CARPE DIEM

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A única certeza ao longo da vida é a incerteza de tudo. Já conheceu pessoas que planejaram toda uma vida, desde quando irá se apaixonar, casar, ter filhos [...]?

Escrevi estas palavras e não sabia direito o que significavam, encostei a lapiseira sobre o papel, coloquei a mão no queixo e apoiei-me. - Será que tudo é incerto? Caso seja, por que planejamos tanto? - As palavras escritas colocaram-me uma indagação que eu não sabia responder.

Lembrei-me de uma história que certa vez ouvi de uma vovozinha. De início nem sabia se ela era avó, apenas observei aquela pequena senhora, de cabelos brancos, igual a tantas que passam pela rua, daquelas que dá a vontade de sermos seus netos, que devem encher os netos de doces toda vez que eles a visitam. Uma vó era um sonho de consumo da infância, que escondo dentro de mim. Sempre sonhei em ter uma avó como aquela para visitar.

Ela caminhava pela praça, claramente ansiosa, passou diante do banco que eu estava sentado, fitou-me, sem compreender, acreditei que havia notado que eu a observava, e estava certa. Não pude deixar de notar o quanto estava bem vestida, com roupas simples, mas bem vestida, penteada e com uma bolsa que combinava com seus sapatos azuis, aquele azul da cor do céu, em uma tarde de verão. Ela olhava em seu relógio de pulso a cada minuto. Eu estava certo que ela esperava por alguém. Escritor que sou, aquela cena, deixou-me com a ânsia de saber o que ou a quem ela esperava. Parada próxima ao banco, fiz questão de escorregar meu corpo para a ponta do banco, queria que ela sentasse ali e que de algum modo, falasse comigo.

Comecei a devanear, minha mente queria saber mais. De repente, chegou um jovem rapaz, de uns dezoito anos, muito bem vestido, trajando roupas que poucos poderiam comprar. A senhora sorriu para ele de uma maneira tão bela, singela, mas com um quê de medo de uma possível rejeição.  O grau de satisfação em ver o rapaz a fez a pessoinha mais feliz que meus olhos já viram. O rapaz abraçou-a fortemente, e pude ver seus olhos encherem-se de lágrimas. Não lágrimas de tristeza, mas de certeza de um afeto correspondido. Os dois sentaram-se no banco e conversaram. Falaram sobre a falta que um havia sido na vida do outro. O rapaz disse que jamais perdoaria terem mentido para ele. Ele queria sim ter tido uma avó, independentemente de suas origens. Naquele momento pude notar um silêncio pairando no ar. Depois de alguns segundos, a avó segurou fortemente a mão do neto e falou:

- Olhe para mim, olhe para este momento, tudo que tive até hoje em minha vida foi um rancor e uma dor insuportável por sua mãe ter me esquecido. Eu dei o meu sangue para ela ser quem é, trabalhei muito, esfreguei muito chão para ela se formar e ter uma vida melhor do que a minha. Toda manhã, quando saía, a minha força era mudar a vida dela. Sabe, eu consegui. Tenho muito orgulho disso. Ela escolheu ter vergonha de mim, respeitei-a. Mas quando soube que você existia, há cerca de um mês, decidi que eu precisava conhecê-lo. Você é um presente para mim. Tudo até hoje, até este momento era incerto, agora posso dizer com certeza que a minha missão com sua mãe foi um sucesso. Olhe para você, um menino bondoso, e que mesmo não crescendo perto de mim, já é carinhoso comigo. Então, digo, não odeie a sua mãe, a vida é muito incerta para perdermos tempo com as desilusões. Sorrir, viver, aproveitar cada instante. Momento como este aqui é o que vale a pena.

Eu queria participar daquele momento, queria ser o menino de dezoito anos e, principalmente ter ela como minha avó. Fiz de conta que escrevia e de que não dava nenhuma importância ao que acontecia ao meu lado. Tossi, não queria atrapalhar, só precisava ver aquela cena.

O rapaz segurava a mão da velhinha, ouvia atentamente as suas palavras. Seus olhos a admiravam. Ele queria estar ali. Dei por conta que eu estava atrasado, mas desejava ficar, queria saber mais, porém, não podia, então fui imaginando o resto da conversa. De longe avistei os dois abraçados.

Peguei a minha lapiseira, escrevi em caixa alta as palavras "CARPE DIEM". Assim como a senhora com o seu neto, apesar da incerteza de tudo o que nos rodeia, da influência do universo na vida, o lance é vivê-la intensamente, viver o momento enquanto ele acontece. Ódio, rancor, só fazem o ser humano esquecer de valorizar os pequenos detalhes que fazem a sua vida ter sentido. Se a vida é um sopro, que seja o mais agradável de todos. Guardar-se para ocasiões especiais, apenas deixa de viver o instante consumido pelo tempo.

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⏰ Última atualização: May 30, 2020 ⏰

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