A Guerra.
Bombas e mais bombas lançadas lá do alto contra Salem, destruição, mortes e caos por todos os lados.
Enquanto me escondia em um bunker, meu pai estava do lado do meu Tio liderando a nação, que pela segunda vez estava ameaçada.Seguimos fortes, com apoio à Inglaterra, foram anos difíceis para todo o globo, principalmente para nós que não tínhamos muito poder bélico, mas com capacidade para produzir.
Diante longos cinco anos, nos escondíamos em bunkers diferentes, caçávamos atrás de recursos, de comida, de água, tínhamos que lutar contra a morte, a fome, e garantir a nossa sobrevivência.
Nesse tempo, aprendi habilidades de caça e sobrevivência junto com alguns líderes do bunkers, constantemente víamos aviões inimigos circulando por Orlândia, atacando a capital.
Em um momento tão difícil, consegui fazer amizades com o grupo que estava, e todo dia saíamos para caçar. Éramos 10 pessoas, e cada um escolhia alguém para ser sua dupla, eu sempre ia com o Aaron, pois curtia conversar com ele, e tínhamos ideias parecidas, então por que não escolher ele?
Enquanto o grupo mais jovem saía para caçar, minha mãe liderava o grupo mais velho atrás de ervas para temperar a caça. Era um trabalho conjunto.
Caminhando para as profundezas da floresta junto com o Aaron fomos conversando e nos entendendo:
- Quem pegar o maior coelho vence?
- Fechado.
Fomos cada vez mais para dentro da floresta e montamos duas armadilhas cada com um pouco de fruta como isca e cobrimos a armadilha com algumas folhas.
Logo fomos para um lago que ficava perto fomos pescar... passamos boa parte esperando um peixe morder a isca, mas nada... Era como se a sorte não estivesse ao nosso favor. Foi quando uma das linhas começou a se mexer, logo Aaron pegou a vara e começou a puxar para trazer o peixe mais perto da margem possível.
Fazia horas que Aaron estava travando uma batalha com aquele peixe, estava exausto... Foi quando peguei a vara e assumi o seu posto. Ele tentou me aconselhar se eu deveria puxar ou deixar o peixe levar mais linha, no fim Aaron pegou novamente a vara e conseguiu trazer o peixe para margem, era um baita peixe.
Voltamos para o bunker com o peixe em nossos braços, estávamos fedidos demais e voltamos para o lago para nos limpar. No caminho o Aaron ativou uma das armadilhas de coelhos e sua perna ficou presa lá. Logo desarmei a armadilha e tentei estancar o sangue com folhas que tinha ao redor. Voltei para o bunker gritando e chorando pedindo ajuda, e dois homens foram ajudá-lo, enquanto fiquei junto com a minha mãe, com a minha mente ocupada passando e repassando aquele momento várias e várias vezes, os mesmos flashes.
Logo após voltei para a floresta e desarmei a segunda armadilha para coelhos, e fiquei admirando o lindo mirtilo que tinha na minha mão, ficava olhando e mexendo ele em movimentos circulares, até que o amassei em minha mão, e abri a mão lentamente enquanto o mirtilo amassado escorregava e caia no chão escuro da floresta.
Essa era a vida... estamos nos nossos círculos perfeitos até que somos esmagados contra a parede diante a sociedade ou família e caímos no chão enfraquecidos.
No dia seguinte, tentava me lembrar do meu tio, que estava a comando dessa monarquia, um líder forte, sólido e inspirador, e ao seu lado, meu maior exemplo de resiliência, o meu pai. Sentia falta dos seus abraços e cafuné em minha cabeça, de seus dedos macios e oleosos feito manteiga.
Era muito difícil ter que aturar, diante tanta coisa horrível que já passei na minha vida, e esses mês estava sendo o pior, não comíamos nada a 5 dias, as pessoas ficaram loucas devido a tanta fome, as grávidas não tinham leite suficiente para os bebês, ninguém não tinha nem mais força para se levantar, foi aí que decidi sair do bunker e procurar alimento com um menino, José, usando meu último pingo de força.
Achamos dois coelhos e um pouco de madeira para lenha, mas quando voltei ao bunker, vi a minha mãe em estado de choque em um canto da parede, do outro vi o Ollie morto. Não queria ficar com raiva de todos, pois sabia que estavam mortos de fome, mas tinha que ser justo o Ollie? O meu único companheiro.
Foi aí que percebi que a raça humana era incompreensível em momentos de solidão, fome e miséria.
Passei noites e noites chorando, se tornando cada vez mais fraca, tinha força nem para fechar minhas mãos, foi quando fizeram uma sopa com repolho com um pouco de lenha que sobrou, um gesto de empatia.
Isso de me deu forças para continuar, para viver, para lutar.
Aniversários e Aniversários foram se passando dentro diversos bunkers, até que completei 21 anos. A Alemanha finalmente tinha se enfraquecido e no ano de 1943, aviões pararam de bombardear Salem, tanques de guerra deixavam nossa cidade, eles tinham mudado de foco.
Salem não desistiu diante tanta destruição, iria demorar, mas iríamos conseguir reerguer nossa nação. Apesar de tudo isso, ainda apoiávamos a Inglaterra, até o fim, com mais garra.
Conseguimos reconstruir casas, bares, cinemas, palácios, a nossa história. Salem como nação e monarquia. Tínhamos perdido alguns países como aliados, mas era só uma questão de tempo para todos estarmos juntos de volta.
Em 1944, meu tio foi obrigado a abdicar do trono e escolheu meu pai para ser o seu sucessor, devido à pressão do governo e sua saúde mental. Sendo assim, eu era a primeira na linha de sucessão caso o meu pai morresse. A história foi se montando e meses depois meu tio morreu de um ataque cardíaco.
Um ex-líder soberano de Salem, que foi forte nas cinzas e no triunfo, que agora descansava em paz depois de seus dias de glória, voltava as cinzas e que um dia iria ressurgir e ser bravo como fogo, feito uma fênix.
Me aproximei do seu caixão, e dei meu último adeus, para um tio, para um ex-líder de minha nação.
"Voe para longe meu Tio, conquiste novos céus."
Fui saindo da Igreja e não olhei para atrás, ao fundo o hino nacional tocando e nos céus, sete aviões lançando as cores da nação que um dia meu Tio governou.
Olhava para eles, para as cores, inspirada... inspirada em seguir meu destino que era ser Rainha, servir a coroa, o povo, que futuramente seria minha família.
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A Rainha
Ficção HistóricaNascida logo após a Primeira Guerra Mundial, no país de Salem, Elena Davies cresceu longe dos holofotes, apagada da linha de sucessão ao trono, junto com os seus pais em um pequeno palácio, mas logo após o seu Tio abdicar do trono, todo rumo da hist...