Capítulo 2

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O começo.

Lá estava eu, com meu vestido preto, e um chapéu ridiculamente grande e um véu, voltando do enterro, olhava pela janela do carro, a felicidade dos outros, invejando elas, os sorrisos, os olhares, o brilho. Por que eu era tão apagada?

Eu já estava cheia, tinha guardado muita coisa para mim mesma, não queria descontar no outros, foi aí que peguei um caderno vazio, e comecei a desabafar, colocando meus sentimentos, minhas dores, meus pecados e confissões nele. Por um tempo, ele foi o meu melhor amigo, meu ouvinte, minha jóia.

Cada lágrima derramada em cima da folha, era cada emoção guardada indo embora, foi aí que aprendi a minha segunda lição, a da infelicidade: "Esse é o problema da infelicidade, basta que uma coisa pior aconteça, para você perceber que era felicidade. "

Eu estava sendo feliz, mas não pude aproveitar os bons momentos, sorrisos perdidos, conversas perdidas, abraços não abraçados. Não consigo me perdoar comigo mesma, estou em conflito por dentro, me desmoronando.

Tentei respirar o mais fundo que eu pude, tentei ser forte mais uma vez, segurei minha respiração, e me ressurgi das cinzas, me reinventei.

Fui ao estábulo da Família Real, e montei na Jingle, sai pra correr junto com ela, o mais rápido que pude, me afastando com medo de realidade que me assombrava mais uma vez, cheguei a um parque, com muitas árvores ao redor, ninguém por perto.

Amarrei a Jingle em uma árvore para que não escapasse, e fui explorar mais o local, foi quando achei um lago com folhas secas flutuando sobre a água, que por sinal estava com uma boa temperatura, sinal de que o verão estava por vir.

Tirei o meu vestido lentamente, e fui entrando cada vez mais no lago, com as minhas mãos beijando a superfície da água. Mergulhei, e pelo menos uma vez na vida, silêncio e calmaria dominaram em minha mente.

Respirei fundo antes de entrar em casa, meus pais estavam me esperando e logo me perguntaram o que eu estava fazendo toda molhada, logo respondi:

- Oi mamãe, fui dar um mergulho na Praia do Vale (menti, mas era necessário, não queria que ela surtasse).

- Tá certo, vá se trocar e venha para a mesa, a janta já está posta.

- Ok mamãe.

Subi as escadas e fui me trocar, fiquei sentada por uns minutos, me admirando no espelho, me reconhecendo diante tanta tragédia, nem eu sabia mais quem era, tinha perdido a minha identidade.

Fiquei me perguntando mentalmente: "O que eu fiz comigo mesma? Por que Deus? Por que comigo?". Mais uma vez, muitas perguntas para nenhuma resposta.

Logo desci para jantar, não tinha ninguém mais na mesa, então mais uma vez estava sozinha em meio a esse mundo, é difícil você tentar se reerguer se não tem ninguém que note que você precisa de ajuda.

Eu só precisava de forças para continuar.

Meses e Meses se passaram, até que nada mudava o meu jeito de pensar, e as folhas do meu caderno já estavam se acabando e eu não podia pedir um caderno novo para os meus pais, pois era algo muito pessoal e não queria que eles se intrometessem. Não queria guardar aquilo para mim mesma, era muito pesado e forte para uma pessoa só, a dor do luto, o coração machucado, ninguém ao seu lado...

Então em um dia, eu vi um filhote de cachorro quase sendo atropelado na rua, provavelmente não tinha dono, e estava com muito medo e faminto, logo levei-o para minha casa e meus pais concordaram em tê-lo em nossa residência.

Meus empregados logo cuidaram dele quando necessário, ele se tornou um cão forte e obediente, não tinha o que reclamar dele, aliás me fazia muita companhia e me deixava feliz em momentos de que a tristeza era o humor da vez, o chamei de Ollie.

Os negócios do Reino iam bem, meu Tio nasceu com espírito para governar terras e mais terras, mas não tinha ninguém para lhe suceder ao posto de Rei, e eu não podia receber a coroa, pois ele não era o meu pai, o único jeito seria se ele abdicasse do trono, algo que seria impossível, iria manchar toda sua trajetória, ele também não podia ter mais filhos, pois sua esposa, a Rainha, já não tinha mais idade, e adoção naquela época não era algo muito praticado, ainda mais por nobres.

Eu estava nos últimos anos das minhas aulas residenciais, estava empolgada com tudo o que havia aprendido, além de muitos termos chatos, eu sabia como lidar com isso.

E foi por aí, fui levando a vida... dia a cada dia, me pondo novamente nos trilhos. Ficava relendo o meu caderno de desabafos, revivendo momentos, mas que não se enquadravam mais em minha nova versão, foi aí que eu o joguei para o mundo, para o mar, e guardado nas profundezas para ninguém mais o encontrar.

Tinha me livrado de todo o sofrimento e dor que tinha passado, será que a vida tinha me dado uma chance?

O verão chegou, e minha família tinha preparado um jantar de comemoração na minha casa, já que o Palácio de Salem estava em reforma e com um cheiro de tinta muito forte.

Os preparativos começaram a chegar de manhã, jarros com rosas vermelhas, enfeites, tapetes, quadros de renome, tudo pronto para receber os líderes de onde a monarquia de Salem governava.

Eu estava me arrumando no meu quarto, minutos antes dos convidados chegarem. Minha empregada penteava o meu curto cabelo castanho com cuidado e elegância, enquanto outras colocava jóias em meu braço e pescoço, símbolo de que a monarquia era forte e que possuía riquezas em suas terras.

Por fim, me vestiram e ajustaram o vantajoso vestido de seda em meu corpo de tonalidade branca. Significando Pureza e Paz.

Enfim, coloquei com cuidado as luvas e dei uma última olhada no espelho e respirei fundo, pronta para encarar os convidados e usar as regras que me foram ensinadas e submetidas nas aulas

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Enfim, coloquei com cuidado as luvas e dei uma última olhada no espelho e respirei fundo, pronta para encarar os convidados e usar as regras que me foram ensinadas e submetidas nas aulas. Foi quando ouvi o barulho dos carros chegando.

Fui descendo a escada lentamente com cuidado para não cair, com a minha mão levemente tocando o corrimão da escada de madeira com tapete vermelho, digna de uma cena de filme, não?

Foi quando os primeiros convidados chegaram, e me avistaram descendo a escada, logo perguntaram quem eu era para um dos mordomos.

Enquanto isso fui ver os meus pais antes do resto dos convidados chegarem e coloquei uma música clássica para elevar o clima da festa.

Logo, fui recebendo os convidados assim que começaram a chegar, logo essa menina frágil, tímida e sensível, foi perdendo a sua desenvoltura, e viu que não tinha que se esconder dos outros, e sim mostrar-los quem era Elena Davies.

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora