𝕮𝖆𝖕í𝖙𝖚𝖑𝖔 5: 𝕽𝖊𝖓𝖉𝖎𝖈𝖆𝖔

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Evanora

Por muito tempo, eu temi uma grande parte de mim. Desde que descobri que era parte demônio, eu me sentia aprisionada sem saber que estava de fato presa, mas apenas quis ser o melhor para as pessoas, evitar feri-las. E descobri do modo mais difícil que não era uma decisão minha. Juntamente com isso, a realidade me atingiu quando eu soube que as pessoas que eu tanto acreditei, não eram ninguém além de traidores. E meus pilares foram arrancados de mim, reduzindo meu castelo a uma pilha de destroços cinzentos de concreto.

Eles não se importaram em me ferir. Eu garanto que não passou pela cabeça de nenhum deles, nem por um minuto sequer, a magnitude do dano que causariam a tantas pessoas inocentes. Almas que não mereciam ser perdidas e muitas outras vidas que deviam ser vividas do modo certo. Eles conseguiram tudo o que queriam com a ruína de outros. E agora, era a minha vez de mover a peça neste tabuleiro de xadrez em que eu vivia. De um simples pião, eu me tornei a rainha. E ninguém, nunca mais iria me tirar do jogo.

Eu estava aliviada de ter mandado Neriah para a Academia. Senti que devia explicações a eles, não muito específicas, mas o bastante para saberem que eu estava bem. Era a única coisa iluminava minha mente naquele momento.

Minha decisão final foi recorrer a Ozes, já que ele havia se mostrado disposto a ajudar-me. Eu não sabia até onde poderia confiar nele, para ser honesta, mas era meu único movimento à vista. Ele disse que viria me buscar mais tarde quando não estivesse sendo sufocado por funções, e eu estava esperando, sentada na areia, assistindo as ondas. O vento salvava meu rosto e fazia meu cabelo chicotear para trás a cada rajada refrescante e repentina. E essas poucas sensações, tão carnais, eram o que me faziam saber que estava viva.

Fecho os olhos por um minuto, tentando clarear a mente antes da tempestade, quando sinto uma presença atrás de mim, sorrateiramente.
Me levanto em um movimento rápido e retiro minha adaga do coldre a apontando para a pessoa, mal acreditando quando reconheci sua silhueta.
Era Gadrieel.

Ele parecia um gato assustado e perdido. Com as mãos erguidas, ele não se mexeu nem um centímetro.

- O que está fazendo aqui? -Rosno, ainda sem abaixar a guarda.

- Eu...Segui você. - Retruca, lentamente e calmo. - Achei que precisávamos conversar.

Solto o ar em minha boca.

- Eu não tenho absolutamente nada para falar com você. - Corro meus olhos por ele, com desdém. - Na verdade, deveria matá-lo agora mesmo, mas não quero outro crime na minha lista. Não vale a pena por tão pouco.

- Eva, você precisa me ouvir. Eu imagino o que você estar-

- Não se atreva. - Interrompi, bruscamente. - Você não sabe de nada. Não tem noção de como eu estou me sentindo e de como me senti quando você foi embora. Por sua culpa eu perdi tudo o que era mais importante para mim! - Elevo a voz, sem me importar com qualquer um que pudesse estar por perto. Ele deveria estar acompanhado. - Você mentiu, e não só para mim, mas para todos os meus amigos. Sabia o tempo todo, e poderia ter dito algo, mas apenas deixou que ele conseguisse o que queria. E meus parabéns, você foi um sucesso.

- Eu jamais quis machucar você. - Ele abaixa as mãos, dando um passo a frente, sem se importar com a lâmina que eu apontava para ele, firmemente. - Eu não tive escolha, por mais que você não acredite em mim. Eu tentei, Eva. Quis proteger você, mas Vergil tem poder demais. Não faz ideia do que ele é capaz.

As Peças Celestiais: Condenação (Livro ll)Onde histórias criam vida. Descubra agora