Mudança de Planos

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"Uma alma antes ferida,
nunca mostra suas fraquezas."

Vários minutos se passam, e continuamos em silêncio. Lucas escreve algo no seu celular enquanto eu tento me controlar para não gritar de nervoso. 

Eu nunca havia ficado sozinha tanto tempo com um garoto dentro de um quarto, nem mesmo com Caleb. O máximo que fazíamos era ver um filme e depois cada um ia para o seu quarto. 

Mas Lucas me deixa nervosa. Não sei o que acontece comigo, jamais havia sentido isso com ninguém. 

A ansiedade começa a tomar conta do meu corpo e sem perceber, minha perna chacoalha incessantemente.

— Tudo bem com a sua perna? - Lucas pergunta sem nem tirar os olhos do telefone.
Engulo seco antes de pensar em uma resposta.

— E-eu fiquei com câimbra… - Não tinha algo mais inteligente para se dizer Allison? Câimbra? 

— Percebi. 

Bufo com o deboche e o encaro com a sobrancelha levantada. 

— Você é sempre assim? - Quando percebi, as palavras já tinham escapado pela minha boca.

— Assim como? - O garoto tem a cara de pau de se fazer de desentendido.

— Irritante, rabugento, debochado… - Solto sem pensar.

— Só quando me atropelam. - Responde descontente e se empertiga na cama, fazendo uma careta de dor. 

— Olha, já pedi desculpas e disse que não foi por querer! - Exclamo me aproximando dele o ajudando a se sentar. — Além do mais, o que fazia na rua debaixo daquele temporal? Você não escutou o carro vindo? Porque eu juro que não te vi… - Continuo e ganho uma careta como resposta. — Melhor? Sente alguma dor? - Pergunto genuinamente preocupada.

— Pra começo de conversa, eu estava apenas correndo, gosto de me exercitar debaixo da chuva. E sim, meu corpo inteiro dói e essa porcaria parece que está começando a descolar. - Aponta para o enorme curativo na costela.

— Droga, está mesmo. Você tem kit de primeiros socorros? - Vou até o banheiro e lavo minhas mãos, enquanto espero por sua resposta. 

— Paul comprou tudo o que for preciso, está na sacola do lado da porta. - Aponta e sem pensar duas vezes, rasgo o plástico branco e dou de cara com as roupas que ele usava quando o atropelei, toda ensanguentadas. Um frio percorre minha espinha e começo a tremer. E se ele não tivesse apenas quebrado a perna, e se eu o tivesse…

— Se demorar eu espero. - Sua voz rouca me traz de volta para a realidade e pego a outra sacola com gaze, soro, remédios e todo o resto. 

— Olha, não vou mentir, vai doer. Além do mais, eu nunca fiz um curativo em ninguém, então…

— Só me ajude a trocar essa porcaria. 

— Ok. Vamos lá. - Sussurro e respiro fundo.

Tiro os esparadrapos e a gaze lentamente, me surpreendendo com o tamanho da ferida que lhe causei. Uma lágrima silenciosa escapa pela minha bochecha, e o arrependimento me invade. Rezo para que ele esteja com os olhos fechados e não veja o quão idiota eu sou.

Primeiro limpo ao redor com um pouco de spray antisséptico e sinto seu corpo se retesar de dor. Me desculpo um milhão de vezes, mas acho que a dor é tanta que ele não deve nem estar escutando. 

Passo uma pomada para limpar o machucado e cicatrizar e finalmente coloco outra gaze, respirando aliviada por haver terminado. O garoto está de olhos fechados e não diz absolutamente nada. Chego até a pensar que ele desmaiou. 

— Lucas? Está tudo bem? - Pequenas gotas de suor escorrem pela sua testa e levanto minha mão para ver se ele está com febre, mas antes mesmo que possa tocá-lo, seus dedos envolvem meu punho e me detém com certa força. 

— Estou bem, você pode ir agora. - Solta com a voz rouca e me sinto rejeitada, apesar de não fazer nenhum sentido. 

— E-eu fiz algo de errado? - Como se não bastasse, me humilho um pouco mais. 

— Só, vai embora por favor. - Ressopra e saio do quarto praticamente correndo, sem entender absolutamente nada.

Corro até meu próprio quarto e ao entrar me jogo na cama e começo a chorar sem saber exatamente o porquê. 

Acabo pegando no sono e acordo horas depois com o barulho irritante do meu celular tocando. 

Me levanto rapidamente e procuro o maldito aparelho. 

Quando finalmente o encontro, faço uma careta ao ver a foto da minha mãe na tela. 

Droga. 

Debato comigo mesma se devo atender ou não, até que decido deslizar o botão verde para evitar mais problemas. 

— Você deveria ter chegado há duas horas, Allison! Me diga agora onde está e porquê não está aqui na minha casa! - Hellen grita, sem nem querer saber se estou bem. 

Respiro fundo e organizo as palavras na minha cabeça antes de responder.

— Eu não pude ir porque sofri um acidente. - Digo e espero pela resposta. O outro lado da linha fica em silêncio por alguns minutos e quando penso que talvez ela possa ter desmaiado, o sermão começa outra vez. 

— Você sofreu o que? Eu sabia que não era uma boa ideia dar aquele carro para você… espero que não fique caro o conserto menina, senão vou diminuir da sua pensão! - Exclama e mais uma vez me pego chorando ao perceber que eles realmente não ligam para mim. Se preocupam por um maldito carro, mas não por sua filha.

— Olha Hellen, estou cansada, não se preocupem que o carro está bem, eu acabei atropelando um garoto que coincidentemente estuda no internato, então resolvi que vou ficar aqui para ajudá-lo, já que ele quebrou a perna e não tem ninguém aqui. Além do mais, foi minha culpa ele estar nesse estado, então envie minhas sinceras desculpas ao primo não sei das quantas, já que não poderei comparecer no seu maldito casamento! - Acabo gritando e sem esperar por resposta, desligo o telefone. 

Sei que ela vai ligar de novo, não porquê ficará preocupada, e sim para exigir uma desculpa, mas não estou nem aí. Tenho uma grana guardada (que seria para a viagem com Caleb), então posso usar esse dinheiro para comprar coisas que precise durante as férias de verão. Prefiro passar esses dias com um garoto que mal conheço, rabugento e irritante, do que viajar tanto para ficar perto de pessoas falsas como as da minha família. 

Respiro fundo e decido que quero dar uma caminhada para tentar me distrair um pouco. Ao abrir a janela, percebo que já está ficando de noite e me pergunto se Lucas também dormiu nesse meio tempo. Será que ele está com fome? Talvez esteja sentindo dor. Seria bom dar uma passada no seu quarto para ver como ele está. 

Começo a me dirigir até a ala masculina, no entanto, a memória de Lucas me pedindo pra sair do seu quarto me invade e acabo desistindo. 

Vou até o pátio e coloco meu fone de ouvidos em uma tentativa frustrada de aproveitar o clima fresco antes que o verão comece de verdade.

Acabo me sentindo tão culpada, que quando percebo, já estou indo em direção ao quarto do garoto problema. 

Como estão meus amorecos?
Capítulo fresquinho pra vcs! Espero que vocês gostem, e não se esqueçam de comentar e deixar sua estrelinha, assim vou saber se estão gostando (ou não kkkk)
É isso, uma ótima quinta feira a todos!
Bjinhoooooossss BF ❤️

Everything Happens on SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora