Hell Above...Pierce the Veil

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Kellin pov

O sininho bateu e o Vic cumprimentou-me calorosamente, mas não parecia a felicidade em pessoa. Embora normalmente isso me irritasse um pouco, eu fiquei preocupado com rapaz.
— Bom dia. O mesmo?
Assenti com a cabeça, eu precisava de acordar e, como não havia muita gente, ele arranjou uma mesa ao pé do balcão e pediu-me para ir para lá, pouco depois ele foi sentar-se ao pé de mim com dois cafés.
— Precisas mesmo de alguma coisa para acordar. E não discutas.
Peguei na minha chávena e pus o açúcar, não que estivesse propriamente com paciência para isso depois do senhor Michael Fuentes me ter acordado. Por falar nisso, tinha de contar isso ao Vic.
— Sabes quem me foi chatear o juízo?—fiquei a mexer o café lentamente, o Vic odiava suspense e isso fazia com que tivesse um ar engraçado quando ficava impaciente.— O Mike.
Ele parou de beber o café dele e ficou pensativo. A expressão preocupada acentuou-se e eu percebia bem porquê. ( O " Whisky Hands" tinha esse nome por alguma razão, certo?)
— Não sabia que ele vinha hoje... Ele podia ter ligado e eu ajudava-o com as malas e depois há o problema do quarto... Bem, vocês decidem quem fica com o quartinho das arrumações e quem fica no outro quarto. Ou no sofá, depende.
Encolhi os ombros; ele sabia perfeitamente que eu não ia voltar para a Katelynn tão cedo. Ou para aquela casa, sequer. Ela quando está zangada é qualquer coisa de agressiva e eu ainda gosto muito da minha pele. As variações de humor nesta fase não ajudam grande coisa...
Parece que ele percebeu a mensagem, porque só comentou:
— Ok, a gente arranja-se e o Mike fica no quartinho dos arrumos, entendido? Tu, decide-te e, a menos que a Lynn te venha raptar, estás à vontade para lá estares o tempo que quiseres.
Fiz um sinal afirmativo para ele e continuei a beber o café.
— Desculpa, Kellin, mas eu tenho mesmo de ir trabalhar. Se precisares de alguma coisa chama, ok? Há pessoas que têm de acordar antes das— deu uma olhada ao relógio— das duas da tarde.
  Ele deu-me um olhar crítico e eu limitei-me a dizer que sim e ele foi atender o cliente, uma mulher gorda e muito maquilhada , demasiado maquilhada, com a tinta a escorrer, o que não era a visão mais agradável para um recém acordado, mas o Vic estava a sorrir-lhe com o mais doce dos sorrisos, o mais falso dos sorrisos, eu nunca iria aguentar tanto tempo , provavelmente já teria feito alguma piada de mau gosto e levado com a mala dela enquanto me ria...
Uma rapariga entrou na pastelaria pouco depois e chamou a Ruby, a ruivinha , para comprar pão. Era bonitinha: baixinha, morena, cabelo liso e com um vestido pelos joelhos com padrões florais e um risco de sangue que ficava mesmo bem. A garota tinha bom gosto.

Ok, a ideia do vestido era gira.

Olhei para o Vic e assustei-me, parecia que ele ia ter um ataque de coração de tão vermelho que estava.

Ok, há aqui alguma coisa que não está bem.

Chamei o Vic com um sinal e ele veio atender-me. Será que aquela era a tal rapariga que ... E se fosse? Não era assim tão má, mas parecia muito jovem.
— Vic, responde com a maior das sinceridades, aquela é a moça?
Ele espantou-se com a minha pergunta, mas acenou com a cabeça.
A rapariga virou-se para trás e cumprimentou-o, mas ele ficou a fazer figura de urso e não lhe disse nada . Ok, ele é só estúpido e eu tenho de compor tudo nestes casos, não é?
Para isso é que o Vic me tem como amigo. *Sorriso amarelo*.
Levantei a mão para chamar a rapariga que não percebeu o que eu queria, até que o Vic , quando percebeu que eu estava a acenar à sua queridinha, me quis fazer um nocaute.
— Ei, tu! Miúda do vestido com flores! Podes vir aqui?
Todos se viraram e ela começou a rir-se, um bocado envergonhada.
Problema resolvido, ela ia falar com ele ou, pelo menos, aproximar-se, esperava eu, senão o Vic iria ter ganas de me matar.
Ela aproximou-se e sentou-se na outra cadeira depois de ter cumprimentado o Vic com dois beijos na cara, e ele ter ficado corado. Ela tinha um sorriso bonito, daqueles que apetece sorrir de volta. Usava uns óculos de sol tartaruga e o cabelo amarrado num rabo de cavalo baixo.
— Kellin, um amigo do Vic.
— Egi.
Uma moça de poucas palavras. Não sei se ele queria matar-me, mas estava muito próxima disso. Gostei do colar com uma ampulheta cor de rosa.

O Vic resolveu buscar outro café e ofereceu-o à rapariga, mas a única maneira de ajudar o Vic era puxando conversa, por isso tentei a técnica que eu vi no " Two and half man." (Uma discussão com a Katelynn e ter ficado em casa do Remi quando ainda vivia Inglaterra).
— Ei, Egi, sabes quanto pesa um elefante?
— Não. Não faço a mais pequena ideia... Porquê?
—Bem, ele pesa o suficiente para quebrar o gelo.
Ela e o Vic começaram a rir e eu peguei no meu telemóvel para lhes dar um pouco de privacidade para conversarem.
Mal liguei o ecrã vi sete chamadas não atendidas da Katelynn e umas quantas mensagens dela que apaguei sem ler, sequer. Dói menos fazer assim.
Olhei para cima, a tentar dar o menos possível nas vistas debaixo do meu chapéu de abas estilo clássico. Eles faziam um casal fofinho e alguém tirou o meu chapéu para pô-lo em cima dela e eu queria arrancar-lho das mãos enquanto ela fazia beicinho.
O telemóvel dela tocou.
— Desculpem, rapazes, mas é o meu irmão. Tenho mesmo de atender.
Levantou-se e saiu para atender a chamada, só aí reparei que tinha um perfume de morangos.
— Bonita — comentei casualmente.
— Ei! Tu tens a Katelynn! — fez um ar muito parecido com o de um cão ao qual tentam roubar um osso.
— Honestamente, preferia não ter. Ela é doida, de vez em quando.. A Egi é bonita e agora tens de conquistar a família dela— ri-me.
— O irmão. Ela vive com ele, os pais não são daqui e ela está num curso de jornalismo.
— Uau, não te sabia tão conhecedor da vida dela— tentei um ar malicioso, mas o máximo que ele fez foi arrancar-me o telemóvel das mãos.
— Ela acabou de dizer isso, não ouviste?— apoiou o cotovelo na mesa e descansou a cabeça na mão aberta. Suspirou, não vinha coisa boa.— Acho que ela é a minha Beatriz...
Arqueei uma sobrancelha, ok, agora é que ele ficou maluco de vez.
— Mas ela não era...?
Ele encolheu os ombros e brincou com a colher do café.
— Dante. Na Divina Comédia ele está apaixonado pela Beatriz e percorre o Céu, o Inferno e o Purgatório à procura dela. Acho que a Egi é a minha Beatriz.
— Vias-te a percorrer o Inferno e o Céu por causa dela?! Deves ter febre, só pode!
Whit Heaven above you, there's Hell over me...  — Ele sussurrou. Era bonito. Tenho a certeza que inventou na hora. — Talvez.
— Que romântico. Quanto é?
Ele levantou a chávena e levou-a até ao balcão. A padaria só tinha um velhote num canto a ler o jornal com uma bica curta e nós.
Estava a haver torneio de basquetebol na escola secundária e isso afastava clientes, mas pouco importava, assim estávamos mais à vontade. A Egi continuava lá fora.
— Não te preocupes que eu pago, fui eu que fui trazendo, não foram vocês que pediram. Já agora, por acaso vai dar algum filme interessante no cinema?
— Nem sei, não costumo ir lá. E tu não sabes onde fica. E tens o teu irmão que chegou hoje. Por isso não podes convidá-la para sair hoje.
— Mas como é que tu...?!
Cruzei a perna na forma mais forçada e artificial que consegui e puxei de um palito para os dentes.
— Previsível, meu caro Fuentes.
Começámos a rir e apareceu a Egi. Estava estranha, agitada e um pouco nervosa.
— Preciso de ir para casa. Algum de vocês me dá boleia?
Olhei para o Vic . Ok, esta era a oportunidade perfeita para a convidar a ir ao cinema, não fosse ele trabalhar até às cinco e meia. Ele olhou para mim e eu encolhi os ombros.
— Eu levo-te, Egi.
— Obrigada , Kellin.
Ela aproximou-se do Vic e deu-lhe um beijo na face, para se despedir. E ele ficou sem reação, óbvio.
— Ei, Vic, não havia uma coisa que querias perguntar à Egi?
Ele engoliu em seco. Se eu não perguntasse ele também não ia falar nada de nada. Ele tinha cara de quem me queria espancar, mas era para o seu próprio bem.
— Egi? Queres ir ao cinema? Depois de amanhã, talvez?
— Ok, mas tens de me vir buscar, eu não tenho carta, nem carro. E provavelmente vai chover.
Ela riu-se do seu próprio comentário e eu juntei-me a ela para não ser tão desconfortável.
— Eu dou-te o meu número e depois mandas-me a morada por mensagem?
Ela encolheu os ombros, até parece que o Vic ia precisar disso, visto que eu ia dizer-lhe exatamente onde ela vivia. Mas ter o número da crush da sempre jeito.

Que malandro, senhor Fuentes.

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