Diana

prefácio || and it's called black magic

Lola Camargo, a loira e elegante secretária, desencostou-se da parede suja do beco quando viu a pequena moça surgir na escuridão, vinda do mesmo rooftop iluminado do qual ela mesma viera minutos antes.

A conversa seria breve. O castigo seria merecido.

Podia sentir a dúvida de Carolina Fontana, a pequena moça, à distância, não apenas pela maneira como ela olhava para trás constantemente, esperando que algum de seus colegas da Euforic, a agência de publicidade onde trabalhavam, aparecesse do nada no mesmo local que elas e as descobrisse.

Com as mãos firmes, Lola passou o pequeno tubo com um líquido pegajoso cor de cereja para as mãos da secretária mais nova, que rodou o recipiente em seus dedos, na tentativa de compreender se o que sentia realmente valia o que estava prestes a fazer.

Aquela era poção mágica que resolveria todos os problemas de Carolina.

Aquele era um segredo que deveria ficar muito bem guardado. E por isso a loira mais nova olhou ao redor mais uma vez, insegura sobre tudo, desde o motivo que a levava a segurar aquele vidro com o líquido rubro, desde os efeitos e consequências que acarretaria.

- Tem certeza? – foi o que Carol perguntou à outra. Mas Lola não tinha como saber. Na vida nada era concreto ou seguro e a magia sempre podia se voltar contra o mágico. Tudo o que ela podia fazer era esperar que, pelo menos para Carolina, a mágica funcionasse.

Ou talvez a sua mágica não funcionasse em si mesma, pois quando Lola a utilizara para si mesma, acabara dando tudo errado. A sua estúpida magia havia lhe feito perder Daniel Toledo de vez.

Quando ela transformara o próprio namorado em um gato, utilizando uma magia antiga, acabou apenas fazendo com que Daniel encontrasse o verdadeiro amor em Mollie, a gata branca e manhosa de Arthur Molina e, da maneira mais romântica que era possível, a transformou em uma mulher linda e agora, segundo os sempre constantes rumores da Euforic, os dois estavam prestes a se casar.

O que era para ser um grave castigo para um péssimo namorado, acabou sendo a chance da vida de Daniel, fazendo com que ele encontrasse seu verdadeiro amor.

Não queria que isso acontecesse com Carolina e Miguel. Eles pareciam certos um para o outro, pareciam um casal para a vida inteira, algo que a própria Lola vira nela mesma e em Daniel e que agora era apenas lembrança. Porém, agora no destino e sabia que ele estava do lado do jovem casal.

Talvez a sua magia os ajudasse. Miguel Santana precisava realmente entender como Carolina se sentia sendo apenas um caso para ele. E se as conversas não estavam resolvendo, a magia resolveria. Quem sabe ele assumisse de vez o relacionamento que tinham e parasse de arrastá-la para rapidinhas sujas na sala de xerox que sempre acabavam com uma calcinha destroçada de Carolina em algum canto da sala.

Não que Carolina não gostasse disso, mas ela precisava de mais que sexo escondido e ligações quentes no meio da noite. Ela queria amor. Queria compromisso. E era isso que o líquido vermelho lhe daria.

- Eu quero que ele saiba como é ser uma mulher, Lola. Quero que ele sinta na pele o que nós sentimos, que ele aprenda como queremos ser tratadas. Quero que Miguel entenda como eu me sinto.

- Isso vai ajudar. Certamente que vai.

Miguel realmente precisava de uma lição. Que a sorte estivesse a favor de Carolina, como não estivera para Lola.

Com um último olhar para o pequeno vidro, ela deu as costas para Carolina, saindo do beco escuro atrás da agência onde elas haviam se encontrado, tanto pelo anonimato quanto pelo clima sombrio e dramático que o local dava à situação.

- Sabe o que fazer, Carol. – disse por cima do ombro, antes de realmente partir.

E, pela primeira vez desde que conhecera a confusão machista e convencida que era Miguel Santana, Carolina realmente sabia o que fazer.