Várias caixas de papelão se avolumavam no centro da sala e eu acreditava que havia sido muito bondoso poupando certas peças de entrarem nas caixas pardas.
Quando Amélia chegou, pouco depois das cinco, eu já estava psicologicamente preparado para os gritos, surtos e qualquer derivado disso que viessem assim que ela desse uma breve olhada no que eu havia empacotado.
Todo o procedimento no sétimo andar não havia demorado mais que algumas horas e depois de sair da Euforic com a carteira de trabalho falsa assinada - e com diversas lembranças de como eu e a chefe do departamento pessoal costumávamos nos divertir intensamente quando eu era realmente Miguel Santana - eu tinha diversas horas de tédio pela frente que foram muito bem aproveitadas desobedecendo Amélia Ribeiro.
- O que é tudo isso? – ela perguntou curiosa, jogando sua bolsa para qualquer lado e se jogando no sofá, mais cansada do que com vontade de revirar as caixas. Seus cabelos estavam presos naquele coque apertado novamente e eu fiquei satisfeito em não ser abordado por as sensações de merda que chegavam com o perfume daqueles fios.
- Coisas que nem sequer doaremos porque ninguém vai querer isso.
Talvez algo em minhas palavras ou um sexto sentido feminino que meu corpo ainda não tivesse desenvolvido fez com que Amélia se levantasse depressa e abrisse uma das caixas grandes que estava mais perto de si, retirando diversos dos seus suéteres horrendos de dentro dela com olhos arregalados e o queixo caído.
Cruzei os braços esperando os gritos, mas eles estavam demorando demais.
- Seu... seu... merda! O que você pensa que está fazendo seu grande filho da mãe?
- Te dando um guarda roupa novo. Pode me agradecer depois.
Amélia pegou um dos suéteres mais grossos e me deu um chibatada na barriga com ele. Me inclinei, reclamando de dor e quase sorri levemente quando os gritos vieram. Eu poderia ter perdido meu pau, mas jamais perderia meu conhecimento sobre as mulheres.
- Eu não quero um guarda roupa novo. Eu quero que você seja uma merda de um homem uma vez na vida e não a porra de um moleque estúpido que acha que pode fazer o que quer. – ela gritava enquanto me batia com o suéter. Estava doendo e eu comecei a soltar gemidos insuportavelmente femininos, mas ainda assim, a raiva de Amélia era grande demais e ela estava sendo completamente descontada em mim.
- Vai me agradecer quando der uma olhada no que eu comprei.
- Quero que enfie o que comprou no cu. Obrigada. – ela respondeu como eu jamais imaginaria que ela fosse responder, quase me deixando admirado. – Eu odeio você, Miguel Santana.
E sem dizer mais nada, ela chutou a caixa, me deixando sozinho na sala com todas as roupas reviradas. E logo escutei os sons de coisas sendo derrubadas no andar de cima e temi que ela pudesse estar jogando os vestidos que eu comprei para ela no jardim, pela janela.
Subi as escadas correndo e a encontrei no que eu descobrira mais cedo ser o quarto dela, descabelada e com um bem legal da FARM em suas mãos. Mas ao contrário de todas as mulheres que eu havia conhecido, Amélia não estava lisonjeada por estar com um vestido de uma marca cara em suas mãos. Ela parecia apenas triste pelas minhas atitudes.
Eu não tinha encarado o que eu havia feito como tendo ido longe demais, mas ainda assim, algo na forma em que seus olhos grandes e amendoados estavam desapontados me fazia querer me desculpar por algo que eu nem sequer sabia direito o quê.
- Apenas me diga porquê.
- Não sei, eu... quis comprar algumas coisas pra você. Nunca escondi que não gostava de suas roupas, pensei que...
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Diana
RomanceCarol Fontana estava cansada de ser apenas mais uma na lista de Miguel Santana, o maior machista que São Paulo já vira. Então, decide usar a magia para fazer com que Miguel aprenda de uma vez por todas como uma mulher se sente. Agora, como uma garot...