PENSAMENTOS DISTINTOS, PORÉM IGUAIS

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Despertei com o som do WhatsApp, sonolento tentei agarrar o aparelho que não parava de tocar. Quando meus dedos encostaram nele, caiu para baixo da cama e silenciou.

- Droga! Quem está mandando mensagem esta
hora...?

Liguei a TV e procurei pelo celular, acendi a tela, era 01h, desbloqueei e lá estava a chamada de Manoela. Minha raiva passou de imediato. Sentei-me na cama, chamei-a. O seu bom dia me encheu de alegria. Perguntei por que tinha desaparecido e ela, sem dar ouvidos a minha pergunta, disse:

- Sonhei que te conheci, eu estava no aeroporto e finalmente nos conhecemos.

A voz dela transmitia felicidade, compartilhamos de um mesmo desejo, nos tocar, sentir a pele um do outro. Disse a ela que esse sonho poderia ser realidade. Não precisava somente imaginar. Como em um passe de mágica, em minha mente esqueci dos dias que ela havia sumido. Porém, a penumbra tomou conta de sua voz, despediu-se e desligou.

Outra vez fiquei sem entender, ali, estagnado, com o telefone na mão e com mil palavras que gritavam no peito... não consegui mais dormir, sentei-me na sacada, a lua estava cheia, suspirei e tentei compreender em que eu havia errado. Só queria fazê-la feliz e me sentir feliz, isso seria um êxtase.

Há muito não caminhava na madrugada. É engraçado como todo o turbilhão de informações que ocorre no dia, durante a madrugada desaparece como mágica. Não havia pessoas, nem carros nas ruas. É como se eu fosse o único ser humano do planeta. Permiti-me sentar na areia fria da praia, tirei o tênis e deslizei os pés na areia até afundá-los. Senti um arrepio subir dos pés à cabeça.

Meus olhos ficaram mais atentos, e percebi que não estava sozinho. Você já olhou com cuidado ao seu redor? O universo é rico em detalhes, minuciosos detalhes. Eu só estaria solitário se não fosse um observador nato. O primeiro ser vivo com o qual me deparei foi uma bela coruja, escondida entre as folhas das árvores que beiravam a orla do mar. Quando ela notou que eu a tinha visto, sem timidez voou, planando na areia, e ficou ali, a cerca de dois metros de distância, assim como eu, observando o mar. Deitei-me na areia. A lua era a minha companheira. Pude ver na lua o rosto de Manoela e perguntei por que estava chateada comigo. Não consegui resposta alguma, mas desabafei.

Apenas o som das ondas quebrava o silêncio ensurdecedor da madrugada. Pior do que o barulho, somente o silêncio. No barulho tiramos várias conclusões do que temos ao redor, já no silêncio, só ouvimos nossos pensamentos, não há como fugir deles. E é, então, que parecemos ter dois anos de idade novamente. O medo é aterrorizante. O enfrentar quem você é e o que você sente, é doloroso. E somente no silêncio que isso acontece, é possível.

Já ouvi dizer que os olhos são a janela da alma. Tudo que desejei e desejo é olhar a alma de Manoela, mas não havia reciprocidade, e eu me magoava. Suspirei e clamei aos céus uma resposta. Do nada, uma mensagem no celular fez eu sair do estado de solidão, da minha conversa comigo mesmo. Sim, era dela.

Noam, desculpe-me, tenho medo de te magoar, além disso sabe que sou complicada, minha vida é muito diferente da sua. Tudo o que eu mais queria é estar em seus braços. Eu amo você mais que a mim mesma.

O sorriso voltou, o monólogo acabou. Ela me amava, era o que eu queria ler, saber. Não respondi, ela precisava saber que fiquei chateado. Olhei para a lua:

- Foi você, não? Você contou a ela tudo o que eu te disse. Ou será que foi esta coruja? Não tenho nem ideia, mas ganhei meu dia, como uma criança de dois anos, não mais a aterrorizada, mas aquela que adora um dia na praia. Rolei na areia.

No fim do arco-íris.Onde histórias criam vida. Descubra agora