Props & Mayhem... Pierce the Veil

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Vic pov

— Estava a ver que nunca mais vinhas! — apontei para o relógio e o Kellin limitou-se a encolher os ombros com um sorriso estúpido na cara. — Visto que estamos a viver juntos — o homenzinho da bica e do jornal olhou para nós de lado.— Temporariamente, como é óbvio, quando tu e a Katelynn se resolverem , voltas para a tua casa.
O homem resmungou alguma coisa, mas não lhe dei atenção. O Kellin percebeu o meu desconforto e limitou-se a pedir um café e a sentar-se numa das muitas cadeiras vazias, por sorte eu ainda não tinha desligado a máquina do café.
  Depois de o servir, sentei-me na outra cadeira e ele explicou o motivo da demora.
— Estive a conhecer a família da tua queridinha. Ela só vive com o irmão e o melhor amigo dele mudou-se hoje depois de ter vendido um apartamento péssimo com problemas na canalização, luz e etc.. Tratou dos papéis hoje, pelo que eu soube.
Encolhi os ombros. Era impossível que o meu apartamento fosse o mesmo que esse, já tinha tratado dos papéis dele á coisa de dois dias.
  — O que é que achas deles?
— Honestamente— bebeu um bocado do café— o Jack, o irmão, é super protetor com ela. Até o compreendo, são só eles, ela é a mais nova... O Alex pareceu porreiro, descontraído... Não eram maus. E acredito que nenhum te vai roubar a miúda. Talvez o Alex, mas duvido, deve ser aquele caso típico de " és-a-irmã-do-meu-melhor-amigo-e-eu-não-quero-saber-de-ti". Estou bastante crente nisso — mexeu o café com a colher de ferro torta e mudou de assunto.— Depois de te pôr em casa tenho de ir tirar fotos num casamento, como te disse. Que horas são? Deixei o telemóvel na carrinha...
Olhei para o relógio: 16:58. Ok, era melhor começar a fechar a padaria.
—  Vais ligar-lhe?
— Não sei, talvez.
— Devias. Ela ia gostar, parece uma miúda especial e é simpática. Se gostas dela, devias ligar-lhe. Quer dizer, a moça tem direito a ter o teu número, não é? Não és só tu que tens o direito de ter o número da crush, sabias?
Encolhi os ombros e dei um pequeno riso. Sim, eu devia fazer isso. Devia. Ia fazer? Não. Porquê? Não sou capaz. Ia arrepender-me? Obviamente.
Quando chegaram as cinco e meia, tranquei a porta da padaria e subi para a carrinha velha do Kellin, ele pôs uma música qualquer do rádio , só para fazer ambiente e ficou a queixar-se do seu trabalho o tempo todo. Ele era ambicioso. Eu não. Admiro isso nele.
Chegámos a minha casa em tempo recorde e ela estava vazia.
— Ok, onde é que o Mikey se meteu? Não disseste que ele veio hoje? Algo está errado...
— Deve ter ido dar uma volta, sei lá. Ele já é bem crescido, sabias?
Ouvi o tambor de uma bateria a rodar de um lugar mais afastado e olhei para o Kellin que fez um ar tão surpreso como o meu e encolheu os ombros.
DE ONDE É QUE VEIO A BATERIA?!
Seguimos , pé ante pé, até ao quarto dos fundos atrás do meu, uma pequena cave onde eu punha as tralhas e coisas assim.
— Como é que isso veio no táxi?!
À nossa frente estava o meu irmão a montar uma bateria e já só faltava pôr os pratos no sítio certo. Ele tinha trazido a bateria que a minha mãe lhe tinha dado de presente do 19 aniversário. (Depois dele ter implorado por mais de duas semanas a minha mãe perdeu a paciência).
Suspirei alto, não era a minha teimosia com os meus estúpidos traumas que iria abalar de alguma forma a paixão do meu irmão. Eu nunca iria deixar que isso acontecesse, nunca!
Mas iria doer à mesma ter que ver aquelas baquetas esquecidas em cima da banca da cozinha, ou o som das batidas quando chegasse a casa mais cedo e o meu irmãozinho estivesse a praticar porque pensava que eu ainda não tinha chegado.
— Mike, explica uma coisa e uma coisa apenas: de onde é que veio essa bateria e porque é que ela está aqui?!
— Isso são duas coisas.
Ele e o Kellin deram um riso cúmplice que me irritou. Ambos sabiam o que eu tinha passado nos últimos anos, tudo.
Ou talvez não.
Talvez não soubessem sobre os maços de cigarro tragados como batata frita, a lâmina a deslizar pela minha pele escondida por camisolas compridas. Infelizmente , as lâminas, arames, vidros, tesouras e tudo mais que cortasse acompanhou grande parte da minha infância e adolescência.
Eu já tinha passado isso tudo, mas nunca ninguém compreendeu a minha dor. Depois do tribunal eu nunca mais fui a mesma pessoa, quem é que volta a ser o mesmo depois de uma ida ao tribunal onde todos te querem crucificar e lançar para a fogueira? Tudo por um fiasco, tudo por uma causa perdida.
Mike continuava a montar aquele monstro à minha frente, embora eu reclamasse, insultasse e ameaçasse. Inútil. O meu irmão seguiu em frente, eu não. Resiliência, coisa que eu não tinha.
— Como eu vou viver aqui durante uns tempos, não quero perder a prática e, já agora ,e porque eu sou boa pessoa, comprei comida, está no frigorífico. É estranho teres-te esquecido da comida... És sempre tão responsável! Irritantemente responsável— revirou os olhos.
— Ele está de quatro por uma gaja.
— Está explicado.
Eu olhei para o Kellin que tinha dito aquilo como se fosse a coisa mais normal, natural e costumeira de sempre. (E era, se virmos bem a humanidade existe por alguma razão). Mas falar de mim, à minha frente, sobre coisas que só a mim diziam respeito, já é demais. Até para o Sr. Quinn.
— Está bem, está bem. Vou reescrever a frase: ele está apaixonado por uma rapariga. Melhor?
Aquela sorrisinho inocente. Eu odeio-te Kellin Quinn. O Mike olhava para nós com as mãos na cintura.
— Se as meninas já acabaram a discussão, espero que me ajudem a montar o resto.  Já agora, Vic, convidaste-a para sair?
Mostrei-lhes o dedo do meio e fui para a cozinha fazer tacos enquanto as hienas se riam, sabiam que eu não tinha jeito para isso, que eu e a Carol tínhamos acabado à pouco tempo (meio ano, só porque afinal eu não ia ser famoso. Ridículo) . Apesar de ser a coisa mais estereotipada do mundo, quando estou irritado cozinho tacos e comida mexicana maioria das vezes.É clichê e estereótipo, mas é verdade.
Peguei no telemóvel.

Olá
É o Vic 😃
O que achas de sairmos hoje? Sei que já combinámos o cinema, mas se quiseres...
Responde quando vires a mensagem, ok? ☺️

Passados vinte minutos ( e uma formada de tacos já na mesa) ouço o meu telemóvel vibrar.

Ok, por mim tudo bem.😁
A que horas?

Daqui a meia hora
Podes?

Vou falar com o meu irmão para me levar a tua casa. Onde é que vives?

N47, Elm Street
Sabes onde é?

Esse era o apartamento do Alex!😂
Claro que sei onde fica!
Dez minutos estou em tua casa.
Beijinhos😘

Eu tinha ficado com o apartamento podre do Alexander Gaskarth. O mundo é mesmo pequeno.
Não sabia se me despedia ou não, visto que a ia ver daí a ,pelo menos, dez minutos. Resolvi bloquear o telemóvel e deixá-lo em cima da mesa.
Aqueles dois apareceram quando sentiram o cheiro a comida e fomos todos comer para o sofá e o Kellin pôs música de fundo, parecia uma banda nova de uns góticos cheios de maquilhagem que agora andavam muito por aí, não sei o nome deles.
Peguei num copo e numa colher e tentei chamar a atenção dos meus dois inquilinos.
— O que é que queres, Vic?
— É só avisar que tenho um encontro hoje e que não sei a que horas venho— tentei fazer uma pose importante, mas depressa eles derrubaram a confiança.
— Finalmente o gajo teve tomates para fazer alguma coisa— comentou o meu irmão enquanto comia e o Kellin começou a rir-se como uma hiena. Eles eram umas bestas.
— Não resolveste fazer um anúncio só para dizer que tens um encontro, certo? Quer dizer, também com as vezes que tens alguém, é mesmo preciso fazer uma comemoração!
— Já acabaram as piadinhas? — olhei para eles com o ar mais sério que consegui e eles calaram-se.— Tenho a anunciar que quero chegar a casa com ela inteira. Percebido? Conseguem fazer isso?
Olhei para os dois.
— Lembrei-me que tenho um casamento agora às sete horas... É coisa para durar a noite toda. Ficas cá em casa, Mikey?
Ele encolheu os ombros e o Kellin foi até ao "casamento" muito contrariado. (Para o compensar fiz-lhe uma marmita com tacos).
Olhei para o relógio, ela devia estar quase a vir.

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