RAÍZES AMARGAS

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Ring! Ring!

- Que inferno! Quem toca a campainha esta hora...?

Ring! Ring!

Quem é? Levantei na plenitude do meu mau-humor, parecia um ogro. Eram só 9h da manhã. Fazia apenas alguns minutos que havia adormecido. Gritei outra vez: - Quem é? - Peguei o roupão e arrastei meu corpo até a porta, pronto para perguntar quem autorizou alguém a subir no meu apartamento. O porteiro sabia, já fazia um ano que só era permitido subir visitas se eu o avisasse antes.

- Maldito porteiro, deve estar de marcação comigo.

- O que está pens... - Não terminei a frase. Ali, em pé, na minha frente, estava dona Angélica, minha mãe. Fiquei sem reação. Minha cara de sono expressava tudo e mais um pouco.

Oi filho! Não abraça mais a sua mãe? O que foi, está doente? Estou preocupada com você.

- Bom dia, mãe! Entra.

- Sabia que toquei a campainha por 20 minutos? Fiquei apavorada, o porteiro garantiu que você estava em casa.

- Desculpa, não dormi muito bem esta noite, há pouco tinha dormido.

- Faz meses que não sei nada de você. Não liga mais para pedir dinheiro, não tem gastos nos cartões de crédito...

- Qual o problema, mãe? Sua viagem pelo Egito não foi boa? Não gastou o suficiente por lá? Precisa vir até aqui? Olha, cansei deste sermãozinho. Não esqueça que eu tinha 16 anos quando você me emancipou. Na época, adorei, claro! Moleque bobo. E por que você fez isso? Precisava viajar pelo mundo, o mundo da futilidade, gastando a fortuna do papai, só para se vingar. Cada vez que sabia dos casos dele, fazia gastos absurdos [...]

- Espera aí, garoto!

- Garoto? Tenho 26 anos, sou um homem, acho que há muito não sou garoto, pelo menos aos seus olhos, já que me deu este apartamento, um carrão, uma conta bancária bem alimentada e vários cartões de crédito ilimitados e eu tinha apenas 16 anos! Foi legal, mas isso me tornou um moleque sem rumo, sem orientação, sem amor, mãe!! Dinheiro nenhum compra o amor, sabia?

Minha mãe ficou parada por algum tempo. Tentei interpretar sua expressão, mas não vi arrependimento ou tristeza em seu olhar. Pode ser que depois de tantas aplicações de Botox seu rosto tenha perdido a capacidade de expressão. Esperei por argumentos de defesa, pelo menos palavras, mas o silêncio era mórbido, então continuei.

- Tenho tudo o que quero, não é o que você pensa? Tudo o que o dinheiro pode comprar. Mas o fato é que não tenho nada, não sou nada! Enquanto meus amigos foram para a universidade, eu, sabe eu? Fiz festas, bebedeiras, mulheres, farras e mais farras. Hoje, meus amigos são o doutor Henrique, o engenheiro Pedro, o juiz Arthur. Já eu, o Playboy sustentado pelos pais!

O rosto dela continuou estático, o tronco girou levemente, abaixou a face, fitou a bolsa Louis Vitton que estava na poltrona. Eu a fitava como um lince faminto quando escolhe a sua presa. Nada. Pegou a bolsa e saiu pela porta, não esboçou nenhuma reação. Quando a porta se fechou, fiquei desabafando comigo mesmo.

- Não adianta querer se fazer de mamãe, se sua única função foi me gerar. Sempre fiquei com babás e aos 16 se livrou de mim, do peso de seus ombros, mãe de verdade nunca foi! - Voltei para a cama, dormi até o anoitecer.

No fim do arco-íris.Onde histórias criam vida. Descubra agora