VII Castiel: Não é mais, apenas uma casca.

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Acordei me sentindo tão bem, saudável e... bem.

Assim que abro os olhos, a primeira coisa que vejo é Gabriel me olhando do pé da cama.

— Bom dia, bela adormecida!

— Bom dia, Gabriel!

Procuro por Dean e Sam pelo quarto, mas estávamos a sós.

— Sam e Dean saíram não faz muito tempo. — Acho que ele percebeu que eu estava à procura dos irmãos.

— Para onde eles foram?

— Eles ainda acham que não estamos bem, então foram resolver o Poltergeist sem você. — Foi isso que eu temia?

Pera aí. "Ainda acham que não estamos bem?" Isso significa que:

— Acabou? A maldição acabou?

— Me diz você!

Saio da cama e me espreguiço, ao mesmo tempo, sinto minhas asas esticarem, cada pena, cada centímetros dela, eu podia sentir outra vez, é tão bom senti-las novamente.

— E quando foi que a maldição acabou?

— Um pouco antes de você e Dean irem para Impala! — Ele ficou me fitando, parecia apenas querer respostas, mas sei que não é só isso.

Minha respiração parou, até meu coração — se não for exagero — parou por meio segundo e assim que voltou, voltou com tudo, fazendo meu rosto corar, o ar pareceu que pesou, ficando impossível de obtê-lo, e palavra nenhuma me vinha na cabeça para dizer algo em minha defesa.

Ai, que me veio à mente, o problema em si não é ele ter descoberto, é o que eu fiz, tive vontades, desejos e dormi, quando, na verdade, era para eu ter me tornado um anjo, o que foi que deu de errado?

— Castiel, Castiel. O que foi que você fez? A sua, "Humanidade" te prendeu, de uma tal forma que... pobre Castiel! — Gabriel estava com pena de mim, ou isso é sarcasmo? Não sei, estou tão nervoso, não consigo decifrar.

Mas ao encarar seu rosto percebi que realmente havia algo de errado, nem mesmo seu rotineiro sorriso malandro estava ali.

— Então, o que eu sou? Um anjo caído, eu achei que já fosse um.

— Não, Castiel, anjos caídos, não se lembram de quem eram ou já foram. Você é uma espécie de Nefilim Subdesenvolvido, como se essa sua casca fosse parte de você agora.

Comecei a me lembrar da conversa que tive com Jimmy assim que chegamos nesse quarto:

Há dois dias:

Assim que entramos naquele quarto, cheirando a mofo, fui até a janela, ver se pelo menos a vista tinha algo bom.

Pela janela tinha a vista de um jardim não muito distante e... Jimmy? Está me chamando?

Parece que ele está incomodado, vou conversar com ele. Entrei no espaço em que Jimmy estava. Um lugar a salvo no interior de seu corpo, uma espécie de cofre para almas, feita da mais pura luz.

— Está tudo bem, Jimmy?

Me apresentei a ele em minha forma humana, ou seja, ele mesmo, parecia sermos irmãos gêmeos, tento uma conversa. Ele usava uma blusa de lã verde-escura e eu um sobretudo.

Ele me olhava profundamente, a tristeza estava estampada em seu rosto.

— Castiel, eu... Não quero mais ficar aqui!

— Como assim?

— Eu quero te perguntar se, tem alguma forma de... Eu poder descansar em paz, já viajei muito com você, vi e ouvi coisas que outros humanos jamais poderiam ficar sabendo. Eu gostaria de me aposentar. — Pude ver em sua memória alguns minutos que passamos no purgatório.

— Quer que eu encontre outra casca?

— Não! Só se esse realmente for o único jeito. Por que: Voltar à minha família eu não posso mais, então eu pensei em... Morrer, ficar em meio às minhas lembranças no céu. Eu aceito deixar esse corpo e entregar a você, se quiser.

— Tem certeza? — Me senti mal por ele.
Todos os humanos merecem paz e um belo descanso no final. E se continuar comigo, é capaz dele nem ter um final.
Ele não me respondeu, ficou perdido entre decisões, repeti a pergunta:
— Tem certeza de que é realmente isso que quer?

— Tenho Castiel! O que me resta agora nesse mundo? Apenas esse corpo. E só, não tenho mais nada aqui!

Culpa, culpa, é minha culpa, fui eu quem o fez passar por isso.

— Tudo bem. Vou resolver... — Invoquei, falando em Enoquiano um ceifeiro, que em pouco tempo surgiu ao meu lado.

— Do que precisa Castiel? — Aparentava ser um velho de terno preto, pele enrugada e pálida, olhos profundos e sombrios!

— Quero que leve uma alma, que merece descanso. — Apontei para Jimmy, que começou a chorar, um choro de alívio.

A figura velha e pálida se virou para Jimmy e incrédulo voltou a me olhar, descrente do que eu pedia.

— Mas... Não é a alma de sua casca? Eu não sei se posso. Nem conheço os efeitos colaterais que podem surgir.

— Eu me responsabilizo por qualquer coisa que aconteça. Apenas dê o descanso merecido.

O ceifeiro se rendeu, mas não tirou a expressão de preocupação de seu rosto.

— Obrigado, Castiel. — Jimmy se aproximou do ceifeiro, com um sorriso tímido, limpando uma lagrima que restava.

O velho lhe ofereceu um dos braços, e ele aceitou, resultando no desaparecimento dos dois em uma luz azulada. Jimmy está livre agora.

Comecei a sentir meu corpo inteiro queimar e, depois de um tempo, era como se aquela casca fizesse parte de mim.

Voltei a ver o jardim da janela, agora iluminado parcialmente pelo brilho prata da lua.

Que cheiro ruim é esse, espera... Está vindo de mim?...

Agora

— Ei, ei, to aqui! — disse Gabriel, passando a mão na frente do meu rosto, me tirando do trance.

Lhe contei afoito, lhe contei até demais tudo que estava vivendo e sentindo e não entendo o que se passava. Desabafei feito um estouro de manado.

Ele ficou andando de um canto a outro, como se algo o assustasse.

Percebi que meu sobretudo estava dobrado sobre a cama, limpo e seco, pequei e o vesti, era tão bom ter aquele peso nas minhas costas outra vez, quase como uma capa protetora. Me voltei a Gabriel, que agora me fuzilava com o olhar em silêncio. Deu as costas e disse:

— Pelo menos você tem coragem, Castiel... Coragem de fazer as suas escolhas... quero ser como você quando crescer... — ouvi seu bater de asas, e ele sumiu.

O que ele quis dizer?

Eu odeio tudo sobre vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora