VINTE E UM

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Filhos. O que são filhos? Descendente de determinados casal; mas é claro que você sabe, até porque é um. Nunca entendi o conceito de ter um filho, porque fica difícil quando você interroga sua própria existência; também nunca entendi o motivo de pessoas terem tantos, já que são quase impecílios em suas vidas. Não vou enrolar, irei direto ao ponto. Quando estava naquele banheiro, nos fundos da loja em que chegara em alguns longos minutos atrás, senti meu coração parar por um segundo, por mais estranho e mentiroso que isso pareça. Aconteceu, sim. Minhas mãos ficaram mais trêmulas do que antes com o resultado obtido do pequeno objeto que nelas estavam, o qual eu simplesmente queria destruí-lo ou queimá-lo, seja como for. Positivo. Posivito. Positivo.
Não era aquilo que eu queria, nem em um milhão de anos. Não queria ser uma daquelas mães que tiveram o filho por um pequeno incidente inesperado e não perceptível com a merda de preservativo, com um cara que ela nem sabe se ama ou não, e que grita com a criança no meio de um shopping chamando a atenção das pessoas ao redor de uma forma bizarra. Minha vida estava finalmente perfeita, o tempo de medo, tristeza e incertezas havia passado e simplesmente a coisa mais inesperada e destruidora da minha vida acontece. Merda. Merda.

- Merda... - exclamei alto, ainda no banheiro, sem tirar os olhos o teste.
Dei um leve soco na parede, ignorando minha vontade de chorar. Não era hora daquilo.

- Ei, está tudo bem aí dentro? - Ouvi a voz da balconista gótica vinda do lado de fora.
Controlei meus sentimentos de raiva e um leve enjoo que já estava começando a me irritar e saí do banheiro. Lidei com o olhar meio decepcionado de F. Turner quando estendi o teste positivo à garota. Que ótimo, a primeria pessoa a saber FOI UMA DESCONHECIDA.
- Se quiser matar isso antes de se tornar grande, posso lhe vender uma coisinha que tenho lá atrás no estoque.

- O quê?! - perguntei, prestando atenção na coisa grotesca que ela havia dito.
Eu não queria simplesmente matar a coisa dentro de mim. Quero dizer, há quanto tempo ela existe? Uma semana? Sua existência não era sua culpa. Na verdade, eu nem sabia de quem era a culpa. - Não, eu... eu preciso ir. Valeu por isso.
Atravessei a porta que dava devolta à frente da loja e saí. Não pensei direito no que fazer depois daquilo.


Com o fim de semana chegando ao fim, nós três voltamos para Nova Jersey e eu - como ótima e assustada pessoa - não comentei nada com ninguém até que Carly e eu chegássemos na nossa casa. É claro que eu sabia que, como melhor amiga e alma gêmea de uma vida toda, ela entenderia meu lado medroso em relação ao caso, vulgo pior pesadelo da minha vida. Geralmente, não curtia quando ela estava certa sobre alguma coisa grande como ess, pois isso sempre caía sobre mim de uma forma irritante.
Na segunda, um dia depois de chegarmos de Virgínia, após um longo período de trabalho e gravações de Blue Eyes com Stevie Moon e o resto da equipe - sem dizer nada à Harry, é claro - contei à minha melhor amiga. Foi dramático, triste, meio horripilante e alegre ao mesmo tempo. Um milhão de pensamentos sobre bebês rodaram a minha cabeça desde o momento em que tive a certeza do que havia acontecido, mas contar para a minha pessoa mais próxima, definitivamente era diferente. Eu poderia assustá-la com qualquer pensamento obscuro alto que eu falasse por falar e era justamente isso que me assustava: a reação pretensiosa das pessoas; como eu poderia me tornar "a idiota conhecida das pessoas que engravidou sem querer e perceber.
Acho que todos os pensamentos negativos da munha avô em relação à mim agora faziam sentido. Talvez, eu realmente fosse a idiota inútil da família.

- Precisa falar com o Harry! Essa "coisa" não é apenas pessoal, sabia? Você não fez isso sozinha - Carly, que praticamente pirou assim que contei sobre o que aconteceu e disse "eu te avisei", falou.

- Eu não sei como fazer isso, não sei como ele vai reagir. Acho que funcionaria melhor se a gente fosse um casal de verdade, se estivéssemos apaixonados e todas essas merdas sobre uma família linda e perfeita - retruquei, abraçada no travesseiro da minha cama.
Minha amiga andava para lá e para cá, pensativa, quase criando um buraco no chão.

- Não importa como ele vai reagir. Se for um completo idiota, que se dane! Eu posso me casar com você e criar esse bebê como se fosse meu - brincou ela, na tentativa de me fazer rir, mas isso não aconteceu.
- É sério, Mason, quer que eu ligue para ele vir aqui?

- Eu não sei. - Minha voz fraca, fez com que Carly me olhasse de um jeito preocupada.
Até que fazia sentido e seria menos doloroso assim. - Sim.

- Tudo bem. Mais alguma coisa?

- Pudim de chocolate - falei, assim que a vi pegar o telefone.
Carly revirou os olhos, enquanto eu ri, pela primeira vez em algum tempo.
Quase uma hora depois, Harry chegou no nosso apartamento. Eu ainda estava deitada na minha cama, pensando em tudo que eu iria dizer; me liguei em como o possível erro que gerou isso tudo poderia ter ocorrido ali, bem na minha cama. Oh, meu Deus.
Harry bateu na porta do meu quarto e entrou após e confirmar. Apenas aa luzes do meu abajur localizado perto da cama estava acesa, garantindo um clima ainda mais deprimente. Me ajeitei melhor na cama, com a cabeça sobre meu travisseiro; pedi que Andrews deitasse ao meu lado. Claramente, dava para ver que ele estava confuso e preocupado ao me ver naquele estado.

- Carly me ligou. O que está acontecendo, Cooper? - perguntou, baixo.
Ficamos, juntos, olhando para um ponto quanlquer no teto, deitados sobre meu edredom cheio de desenhos e símbolos hippie, dado de presente pelos pais de Carly - não que isso importasse naquele momento. - Você estava tão estranha hoje no set, até com Moon.

- Aconteceu uma coisa.
Falar ou não falar de imediato? Como ele vai reagir? Que merda tá acontecendo? Como chegamos a esse ponto?

- O quê? - repetiu, permitindo meu silêncio medroso novamente.

- Eu não quero parecer uma piranha ridícula e nem quero fazer você perder tempo, vou ser direta... Eu estou grávida. - Foi assim que aconteceu. Rápido, mas nem tanto, naquele quarto mal iluminado e confuso, com minha voz rouca e calma que disse as palavras que nunca pensei dizer.
Harry permaneceu em silêncio. Bufou, passou os dedos levemente sobre os olhos fechados e arrumou o cabelo para trás, enquanto eu observava cada movimento seu. Não sabia o que ele estava pensando, mas eu queria saber. Droga, como eu queria saber!
-No que está pensando?

- Eu não sei, só queria entender como isso aconteceu.

- As coisas não são 100% resolvidas e confiáveis - eu disse, segurando sua mão que estava perto da minha.
Lembrei de repente da época em que achava que o odiava mais do que tudo na minha vida.

- O que vamos fazer? Morar juntos... Ou qualquer coisa parecida?

- Não, não. Vamos, cada um, tocar as nossas vidas como antes. Nada muda. Não pode muda - falei. - Eu só quero uma coisa agora.

- O quê? - questionou, após um tempo.
Harry parecia chateado com as minhas palavras; tentou disfarçar, mas eu acabei percebendo. Talvez estivesse triste com toda a situação e não conseguira dizer; não sei de mais nada.

- Que você fique aqui, comigo por um tempo e depois... Vá embora - conclui.
Andrews aceitou e continuou ali, ao meu lado, por quase uma hora inteira. Foi um dos momentos difíceis e esquisitos que já tivemos juntos. De inimigos colegas de trabalho à pais de um bebê que acabara de ser descoberto. Quando a minha vida se tornou tão confusa?!


*  *  *

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