As Peças Celestiais: Condenação (Livro ll)

𝕮𝖆𝖕í𝖙𝖚𝖑𝖔 2: 𝕰𝖝𝖔𝖉𝖔

Sally

Eu sabia que ficaria bem. Era apenas uma fase ruim, um infortúnio passageiro. Mas ninguém disse que seria fácil esquecer.

Mason havia vindo até mim buscando vingança pela morte de seu irmão, e eu jamais poderia culpá-lo. Eu era uma assassina, sempre seria uma. Não importavam as razões, eu havia tirado a vida de uma pessoa, e deveria pagar por isso. Estava aguardando o momento em que viriam me buscar, e eu não resistiria. Me render era melhor do que me afogar em um martírio de dúvida, ao manter me perguntando quando seria a hora.

Eu me arrependia tanto. E, por algum tempo, eu realmente acreditei que poderia viver sem a culpa, mas era apenas uma ilusão minha.

Eu fui acolhida por todos quando cheguei, mas não contei a ninguém sobre o meu segredo, por medo do julgamento. Eu apenas buscava refúgio, algum lugar onde eu pudesse viver em paz, buscando meu próprio perdão antes de exigir o dos outros. Mas era quase inevitável que o castelo de areia que eu havia construído fosse derrubado pelas ondas da maré alta e atroz.

E agora, além de enfrentar meus próprios demônios, havia mais problemas a frente. As traições, as mentiras. Claro, eu não poderia cobrar a verdade de ninguém, já que me manti calada por tanto tempo, mas ao menos, não menti com o intuito de ferir alguém, e jogá-los aos leões, como Vergil havia feito.

Eu devia ter notado o comportamento estranho de Jack e Gadrieel antes. Talvez, se isso tivesse acontecido, algumas coisas poderiam ter sido evitadas, algumas mortes não teriam acontecido, e nossa vida não estaria em risco nesse momento. Estavam atirando de todos os lados, mas não havia lugar para onde pudéssemos ir. E a maioria de nós, apenas estava esperando sua sentença final, como Dylan e eu. Tristan e Gwen pareciam mais confiantes, mas Eva e Caleb haviam se fechado. Não havia como saber o que se passava na mente deles.

E eu não poderia estar mais traumatizada após o que acontecera. Ver aquelas tesouras, tantas delas, era como revisitar meu passado em um flashback doloroso. Todo o esforço que fiz para me manter firme, positiva e calma parecia ter ido por água abaixo, assim como todas as lágrimas que chorei novamente, me lembrando de quem eu realmente era. A imagem me assombrava, me perseguia. Não conseguia me olhar no espelho e enxergar através da figura facínora e desfigurada que eu havia enraizado em minha cabeça. E nada estava me convencendo do contrário.

Tristan estava sendo um verdadeiro anjo da guarda para mim, me ajudando a passar pelos dias ruins. Com tudo que estava acontecendo parecendo não ter fim, ele fazia tudo parecer mais simples. Mesmo que eu soubesse que não duraria tanto tempo quanto eu gostaria.

- Espero que você saiba que fazer aquilo foi necessário para sua sobrevivência. - Diz ele, sentado na cama ao meu lado.

- Não importa a razão. Ele apenas fez por vingança. - Murmuro, abraçando os joelhos, olhando para frente.

- Sally, ele era extremamente desumano, e você sofreu aquilo tudo sozinha, sem jamais reclamar. Não importa se Mason era irmão dele, ele devia saber as coisas horríveis que... Como era o nome dele?

- Benjamin.

- Então, Mason devia saber as coisas horríveis que Benjamin fez com você, e talvez com outras pessoas.

- Eu não acho que ele se importe com isso. - Olho para Tristan.

Por um minuto, penso se deveria dizer a ele sobre meu destino com prisioneira, mas logo volto atrás. Não queria que ninguém soubesse e tentasse me defender, ou se opor. A última coisa que precisávamos agora, era de mais uma morte, e sabíamos que qualquer um que se opusesse aos Patronos seria executado, ou levado. E eu não podia suportar outro peso em minha consciência. Já não me cabia mais.