Imagem escolhida por Izabel Nunes
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Izabel continuava olhando hipnotizada para aquela taça de vinho. Sua vontade era virá-la de uma vez na boca, fazendo com que sua embriaguez enfim lhe fizesse parar de pensar, de lembrar, de escutar as vozes obscuras que insistiam que ela cometesse o maior dos pecados. Era nesses momentos que a mulher pensava ter encontrado a solução dos seus problemas, pois nem mesmo a linda visão da paisagem, da praia, da areia, de todo aquele lugar maravilhoso conseguia fazê-la esquecer.
As imagens, lembranças, dor, lágrimas, tudo insistia em voltar. Sem contar na reviravolta que sua vida deu desde que tudo aconteceu. A perda doeu, ainda dói, porém mais que isso, também trouxe o fim de uma das suas maiores paixões, sua profissão.
Com quarenta anos, no auge da vida profissional, perdeu sua esposa, aposentou-se mais cedo do que queria e a vontade de viver simplesmente desapareceu, a única pessoa que ainda lhe trazia alguma luz era "ela". Amanda era sua vida, seu único e eterno motivo para não acabar com aquele sofrimento de uma vez. E como sempre acontece, ela sorri, pois lá vem sua paixão correndo na areia, sorridente.
Mesmo com apenas cinco anos, a garotinha entendeu a morte da outra mãe, ainda acreditando na velha história de "virar estrelinha", mas só Izabel sabe como é doloroso contar isso toda noite antes de dormir. Era tão complicado que a solução foi contratar uma babá. Não apenas pela situação, mas porque ela mesma se recuperava do acidente. Mesmo depois de onze meses ainda mancava consideravelmente depois de várias cirurgias na perna direita com o objetivo de não perder o membro, deu certo, mas isso resultou em várias sessões dolorosas de fisioterapia e um grande pedaço de ferro com vários parafusos. Era feio e incômodo, por isso resolveu se excluir um pouco da vida social.
Assim que começou a usar as muletas, já aposentada contra a sua vontade, pois adorava exercer sua profissão, adorava ser juíza, fazer a Lei valer, a justiça prevalecer, mesmo sendo educadamente obrigada a deixar tudo isso, mudou-se para sua casa de praia. Gosta do lugar, é calmo, bonito, relaxante, mas ainda assim sente falta da cidade, da agitação, da adrenalina de estar frente a frente com o criminoso, encarar seus olhos e ter certeza da sua culpa ou inocência. Ainda que a corrupção no meio tenha tentado várias vezes pegá-la. Não pode dizer que é santa e cem por cento honesta, mas com certeza não se compara a vários funcionários da justiça que estavam naquele lugar apenas pelo dinheiro.
— Mamãe, olha o que a tia Vanessa pegou para mim? _ A menininha que acabara de perder um dos dentes da frente, mostrando no sorriso a brecha que ele deixava, mostra a concha que a babá encontrou na praia. — Ela é linda, mamãe.
— É sim, meu amor. _ Mesmo não querendo ser daquele jeito, Izabel lança um olhar duro para a morena, que deixa o sorriso sumir.
— Vou... Vou para dentro de casa, se precisar de algo é só chamar, senhora. Amanda, você precisa tomar banho.
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CONTEXTUALIZANDO
Short StoryEssa é uma coletânea em comemoração aos 2 anos do grupo "Contextualizando". Como uma forma de homenagear as meninas que estiveram comigo nesse tempo me dando força e apoio, me impus esse desafio. Onde elas escolhiam uma imagem, e a partir dela eu es...