- Eu te amo, Jungkook. - senti o vento leve soprar em meu rosto com os olhos fechados aproveitando a atmosfera calma e o barulho vindo da água do pequeno riacho em que estávamos, quando ouvi a voz dele sussurrar em meu ouvido.
Hyunjin, o nome de meu primeiro amor. Eu o amava e ele amava a mim.
Vivíamos nos declarando um para o outro em nosso lugar secreto onde nos encontramos para ter um momento a sós. E assim eram minhas horas de liberdade, nadavamos e passávamos a tarde andando bem afastados da cidade fofoqueira. Ele era muito mais do que eu merecia, sempre foi.
Por que a verdade é que eu sou uma verdadeira farsa.
Eu sou Jeon Jungkook, filho único do chefe de polícia mais admirado daquela cidade pequena e mesquinha, onde as pessoas viviam pela vida alheia e falavam o que não deviam. O menino de ouro, motivo de orgulho, de bom porte físico atleta e com as melhores notas. Aquele tipo de garoto que vai a igreja aos domingos.
Eu gostava da igreja, porque era curioso e ansiava saber sobre o Deus que enfim nos criou. Sou grato por todas as coisas boas que ele me proporcionou, não pensem que fui hipocrita. Mas de uns tempos para cá, venho vivendo em um piloto automático desde que comecei a ter sentimentos por uma pessoa do mesmo sexo que o meu. Entendam, quando menino, novo demais para entender qualquer coisa, acreditava nas palavras do meu pai:
"Lembre-se, Jungkook um homem de verdade não chora. Não chora nunca. Engula seu choro e revida quando baterem em você!" Um homem de verdade não chora, ele dizia.
"Jungkook, não use essa camisa rosa. Não sei o que deu na cabeça de sua mãe de comprar essa camisa." Qual o problema de usar aquela cor? O que tem demais em uma cor, papai?
"Um homem de verdade não penteia o cabelo dessa maneira, está querendo apanhar na rua?" Porque eu apanharia?
Cresci ouvindo as palavras de meu pai, duvidando de tudo e de todas as coisas, mas jamais ousaria discordar do meu pai apesar de querer conhecer o que estava além das coisas que meu pai e igreja diziam, eu queria mais. Mas preferia a morte do que decepcionar minha família, queria ser o filho que minha mãe sempre quis, queria ser o orgulho do meu pai.
Mamãe sempre foi atenciosa e doce. Lembro-me do gosto dos bolos que ela fazia no final da tarde e de como era bom conversar com ela, a única que gostava de conversar comigo e parecia realmente me entender. Ela fazia questão de ir em minhas apresentações da escola, me ajudava com o dever de casa, perguntava como tinha sido meu dia e se eu estava bem.
Quando fiz onze anos, meu pai me ensinou a atirar, me levou para andar na viatura da polícia e deixou que eu brincasse lá dentro. Ele disse que um dia eu seria um policial, igual a ele e eu queria isso. Também gostávamos de futebol, ele meio que me obrigou a começar a treinar mas eu fui levando jeito pra coisa. Eu e meu pai tínhamos nos aproximado de uma maneira saudável fazendo coisas de pai e filho, e isso era bom, eu acho.
Com doze anos, mamãe nos deixou. Talvez se soubesse das coisas que realmente aconteciam naquela casa não teria fechado meus olhos e a julgado tanto. Eu era uma criança ingênua e não via o que estava na minha frente, todos aqueles hematomas, barulhos na cozinha altas horas da madrugada, blusas de manga compridas e de gola alta no verão, ela estava pedindo socorro, sempre esteve e eu não a escutei. Acho que no fundo eu sabia só não queria enxergar que meu herói era um monstro.
Lembro-me da carta que mamãe havia deixado para mim em minha cabeceira antes de partir naquela madrugada, quando meu pai dormia em um sono tão pesado quanto a consciência de minha mãe quando se foi.
"Seja forte, obedeça seu pai. Não o questione, faça o que ele disser e ele não lhe fará mal. Eu te amo muito, meu menino de ouro."
O menino de ouro agora estava sem a sua mãe. A mulher que me ensinou as coisas mais delicadas, como tratar uma mulher, como ser educado e dizer "muito obrigado" "por favor" "disponha". Mas mamãe chorava muito, papai dizia que era coisa de mulher, eu não sou uma mulher então não devo chorar. Eu não sabia o porque de mamãe chorar tanto, não sabia. Eu era novo e não sabia de nada.
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OTHER MAN [SHORT FIC JIKOOK]
Fanficonde Jimin era "a outra" de Jeon Jungkook. jimin bottom • jungkook tops • +18 fic baseada na música other woman da Lana del Rey. by: hobibraxo