Surpresa

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"A consciência é uma pequena lanterna que a solidão
acende à noite."
Madame de Staël


Chego no internato e vou direto para o meu quarto, não sem antes receber um olhar surpreso do recepcionista e do porteiro, já que eu deveria estar a pelo menos uns duzentos quilômetros de distância nesse exato momento.

Coloco a chave na fechadura e abro a porta, respirando aliviada. Esse aqui é o meu lar no final das contas.

Tomo um banho demorado e depois de colocar um pijama confortável, caio na cama pegando no sono quase que imediatamente. 

Estava tão cansada que sequer sonhei. Quando abri olhos, já tinha amanhecido.

Pego meu celular e olho as horas, me surpreendendo por ser quase meio dia. 

Droga! 

Me levanto em um pulo e corro para o banheiro, tirando a roupa no caminho, quase caindo no processo. 

Tomo um banho rápido, escovo os dentes e depois de vestir uma roupa qualquer, desço até o hall, já ligando para um táxi. 

Penso em levar algo para almoçar, mas não sei se o garoto já pode comer então desisto. 

O recepcionista tenta falar algo, porém nem o escuto, apenas balanço a mão sinalizando que na volta conversamos. 

Olho para frente novamente e dou de cara com o garoto passando pela porta, munido de muletas, uma pequena sacola com o que imagino serem suas roupas e acompanhado por um homem bem alto, vestido com um terno e um quepe.

O garoto se detém e me lança um olhar arregalado. Devo ter a mesma expressão, pois o homem de terno acaba soltando uma risadinha. 

— Por acaso está me seguindo? - O garoto pergunta indignado.

— Claro que não! - Respondo na defensiva e ele levanta uma sobrancelha.

— O que faz aqui então? - Continua ainda desconfiado. 

— Eu moro aqui, oras! - Coloco as mãos na cintura e o observo com a cara fechada.

— Se mora aqui, como nunca te vi? 

— Talvez pelo fato de o colégio ser enorme e existirem dormitórios separados para cada gênero? Acaso você conhece todos os estudantes desse lugar? - Debocho e ele fica visivelmente irritado.

— Não foi isso que quis dizer… agora se me der licença. - Começa a caminhar com certa dificuldade e nego com a cabeça.

— Espera! - Corro até ficar do seu lado. O garoto continua caminhando sem me dar bola.
— Como você se sente hoje? - Pergunto com medo da resposta.

— Como se tivesse sido atropelado. - Resmunga, quase chegando no elevador. 

— Ei! Não precisa responder assim, só quero saber se está melhor e… me desculpar. - Solto nervosa. 

— Ok. 

— Ok? É só isso? 

— O que você quer que eu diga, garota? Obrigado por se preocupar depois de quase me matar? - Me diz quase gritando e dou um passo para trás, como se tivesse de fato recebido um tapa. 

— E-eu… sinto muito, só queria que soubesse que não fiz por querer, eu não te vi, estava chovendo muito forte. - Começo a me afastar, quando sinto longos dedos segurando meu braço.

— Olha, eu sei que não fez por querer, mas não espere que eu lhe traga flores por isso. Além do mais, meu corpo inteiro está doendo e o único que quero é descansar…

Everything Happens on SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora