Retorno

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A sensação de queimar por dentro interrompe o filme reproduzido em sua mente durante o sono. Hyunwoo acorda e no mesmo instante se assusta com dois olhos amarelos brilhantes o encarando há centímetros do seu rosto. Há um gato preto sentado no colchão, imóvel a ponto de ser possível compará-lo a uma estátua egípcia. Ele ergue o tronco e se arrepende pelo gesto intensificar a sensibilidade em seu estômago.

— Bom dia — Hyungwon, que até então estava na cozinha, se aproxima em passos curtos — Vejo que conheceu o meliante.

— Me assustei com ele, mas é um belo gato. — admite ao levantar. O bichano correu apressado, saindo pela primeira janela que encontra aberta. — E tímido.

— Você está bem? — o garoto parece ter notado sua expressão de dor.

— Azia, uma forte azia. — esclareceu — Preciso me arrumar, tenho muito trabalho hoje.

— Não vou deixar você ir embora assim. — ele adverte e se afasta — Descanse um pouco, vou ferver água e preparo um chá.

Hyunwoo quis impedi-lo, porém não teve chances de recusar. Então decide voltar para a cama, por mais que a ação não altere o desconforto.

Ele aguardou longos minutos sentado até o garoto voltar com uma xícara do mesmo tom das paredes, decorada com uma flor clara no centro.

— Você parece gostar de verde. — agradeceu, sentindo o aroma em seguida. O cheiro forte não lhe é familiar e a cor alaranjada possui pouca saturação.

— Sim, mas recebi esse presente da minha tia quando me mudei para cá. — Hyungwon senta ao seu lado — Aliás, é chá de gengibre. A raiz contém antioxidantes e alivia a inflamação do esôfago, espero que funcione.

— É forte, mas gostoso. — opina após bebericar o líquido — Você costuma beber com frequência?

Hyunwoo sabe a razão do mal-estar, ele não está acostumado a ingerir alimentos gordurosos em excesso e a azia é consequência de ter passado dois dias consecutivos na base de doces e salgados.

— Minha mãe costumava me dar junto com suco de frutas por causa do sabor, ele é beneficente para crianças e eu vivia resfriado.

— Ela parece ter cuidado bem de você.

— O bastante para eu saber cuidar dos outros da mesma forma.

Ambos se mantiveram em silêncio. O chá aos poucos amenizou as contrações em seu estômago, afirmando que remédios caseiros são de grande ajuda em momentos repentinos como aquele.

Hyungwon levanta indo até a cômoda, ele retira uma camisa preta junto ao moletom da mesma tonalidade, se direcionando até o banheiro. Enquanto isso, Hyunwoo observa os móveis ao seu redor, ele gostou do lugar e sentirá saudades. Por mais que estivesse receoso no começo, ao decorrer das horas se soltou bastante e arrisca dizer que conseguiu relaxar o suficiente para ter um retorno tranquilo.

Trinta minutos se passaram, Hyunwoo começou a trocar de roupas e vestiu os trajes dos quais veio. Por mais que compartilhem o mesmo número, nada é melhor do que usar as próprias coisas. A xícara vazia foi lavada e devolvida ao armário, notou de imediato as outras cinco do conjunto, idênticas, mas de cores diversas.

— Eu preciso ir. — avisa, colocando a jaqueta. Ele enfia a touca dentro do bolso superior para pegá-la com facilidade caso o frio do lado de fora aumente. 

— Eu te levo.

— Não se incomode com isso, é melhor ficar no aconchego da sua casa.

— São quase três horas de viagem, você pode passar mal no caminho.

O céu sob o mar (Hyungnu)Onde histórias criam vida. Descubra agora