ONZE

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Um leve sorriso sem jeito, porque não sabia o que pensar. Fiquei séria novamente e com falta de ar; minha cabeça estava girando um pouco por conta das bebidas. Me levantei e sai andando rapidamente entre todas aquelas pessoas animadas e bem mais altas que eu e bem mais bêbadas também, e percebi que Harry me seguiu. Não tinha mais fila do lado de fora da boate e a rua estava totalmente deserta, já que deveriam ser mais de onze da noite.
Não sabia ao certo o que estava sentindo naquele momento; andando pelo longo caminho até onde minha mãe estacionara o carro, não exitei em parar mesmo ouvindo Harry me chamando várias e várias vezes, até que senti uma mão puxando meu braço de repente.

- Me deixa em paz!
Harry recuou, criando um espaço entre nós dois assim que me virei.

- Qual é a sua, hein? Por que está fazendo todo esse drama? - ele perguntou. - Eu disse a verdade. Não é isso que você queria?

- Eu não posso fazer isso - falei, passando os dedos em meus cabelos, enquanto o arrumava para trás.
Sério, eu estava com muita falta de ar.

- O quê? Eu sei que tudo isso é algo idiota, constrangedor e esquisito vindo da minha parte por conta de tudo que faço, mas é a verdade. A gente se acostumou com a ideia de implicar um com o outro; viajamos para cá juntos e eu descobri mais sobre você. Descobri você é mais do que uma maníaca viciada no seu trabalho, que têm uma vida com suas partes tristes. É disso que eu gosto em você. Há muito tempo, Cooper!

- Você não sabe tudo sobre mim - rebati, ainda mais alto. - Eu não sou boa com essas coisas. Não consigo sentir o mesmo que os outros sentem e acabo magoando todo mundo. Por mais que eu queira que você seja exterminado do planeta todos os dias, não quero que se magoe por minha causa.
Harry ficou em silêncio.

- Jaz me contou o que aconteceu com você. Contou sobre Nick - falou.
Agora, mais do que nunca eu quis que não existir naquele segundo. Queria que um raio me atingisse bem ali naquele momento, para não ter que ouvir aquele nome de novo na minha vida.

- Eu não acredito. Mais que merda! - gritei.
Senti uma grande vontade de chorar, mas não consegui e Harry acabou se aproximando mais.

- Não precisa perder o controle comigo. Você não vai perder. As coisas podem acontecer do jeito que quiser, e não estou pedindo pra sentir o mesmo, só que entenda e não finja que nada aconteceu. Somos adultos e não dependemos da permissão de ninguém para vivermos nossas vidas - ele disse, baixo.
Eu fiquei quieta e abaixei minha cabeça. Não estava me sentindo mais tão mal, embora não soubesse o que fazer a seguir. Minha vontade de chorar permaneceu, e por uma loucura inesperada acabei abraçando Harry. Ele não disse mais nada e apenas apertou meus ombros, enquanto eu sentia o bater de seu coração durante nosso abraço.
Assim que me afastei, comecei a olhar fixamente para o seu rosto e então, o beijei. Parece a maior loucura do momento, diante de tudo que eu acabar de dizer sobre não sentir nada em relação à ele, mas aconteceu.

*  *  *

- Podia ter me dito para onde você fugiu. Jenny me forçou a dançar com as drag queens quase a noite toda, enquanto a mamãe ficou bebendo com uma mulher desconhecida - disse Jaz, remexendo sua salada com o garfo.
Olhei para Jenny, que estava esperando seu pedido no balcão da lanchonete que havíamos ido na tarde do dia seguinte da nossa ida à boate. Eu estava tentando agir normalmente. Basicamente, como se não tivesse feito a maior loucura da minha vida beijando Harry na noite anterior, e sendo uma ótima irmã mais velha.

- Eu vi que você estava se divertindo bastante. Fiquei feliz por isso - comentei, sorrindo.

- Estou tentando aproveitar meus possíveis últimos dias de vida. Na verdade, até que eu não estou pensando muito na morte ultimamente.

- Isso é ótimo. Até porque, você ainda viver bastante, Jasmine.
Ela riu, e Jenny voltou à mesa com seu hambúrguer e milkshake de morango. As duas estavam sentadas nos assentos a minha frente.

- Do que estão falando? - perguntou minha meia-irmã, logo após tomar um gole de de seu milkshake.

- Sobre como Jaz nunca vai morrer - brinquei.
Vi a garota balançando a cabeça negativamente.

- Hum... Cadê o Harry? Pensei que ele viria conosco hoje.

- Está com a Amy, mas acho que já vai chegar. Agora que são amiguinhos não se desgrudam mais - eu disse, percebendo que as duas olharam para a para a entrada atrás de mim, embora longe de nós, me fazendo virar para olhar também.

-  E a gente fala da pessoa e ela aparece - disse Jenny.
Harry empurrou a porta da entrada e entrou. Ao finalmente nos achar no meio da lanchonete cheia, ele veio até nossa mesa; e olha que maravilha: se sentou ao meu lado (imagine eu dizendo isso em um tom irônico, ok?)

- Boa tarde, moças! Me desculpe o atraso; estava ajudando a Amy com algumas coisas. Uh, batatas! - ele disse, animado, pegando algumas fritas de Jenny.

- Ei, qual é? - a garota reclamou na mesma hora.

- Desde quando você ajuda a minha mãe?

- Bem, Jaz, desde quando eu descobri que ela é maravilhosa e foi super legal me convidando para a festinha de ontem, que por a caso, foi incrível - falou.
Senti a indireta de sua parte, mesmo não tendo dito uma sequer palavra dirigida à ele. O engraçado, era que nem parecia que o mesmo havia sido super clichê na noite passada, se declarando pra mim, e acabara voltando a ser o mesmo Harry convencido de sempre.

- Percebi que vocês sumiram por tempo ontem. O que aconteceu? Foram ver quem se matava primeiro no meio da rua? - perguntou Jenny.
Harry e eu nos entreolhamos.

- Só... Conversamos. Brigamos um pouco, sabe? - falei.
Jaz e Jenny ficaram nos olhamos estranho; droga, esqueci que Jaz sabia quando eu estava mentindo. Coisa de irmã. Alguns minutos depois - minutos de longas conversas sobre coisas super aleatórias - juntei o dinheiro de cada um e fui até o balcão pagar, enquanto Jaz e Jenny esperavam no lado de fora.

- Por que mentiu sobre o que aconteceu ontem à noite? - Harry perguntou, assim que atravessou o braço no meu ombro esquerdo.
Estava esperando que o cara do balcão aparecesse com meu troco.

- Porque nada aconteceu - respondi, tirando o braço de Harry do meu ombro. - E mesmo se tivesse acontecido, as duas lá fora não poderiam saber de nada.

- Psicologia reversa? Gostei. Então, vamos esconder nosso relacionamento para o mundo?

- Não temos um relacionamento, Andrews - eu disse, pegando o dinheiro do cara do balcão, que agradeceu pela nossa presença após surgir novamente.
Saímos ao mesmo tempo, procurando Jaz e Jenny pelo estacionamento.

- Então, não é um problema se eu contar à sua irmã que nos beijamos?
Parei de caminhar, e Harry se chocou contra as minhas costas, pois andava muito perto de mim. Me virei rapidamente.

- Será que você parar de falar? - sussurrei, impedindo que ele se aproximasse mais de mim. - Olha só, a gente pode até ter alguma coisa, mas não chame de relacionamento e muito menos fale disso por aí, tá legal?

- Ótimo. Obrigado por admitir que temos algo - Harry disse por fim.
Revirei os olhos e fui até minhas irmãs, que avistei sentadas perto de uma árvore no fim do estacionamento.


*  *  *

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