O céu sob o mar (Hyungnu)

Mudanças

Apesar de não saber o horário, arrisca dizer que ainda é cedo. Não há sinal do sol, mas a pouca iluminação é o bastante para conseguir ver uma bola de pêlos sobre a cama ao lado. Meliante dorme com o rosto felino escondido entre as patas, tranquilo a ponto de não gerar desconfianças da sua timidez com desconhecidos. De acordo com Hyungwon, ele começou a invadir a residência através da janela emperrada do banheiro, uma discreta maneira para não o ouvirem, apesar de já ter derrubado alguns produtos sem querer, assustando não apenas o dono como o próprio animal.

Além do gato, outra cena não passou despercebida. Ao decorrer da noite, Hyunwoo se virou de costas para o outro, permanecendo na mesma posição até acordar. A cena continuaria idêntica à qual dormiu se não possuísse um braço magro envolvendo sua cintura, tão leve a ponto de demorar a notar. 

Ele se virou a fim de ficar de frente para o garoto adormecido. Apesar de não conseguir ver os detalhes é possível ouvi-lo ressonando baixinho enquanto possui a lateral do rosto amassada pelo travesseiro. Ele parece calmo e seu tronco se move à medida que o oxigênio invade os pulmões.

Por fim, Hyunwoo decide preparar o café. Em todas as manhãs foi o outro que se dispôs a acordar cedo e cozinhar. Sendo assim, não é uma má ideia retribuir o gesto.

Ele pegou suavemente o braço alheio e se esforçou para afastá-lo sem gerar suspeitas. Decidiu não comentar sobre o assunto para evitar a vergonha futura no garoto.

Quando conseguiu levantar, o gato adormecido também se moveu. Imaginou que ele fosse fugir pela janela porém, Meliante caminhou até o armário e se dispôs a miar.

A fim de impedir que Hyungwon desperte, ele pegou os óculos na cômoda e correu ao seu alcance. Há duas tigelas vazias sob o móvel, que jurou não ter visto antes, porém decidiu repor o alimento e a água, resolvendo o problema inicial.

Hyunwoo optou por apenas fazer o café — com medo de soar invasivo caso cozinhe outra coisa — e não demorou até encontrar todos os produtos necessários. Antes de pensar em acordar Hyungwon seus ouvidos captaram sons preguiçosos vindo do garoto sentado na cama.

— Bom dia! — chamou a atenção dele. Ele possui o cabelo amassado para o lado esquerdo e seu rosto está coberto por linhas idênticas à textura do travesseiro. — O café está quase pronto.

— Vamos fazer panquecas? — ele se levanta e por causa da rapidez acabou perdendo o equilíbrio.

— Você está bem? — Hyunwoo se aproxima por instinto, vendo o garoto se levantar novamente.

— Sim, você viu meus óculos por aí? Eu não lembro onde coloquei.

— Em cima da cômoda.

Ele agradece, se aproximando do local.

— Bom dia! — Hyungwon deseja após colocar os óculos, erguendo um sorriso. — Vamos fazer panquecas?

— Tudo bem.

As panquecas adoçaram a manhã dos dois e o plano de sair continuou em pé. Por não possuir outras roupas além dos trajes que veio, não houve demora para se arrumar. A jaqueta escura é revestida por duas camadas de tecido, grossos o bastante para aguentar o frio do lado de fora. Apesar da calça jeans ser normal, não costuma se incomodar com o vento naquela região, seu ponto fraco se localiza no tronco e cabeça. Ele seguiu o conselho de Minhyuk e colocou a touca antiga para lavar, felizmente a sua atual, por ser grande, protege bem as orelhas.

Diferente dele, Hyungwon permaneceu dentro do banheiro por cerca de vinte minutos com a porta trancada. Mas quando saiu, seus trajes eram perfeitos para enfrentar as baixas temperaturas. Ainda que vista uma calça jeans clara, a parte superior do seu corpo continua bem protegida por uma blusa de gola alta sob o casaco felpudo.