Mason

DOIS

Nasci e cresci em Virgínia, em uma parte quase esquecida dos Estados Unidos. Desde o primeiro ultrassom, minha família toda esperava pelo lindo menino que estava prestes a nascer; não foi o que aconteceu, como vocês já devem ter percebido. Lindas mantas e roupas, enxovais feitos dedicamente para o pequeno Mason foram feitos durante todos os nove meses de gestação. Se eu tivesse consciência na época em que saí da minha mãe naquele exato momento na mesa de parto, provavelmente estaria xingando-a assim que a mesma - como meu pai, as enfermeiras e o obstreta - viram com uma péssima reação que o bebê Mason na verdade era a garotinha com o nome de menino, já decidido há tempos.
Acho que desde que me entendo por gente, achei que minha vida seria perfeita; mas me toquei que nem eu era perfeita. Cinema era a minha paixão desde os doze anos, assim como escrever. Meus pais pareciam felizes com suas duas filhas perfeitas, e éramos apenas uma família comum do subúrbio. Tudo mudou no meu último ano na escola. Um dia antes da minha formatura, depois de vários problemas seguidos no trabalho, meu pai decidiu encher a cara e dirigir logo depois em uma das rodovias mais movimentadas da cidade.
De acordo com a polícia, ele perdeu o controle do automóvel, entrou na contramão, bateu em uns dois carros seguidos e foi praticamente amassado por um terceiro que chegou logo atrás. Recebemos a notícia na manhã do dia da minha formatura. Lembro-me de não chorar, diferente de minha mãe e minha irmã, Jaz. Não que eu não estivesse triste, porque estava sim. Na verdade, aquele havia sido o pior dia da pior semana da minha vida, principalmente pelo fato de que meu pai e eu não tínhamos uma perfeita relação Pai-&-Filha como muitas pessoas que eu conhecia tinham.
Eu fui ao baile de formatura, na esperança de esquecer tudo, com meu até então, namorado Nick. Havíamos começado o "relacionamento" - se é que eu posso chamar disso - há uma semana, e honestamente, eu nem sabia como tinha feito aquilo comigo mesma. Fomos para a casa dele depois do baile e... Aconteceu o que aconteceu. E foi a pior coisa que aconteceu na minha vida. Antes de ir para casa, eu disse que tudo acabara; nosso namoro de uma semana acabara. Uns quatro dias depois, tivemos que correr para o hospital, pois Jaz estava com fortes dores na barriga. Foi quando descobriram o câncer. O câncer no estômago.
Ouvir aquilo foi como ser apunhalada bem no fundo do meu coração com uma uma grande faca. A partir de todos esse acontecimentos que eu achei a minha escapatória daquela minha vida. Daquela cidade. Descobrir que eu havia sido aceita na Universidade de Princeton foi praticamente minha salvação e minha forma de recomeçar.

* * *

Após um longo dia de gravação, teríamos um dia de folga. Mas, é claro que eu havia esquecido da tal festa em comemoração ao décimo quinto episódio. E quando eu digo festa, significa todo o pessoal do elenco e da equipe técnica - resumidamente, todo mundo - tomando um bar escolhido por Stevie Moon, para beber até não aguentar mais e ouvir algumas músicas antes que o lugar feche de vez. E foi exatamente assim.
Nem todos quiseram ir ao bar, pois aproveitaram a noite de folga com a família ou só ficar em casa mesmo. Seria o tipo de coisa que eu faria se não forçasse a mim mesma a fazer algo diferente do meu dia a dia, e eu devia ter feito, porque aquela noite estava sendo a mais sem graça da minha vida adulta.

- Eu estou tão cansada. - sai do meu transe e ouvi a voz fraca de Morgan.
Estávamos sentados em uma das mesas do bar, longe do pessoal realmente importante e sua bagunça. Morgan apoiou a cabeça no ombro de Luke, o cara da mixagem de som e outras coisas que nunca soube ao certo para que serviam na série.
Sentei de frente para os dois.

- Por que estamos aqui mesmo? - perguntei, enquanto olhava fixamente para o meu copo pequeno cheio de uísque com gelo.
Uma mulher estranha cantava extremamente mal no karaokê, com certeza irritando todos os presentes, mesmo que ninguém estivesse prestando muita atenção no seu showzinho irritante.