- Antes de mais nada precisamos de um nome para você. Se você responder como Miguel Santana, vão pensar que você está louco.
- Mas eu sou Miguel Santana.
Pela maneira como ela rolou os olhos, eu imediatamente percebi o quanto a minha ideia havia sido estúpida, por isso me calei.
Ok, eu tinha de pensar num nome. Mas qual nome?
Dei uma mordida no meu sanduíche, mastigando distraidamente. Não importava muito, eu não assumiria aquela identidade por muito tempo mesmo. Qualquer nome estava bom. Disse isso a ela e Amélia me olhou como se eu tivesse admitido que eu comia cachorrinhos no café. Que merda! Era só a porra de um nome. Não era como se eu estivesse escolhendo os números da loteria, inferno.
- Quer usar um nome mais clássico? Mais comum? Tem que ser um nome que combine com você para dar mais credibilidade...
- Qualquer um, tanto faz. – falei de boca aberta. Mais interessado em comer do que em algo tão idiota quanto escolher um nome pra mim. Que tal "NãoTenhoMaisPinto Ferreira". Combinava comigo e me daria uma puta credibilidade. Já imaginava a minha entrevista de emprego. "E então, NãoTenhoMaisPinto, quais são suas expectativas pro futuro?"
- Então eu vou escolher.
Dei de ombros e vi Amélia riscar seu caderninho algumas vezes antes de encarar o papel com um sorriso enorme. Ela havia escolhido um nome. Por todos os anjos que não fosse um daqueles nomes compostos que os travestis do centro adoravam usar.
- E aí?
- Diana Navarro.
Parei alguns segundos, repetindo o nome em minha mente, experimentando-o.
Porra, era um nome bom pra caralho. De respeito, tinha um quê de classe e era bonito até. Eu até gostaria de atender quando alguém me chamasse de Srta. Navarro.
Mentira, jamais trocaria Sr. Santana por qualquer outro nome.
- E agora? – terminei meu sanduíche e lancei um olhar um tanto indiscreto para o dela. Seria muita falta de educação comê-lo? Cara, ela estava tão entretida que nem parecia com fome e, porra, eu estava com uma fome do cão.
- E agora que eu tenho um amigo lá na direção de arte que poderá arranjar um ou dois documentos falsos só pra usarmos dentro da empresa. Nada grave. – ela fez uma nova anotação no caderno. – Vamos precisar também de roupas para você. – Amélia me lançou um olhar de cima a baixo, examinando meu corpo novo como uma vendedora analisando minhas medidas – Talvez as minhas sirvam...
- Esquece. Nem fodendo que eu vou usar essas roupas de avó que você usa.
- Perdão?
Os seus olhos nunca estiveram tão arregalados. Amélia estava mais do que ofendida, mas era verdade. Porra, ela anda com umas roupas que nem uma avó de 97 anos, num asilo sem fundos, usaria. Não sabia se alguém já tinha dito isso a ela antes, mas alguém tinha de falar em algum momento.
Pelo amor de Deus, quem iria querer uma mulher que usa suéter de Natal o ano inteiro e que ninguém sabe como deve ser as pernas porque as calças são tão largas que não dá pra nem sequer adivinhar como o corpo dela deva ser.
- Eu não vou usar suas roupas. Elas são feias. Não sei se o intuito delas é te fazer menos atraente, mas se for, está indo muito bem com isso. Ninguém vai querer te comer vestindo essas coisas. Ninguém mesmo.
Além dos olhos arregalados a sua boca também estava aberta, chocada demais para responder a alguma das minhas observações que, eu podia ver pela sua expressão, ela estava levando como ofensa.
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Diana
RomantizmCarol Fontana estava cansada de ser apenas mais uma na lista de Miguel Santana, o maior machista que São Paulo já vira. Então, decide usar a magia para fazer com que Miguel aprenda de uma vez por todas como uma mulher se sente. Agora, como uma garot...