tempo tão violento e cruel. É ele quem a aquece e repete todas as declarações que ele falou para ela desde o primeiro momento em que a viu. Isso aquece o coração dela e não a deixa desistir, mesmo em meio a tanto sofrimento. Nessa casa do futuro há várias referências da vida de Claire, o vaso na sala dela e que faz com que nos recordemos do episódio piloto da primeira temporada onde Claire olha para um vaso na vitrine de uma loja e pensa que nunca teve aquele objeto porque jamais teve uma casa. O quadro que lembra a casa grande de Fraser's Ridge e até a laranja que ela trouxe depois da entrevista que teve com o Rei da França, ou estupro como gosto de chamar e tantas outras referências que citá-las deixaria ainda mais prolixo esse texto, e esse não é o meu objetivo. Mesmo que aquela casa no futuro aparente ser segura e repleta de felicidade, vemos que não é bem assim como depois fica provado quando Claire recebe a notícia dos policiais "Lionel Brown e Hodgepile" de que Brianna, Roger e o pequeno Jemmy morreram em um acidente de carro. Claire já havia perdido em um acidente de carro os pais e anos mais tarde Frank. Ou seja, não importa em que tempo vivemos, 1743, 1776, 1968 ou 2020, a violência, o preconceito, injustiça e o perigo sempre estarão presentes. Nunca ninguém estará totalmente a salvo. E Claire sente esse luto por Brianna, Roger e o seu neto porque ela os viu partir e acredita que nunca mais voltará a vê-los.
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Resenhas de Outlander
RomanceEducadora, apaixonada por livros, séries e filmes. Gostaria muito de encontrar um portal e assim poder viajar no tempo por diversos lugares e épocas. Como ainda não achei viajo através das histórias dos vários personagens que encontro nesse universo...