I Castiel: Nao pode ser verdade...

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As coisas com os Winchesters andam melhores do que eu poderia prever. Ou quase. O que importa é que Sam e Dean estão... Como Sam disse mesmo?... Estão de boa comigo outra vez, e estamos novamente nas estradas atrás de coisas para matar. — Sei que anjos não deveriam pensar assim, mas estou feliz em estar no meio deles, me sinto em uma família. — Embora nem tudo seja flores. Já fiz muitas "burradas" como Dean sempre me diz, mas as consertei, ao menos boa parte delas. — Nada pode nos impedir de sempre consertar mais alguma, é o que fazemos de melhor.

Enquanto eu devaneio aqui no branco de trás do Impala. Perdido em meus pensamentos como sempre, gosto de observar as coisas acontecendo à minha volta.

Dean está dirigindo seu Impala 1967, sempre sarcástico e com seu cheiro de cerveja saindo pelos poros. Sam no banco do passageiro se perdendo em meio às informações, folheando livros, jornais e um celular com internet, tudo ao mesmo tempo, não entendo como ele consegue. E a paisagem flui calma e verdejante.

— E como está indo à pesquisa, Sammy? — Dean disse, abaixando um pouco o rádio do carro que tocava a música predileta dele, Eye Of The Tiger -Survivor. Não me pergunte como sei o nome da música, apenas sei. Convivência talvez? Pode ser.

— Até agora, tudo indica ser um fantasma vingativo ou um poltergeist.Disse Sam em fim, levando os olhos esverdeados para a pista.

— Adoro um Poltergeist, são todos tão... Emocionantes. — Até mesmo eu pude perceber o sarcasmo reinar nessa frase de Dean Winchester, estou começando a entender melhor como funciona isso. — E aí Castiel, o que acha?

Vai ser divertido, como correr de um guepardo. — eu disse com um meio sorriso.

— Esse é meu garoto! — Dean disse sorrindo.

É satisfatório ver ele feliz! Me sinto bem ao ver um sorriso naquele rosto que vi sofrer no inferno.

Mais ou menos 1 hora ou quase 2 depois, eu acho, paramos em um hotel, Ramos De Espadas, nome um tanto peculiar, não acha?

— Até que, em fim, eu estava começando a ficar com fome. — Brinquei.

Sam saiu ao relento e logo retornou. Com um dos cartões falsos em mão, anunciou:

— Só consegui alugar um quarto com duas camas de casais! Esse motel¹ não é lá muita coisa! — Sam disse como se fosse "se quiser, podemos procurar outro."

— O merda — Dean se frustrou.

— Tudo bem! Eu não preciso dormir mesmo! Podem ficar com as camas. — Me prontifiquei, aqueles dois precisavam descansar em uma cama urgente, a última vez que dormiram foi aos bancos, nada confortáveis, desse carro.

Os dois se entreolham, Sam ameaçou dizer algo, mas fechou a boca logo em seguida.

— É... Cass, tem certeza? — O Winchester mais velho soltou como se já soubesse a resposta certa!

— Sim, por quê? — perguntei, o que eu perdi aqui?

— Bom... quantas horas de viagem você acha que levamos para chegar até aqui? — disse o mais novo, me olhando com um certo receio nos olhos.

— Mais ou menos uma hora... Eu acho, talvez duas. — Por algum motivo, me senti perdido, isso é estranho e constrangedor.

— Não, Cass, foram quatro horas, quatro horas e meia, talvez mais, nós viemos de uma ponta a outra do país praticamente, e você dormiu quase a viagem inteira. — Pensei que Dean estava brincando comigo, cheguei a soltar um som esganiçado pela garganta, mas não parecia brincadeira.

— Não... Isso não pode ser verdade, claro que não, anjos não precisam dormir.

— Por algum motivo, você estava.

Minha cara de espanto deve ter sido ilaria. Dean arqueou as sobrancelhas e Sam entortou a boca.

— Você mesmo nos disse estar com fome, agora mesmo. — Sam rebateu. — Pensei que anjos também não precisavam comer.

— E não precisamos, eu só estava... — Um som estranho, como um ronco, saiu do meu estômago — brincando.

— Cass, você está virando humano? — Dean perguntou, quase berrando.

Não o respondi, também estava tentando intender o que estava acontecendo, revirando minha memória atrás de alguma possível resposta mais plausível.

Tentei sair voado dali, mas não conseguia, nem ao menos eu podia sentir minhas asas, como isso era possível?

Tem algo errado... — chiei.

Algo estranho aconteceu, eu senti medo e, ao mesmo tempo, o sangue fugiu do meu rosto, meu rosto não, de minha casca, isso são sentimentos ruins, já li alguns livros humanos que relatavam sentimos assim, que pensei nunca sentir antes.

— Tudo bem! Cass, vamos dar um jeito. Sempre damos um jeito, lembra? — Ao falar isso, Dean se aproximou e colocou a mão em meu ombro.

Um arrepiou me subiu a espinha até a nuca, me fazendo olhar direto nos olhos dele, naqueles olhos verdes que me fitavam profundamente. Pude sentir o sangue me voltar ao rosto, agora mais intensamente, fazendo minhas bochechas queimarem, mais sensações humanas que eu só conhecia devido aos livros.

Isso tudo era tão estranho. Será que já é a minha — engoli em seco — HUMANIDADE?

Deus, ao criar os anjos para ajudá-lo a cuidar dos afazeres, se certificou de que os anjos fossem criaturas completas. Que podiam, sim, ter sentimentos humanos, para dividirmos esses sentimentos com os humanos para podermos intender como tudo isso funciona, mas também nos deu a capacidade de não usarmos. Com o tempo esses sentimentos foram se perdendo, já não podendo mais ser acessados, mas dormir e comer nunca fizeram parte desse pacote de humanidade pré-estabelecida. Estou muito intrigado com isso... Tem algo a mais acontecendo.

¹ — Nos Estados Unidos, os motéis têm uma proposta diferente em comparação com os motéis brasileiros. Nos EUA, os motéis são frequentemente usados para estadias curtas, como pernoites durante viagens rodoviárias. São convenientes para viajantes que desejam descansar e continuar sua jornada.

Eu odeio tudo sobre vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora