Sangue frio

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Acordo pela manhã do dia seguinte e sinto vontade de continuar dormindo por muito mais tempo, não estaou preparada para me despedir da minha prima. Meu corpo parece pesado e um gosto amargo preenche minha boca, não sinto desejo de chorar igual ontem e sim de esquecer tudo aquilo.

Meu quarto continua igual, mas a cama de Kauani estava vazia e ela nunca mais deitaria sobre aqueles lençóis novamente. Pensar nela dói, como se uma agulha perfurasse minha cabeça, essa devia ser a dor do luto.

A última vez que estive em um funeral foi da minha avó paterna, eu devia ter aproximadamente cinco anos e meu pai chorava muito, vê-lo daquela maneira me assustava um pouco, pois eu o via como uma figura forte e indestrutível.

Ainda estava com meu pijama âmbar quando ouço uma batida na porta e naquele momento já prevejo quem irá entrar, tia Lari, ultrapassa o portal e seus olhos bondosos pousam em mim com certo interesse e espanto.

— Deveria estar se vestindo para o velório de sua prima.

— Eu não quero ir...

— Hoje não é dia para rebeldia, Bella. – entreolha ela. – hoje é dia de todos nos despedirmos da Kauani.

Olho ela com apreensão, ela parece tão calma e dócil, como se fosse algo comum e rotineiro.

— Ela era minha sobrinha, assim como você; e eu a amava... – vejo tristeza em sua fala e embargação no seu tom.

— Me desculpe, não está sendo fácil... Eu não esperava que isso acontecesse, essas coisas... Por que isso está acontecendo em Sandpoint? – falo.

— Eu não sei o norte Idahoano já não é mais o mesmo de vinte anos atrás.

— Sábado irei fazer uma viagem para Moscow para avisar o pai da Kauani sobre a morte dela... A família Storimall irá vir no enterro hoje... Aposto que não conhece Guilherme, ele é um garoto gentil...

Caminho até o armário e abro uma caixa preta no qual ao abrir eu encontraria um vestido preto de mangas compridas no qual a saia alcançava o joelho. Sento-me em frente à penteadeira que ficava encostada em um canto do quarto, era branca, e continha duas gavetas laterias que acompanhavam-se de um espelho central de forma oval.

Tia Lari posiciona-se atrás de mim e com suas mãos carinhosas forma um coque apertado em meus cabelos loiros; penso nos Storimall, eram primos paternos de Kauani e Eduard, era composto por três membros, Carlos era o pai da família um homem alto com certos traços de nativos americano; Rose era a mãe e tinha incríveis cabelos negros ondulados que caiam sobre suas costas; e por fim Guilherme, um garoto franzino de cabelos castanhos como do pai e olhos claros. Todos vinham de Seattle e jantariam conosco nessa noite.

Lembro-me da noite passada e da reunião com Isadora Black na delegacia, no qual o enfermeiro me salvara de ser enviada a um reformatório. E por fim dispensada das acusações; mas Justine não deixara meus pensamentos com o seu jeito frio e rídiculo, queria poder xingá-la até sentir a minha língua sumir, mas eu não poderia, por respeito a Carol.

— Vamos? – pergunta tia Lari.

Concordo com um aceno e me leveanto, estava com um ar de formalidade quando me encaro no espelho, olho para o teto tentando encontrar pensamentos que me distraiam, mas não os acho, então pego uma bolsa tiracolo e caminho até a porta.

A igreja esgueirava-se por entre as árvores que preenchiam a praça principal da cidade, ao sul conseguia-se ver o lago Pend Oreille e ao leste as cadeias de montanhas Selkirk.

Adentro o ambiente e noto grandes colunas brancas que sustentavam o teto de mármore rodeado de desenhos de querubins voando por um céu azulado com nuvens desuniformes que enfeitavam a pintura. O local contava com varios bancos que eram de um marrom-escuro e todos eram invernizados e adequadamente organizados em direção ao altar, no qual continha uma mesa coberta por uma toalha branca e verde.

Cicatriz NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora