Capítulo 26

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Capítulo 26

Eu estava atrasado para voltar à estrada porque, por algum milagre, eu consegui dormir um pouco. O sono veio somente quando o sol estava espreitando através das minhas cortinas, então ainda era uma droga, mas era algo. Eu peguei alguma coisa para comer, mas não estava bem, e eu tive que manter o ar condicionado ligado com as janelas abertas para lidar com a náusea e a febre. Não foi tão ruim quanto naquela noite, mas eu ainda estava infeliz. Claro que o ritual tinha que acontecer logo depois que eu comecei a apresentar esse efeito colateral bizarro ao soro, pelo menos é isso que acredito estar acontecendo. Eu estava começando a odiar a lua cheia e toda a tradição e superstição que girava em torno dela.

A rodoviária estava lotada com as saídas da tarde no momento em que eu cheguei, e eu só podia esperar que, se algum dos lobos tivesse escolhido verificar o terminal em vez do aeroporto onde eu tinha uma passagem comprada para despistar; me notassem no guichê. Apenas no caso, eu tenho outras seis passagens para destinos muito diferentes, na esperança de que, pelo menos, possam atrasá-los.

Subi no ônibus e encontrei uma fileira de assentos que estavam desocupados, verificando meu número sentei. Era um daqueles ônibus leitos onde o banco virava uma cama. Tinha até rádio e televisão onde passava um filme escolhido pela companhia.

A exaustão que eu teria apreciado na noite anterior me atingiu de repente e adormeci reclinando minha poltrona-cama. Era bom não ser um daqueles convencionais com lugares apertados um do lado do outro. Além de me sentir como uma merda, eu não estava com vontade de falar. Inferno, eu provavelmente teria atirado em quem viesse atrás de mim sem um pensamento culpado se eu não tivesse abandonado minhas armas no meu carro.

O barulho das rodas freando quando o ônibus parou no terminal desconhecido me acordou e eu verifiquei meu telefone para descobrir que todas as três horas da viagem haviam passado. Eu perdi o sinal em algum momento durante a viagem. Maravilhoso. Mas a placa lá fora dizia que eu tinha chegado à Votuporanga, e estava quase escuro, então eu tinha outras coisas para me preocupar por agora.

Finalmente. Tinha acabado. Estebán realmente deve ter manipulado, porque isso foi muito mais fácil do que eu pensava. Não que eu estivesse reclamando.

Eu saí com o resto dos passageiros e percebi que eu realmente me sentia fora do lugar em um mar de humanos. Talvez eu nunca seria um dos lobos, mas eu mudei o suficiente no meu tempo com eles que eu me senti mais em casa no bando do que fora dele.

Com o tempo, eu esperava que Zeca se sentisse do mesmo jeito.

Quando atravessei a multidão murmurante esperando para o embarque noturno ou encontrar com seus entes queridos, resisti à vontade de parar em um dos quiosques do terminal. Eu estava morrendo de fome, mas eu ainda tinha que encontrar Pablo. Eu achava que ele estaria na estação, mas não havia sinal do homem alto através dos viajantes embaralhados.

Talvez eu tenha tido tempo para pegar um salgado depois de tudo. Eu comecei a ir em direção a um promissor carrinho de cachorro quente quando notei um telefone público e percebi que havia uma tentação maior do que um pedaço de carne gorduroso. Eu disse a mim mesmo que não ia realmente fazer a ligação. Eles devem ter monitorado Estebán, e eu tinha certeza de que eles ainda estavam. Qualquer tentativa de contato poderia comprometer tudo, mas eu poderia pelo menos ligar para Zeca. Ele não fazia parte disso, e Estebán não teria contato com ele.

Guardei o celular e verifiquei meus bolsos. Claro, a única coisa que Estebán não tinha arrumado para mim foi minha carteira.

- Aqui. Deixe-me ajudá-lo.

A voz profunda e acentuada de um homem encheu meus ouvidos como fumaça de incenso, suave, rica e sedutora. O sotaque era mais sutil, mais suave, mas ainda assim, daquele sotaque do interior. Eu me virei para me encontrar face a face com um homem loiro que parecia ter a idade de Pablo, se não um pouco mais jovem, embora ele fosse bem mais musculoso e tivesse a aparência de um soldado. Ele teria sido uma competição decente com Estebán em uma luta, todo o resto igual, mas seus olhos cinza claros estavam cheios de diversão.

Morda-me - Lobos de São Paulo #1 (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora