sete || it was love at first sight

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Minhas pernas finas e femininas, estranhamente depiladas aliás, se balançavam para frente e para trás num gesto que expressava totalmente o meu nervosismo. Todo o controle que eu tinha no meu corpo masculino havia se transformado em descontrole no corpo feminino.

Era como se ele tivesse vontades próprias e quando eu me via, já estava me comportando daquela maneira.

Era quase como se meu corpo feminino e minha mente masculina estivessem em guerra constante e meu corpo feminino tinha mais poder que todo o resto, por isso sempre acabava ganhando.

Dessa vez não era diferente e eu estava arrastando os pezinhos calçados com ridículos sapatos de enfermeira que descombinavam completamente do meu vestido.

Não que eu desse a mínima para isso, mas Lola Camargo, a secretária da direção dissera quando me vira. Ela também tinha feito alguns comentários sobre as pontas duplas do meu cabelo que precisavam urgentemente de uma hidratação. Lola até mesmo dissera que torcia para que eu conseguisse o emprego para que pudesse comprar sapatos novos e agendar um horário no salão de beleza.

E desde que ela o dissera, eu vinha encarando as pontas do meu novo cabelo comprido que continuava insistindo em ficar caindo na minha cara, me obrigando a afastá-lo de uma maneira muito desajeitada, e não conseguia entender o que no mundo poderiam ser pontas duplas. Já o sapato, eu tinha que concordar 100% com Lola.

Sinceramente, eu acreditava que isso era um pouco de inveja porque eu era mais bonita como mulher do que ela jamais seria com aquele nariz estranho dela. Ou talvez ela houvesse pressentido quem eu era e estava me tratando assim de propósito, como uma vingança por eu não ter transado com ela quando ela se ofereceu, numa das festas de confraternização da Euforic.

O que eu posso justificar, uma vez que os rumores de que Lola usa uns lances mágicos pra casar com os seus ex-namorados me assustaram de verdade, ainda que na época eu não acreditasse muito em magia.

Não podia dizer o mesmo agora, enfiado em um vestido justo e sem a merda de um pau, não é mesmo?

Eu já estava sentado há vários minutos na sala de espera, onde havia até mesmo comido diversos biscoitinhos, uma vez que Amélia havia se esquecido de me alimentar pela manhã, quando Lola finalmente anunciou que eu poderia entrar e ser entrevistado pelo Sr. Moura.

A simples menção do nome me fez congelar em meu lugar, incapaz de me levantar. Por favor, por favor, isso não pode ser verdade. Não pode ser a sério. Não podia ser Moura a me entrevistar.

Eu simplesmente não conseguia entender como a minha vida havia chegado tão longe. Por que isso tinha de acontecer comigo? Não bastava perder o apartamento, o emprego, o pau e ainda ser assediado por um filho da puta de pau pequeno vendedor de Target. Não, eu ainda tinha que ser entrevistado para a vaga de secretária de gerência de contas por ninguém menos do que Leonardo Moura. O meu arquirrival.

- Pode entrar, Srta. Navarro. – Lola estava praticamente me empurrando porta adentro e eu senti meu corpo estremecer de pavor. Por favor, que fosse qualquer outro Moura. Qualquer outro, eu implorava. – Aqui está ela, Sr. Moura. Precisa de alguma coisa?

A sala era espaçosa e decorada em tons de verde, bem legal e elegante. De alguma forma, estar naquela sala me deixou mais calmo e pela primeira vez desde que eu acordara naquele banheiro, eu me senti relaxado. Ainda que estivesse prestes a ser entrevistado pelo homem que sempre disputara tudo comigo dentro daquela agência.

De costas para mim, falando ao telefone com alguém aparentemente muito importante, de frente para a enorme vista da cidade de São Paulo fornecida pelas janelas do chão ao teto, Leonardo não parecia ser o filho da puta competitivo que eu sabia que ele era. Daquela forma eu quase podia me esquecer das diversas vezes em que ele conseguira primeiro o que eu desejava. Como aquele cargo por exemplo.

DianaOnde histórias criam vida. Descubra agora