Jennifer pov
E ali estava eu no meio da rua a olhar para o rapaz da padaria que olhava para mim um pouco confuso. E, talvez, assustado.
—Preciso de um gelado de baunilha, por favor. É uma emergência!
Ele limitou-se a responder muito sério.
—Fechamos às cinco e meia, menina.
Ele tentou fechar a porta, mas eu pus-me à frente dele.
—Por favor! É um caso de vida ou morte!
Acho que ele pensou "ok, esta miúda é doida".
Em poucas palavras, a minha pessoa estava a fazer trabalho de baby-sitter para pagar as propinas do curso de jornalismo e tinha uma criança à minha guarda que estava a fazer birra porque não queria ir para casa a menos que eu fosse comprar um gelado de baunilha.
E lá estava eu, com um miúdo atrás das minhas pernas e eu a olhar embaraçada para o rapaz da padaria.
Ele destrancou a porta , suspirou e mandou-nos entrar.
— Não costumo fazer coisas destas, mas é uma emergência, certo? —ele deu-me um pequeno sorriso e piscou-me o olho. Eu dei um pequeno riso e acenei com a cabeça enquanto ele abria um balde de gelado da arca frigorífica. Por algum motivo, queria enterrar-me num buraco, aquele miúdo era um inferno.
Eu não conhecia aquele rapaz, devia trabalhar lá há pouco tempo. Normalmente era a Lucy ou a Hannah (ou a Ruby, mas era mais raro) ajudarem-me com estes problemas barulhentos de meio metro.
—Trabalhas aqui à pouco tempo, não é?
Ele esqueceu-se por alguns segundos que eu existia até ouvir a minha voz, parecia perdido nos pensamentos ou algo do género... Estava ocupado a tentar abrir a caixa do gelado.
—Dá assim tanto para perceber?
— Bem, sim — encolhi os ombros.— Essas abrem-se de lado, por baixo da pega.
Ele agradeceu-me, estava um pouco nervoso e eu ajudei-o com aquilo. O Rúben estava perdido nos doces que ainda estavam nas caixas.
—Chamo-me Vic.
— Egi.
Se ele ia usar uma alcunha eu também tinha direito. Ia para me apertar a mão, mas acabou por me dar dois beijos na cara. Era simpático.
—Obrigado, Egi. Eu acho que é melhor afastares o teu filho daquilo, é a cortadora do pão.
—Ruben!
Larguei a caixa de gelado num sítio qualquer e agarrei no miúdo para o afastar daquela arma mortífera. Raio do miúdo! Ele podia, pelo menos, afastar as mãos desastradas dele de objetos que lhe podiam amputar um membro do corpo, mas nem isso! Trouxe o miúdo até à caixa de gelado e fi-lo sentar em cima de uma caixa, encostado à arca frigorífica.
—Vê se não tentas arrancar um braço ou algo do género, ok? Os teus pais não iam gostar nada de te ver incompleto— fiz uma festa no cabelo dele e ele reclamou. Típico. Eu não me ia zangar com um miúdo de seis anos que me estava a pagar os estudos, salvo seja.
— Os pais dele?
Levantei-me, já me estavam a doer os joelhos..
—Sou a baby-sitter e esta é a minha peste de estimação, o Ruben.
O Ruben ficou todo ofendido, tão ofendido como um miúdo de seis anos pode ficar. E depois voltou para as caixas de doces a tentar roubá-los sem nós vermos.
—Pensavas que eu era a mãe dele?—ri-me e ele não me respondeu. Estava um bocado embaraçado com aquilo.
—Bem, sim...— ele coçou a nuca e acabámos a rir no meio da pastelaria que já devia estar fechada à mais de um quarto de hora.
O riso dele era bonito, agradável, acolhedor. E o sorriso dele era tudo isso ao mesmo tempo.
(Nota mental: ir mais vezes à padaria.)
— Então, o gelado está pronto — ele tinha um cone na mão e deu-mo, estava um pouco imperfeito, mas era gelado, certo? Eu chamei o Ruben e ele apareceu. O miúdo lambia os beiços enquanto eu e o Vic ficámos a vê-lo.
— E este é para ti— deu-me um gelado de morango e eu estava a pegar na carteira, mas ele negou, aquilo era um presente.
Não dissemos uma única palavra durante algum tempo.
—Dear Maria!! Já são seis horas! Ruben, temos de ir para casa senão os teus pais vão me matar!
Peguei na mãozinha pequena dele e fui até à porta. Os pais dele não iriam gostar muito que eu lhe tenha dado o gelado. E o Vic foi muito gentil. Abri a porta e dei-lhe o meu melhor sorriso.
—Obrigada... Vic.
E então desaparecemos da vista dele em direção à casa do pequeno Ruben com dois gelados na mão.
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Padrinho
Fanfic"Ainda tinha a faca na mão e o sangue a escorrer pelos meus braços enquanto o corpo inanimado estava à minha frente." . . . . A última versão da obra infelizmente foi apagada, por isso, apresento a nova e melhorada versão de "Padrinho"... Em revisão...
