Capítulo 4 - Não me deixe ir

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Ansel

Pelos dias que se seguiram Tomas e eu conversamos sobre nossos sonhos, o que esperávamos do futuro, como estávamos secretamente apaixonados um pelo outro desde antes do verão.

- E o que fazemos agora? – Como sempre, minha ansiedade não me permitiu estar só no momento.

- Agora já estamos ocupados, o amanhã descobriremos juntos.

E foi isso que fizemos. Durante as duas semanas seguintes eu e Tomas vivemos intensamente cada dia daquela situação mágica e surpreendente ao mesmo tempo, ele me contou sobre como havia se interessado por mim ainda no segundo ano após me observar ler O grande Gatsby, contou sobre o apelido "Leitor misterioso" que ele e Elizabeth usavam para se referir a mim, Tomas falou sobre sua infância, sobre a ama de leite e os acampamentos de verão da igreja nos quais era forçado a ir.

Eu escutei, imaginei cada cena que ele relatou como se estivesse vendo as cenas de um filme, mesmo que já soubesse qual seria o final. Um dia, no fim da primeira semana, após fechar o caixa de um expediente extremamente movimentado e me despedir do Sr. Banks e Pierre, sim, consegui decorar seu nome, talvez o fato de ser um nome extremamente clichê tenha ajudado, fui até o galpão, Tomas me esperava como sempre, mas dessa vez, havia algo diferente.

Uma das mesas antigas que estava encostada na parede fora montada com talheres e uma tigela coberta com alguns panos, o cheiro estava de matar e Tomas estava arrumado para a ocasião.

- O que é isso? – Não consegui conter a excitação em minha voz.

- Isso – Ele se levantou e se ajoelhou, pegando uma de minhas mãos – Sou eu pedindo você oficialmente em namoro.

- Tentando me subornar com comida? – Franzi a testa – Bem, parece que você escolheu bem sua moeda de troca, e, caso não seja óbvio, sim!

Nos beijamos e eu tirei aquele momento para respirar, me sentia feliz, vivo, como se a magia tivesse voltado ao mundo depois de todo esse tempo e Tomas era um dos motivos de isso poder acontecer. Após aproveitar nosso delicioso prato de lasanha, usamos meu notebook para assistir alguns filmes, aconchegados, ele continuou me contando algumas histórias sobre sua adolescência, o que nesse ponto se tornou nosso ritual, ele contava sobre sua vida e eu lia o capítulo de um livro que havia escolhido, naquela noite estava lendo Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo, um romance sobre dois garotos que escondiam seus sentimentos um pelo outro.

- Isso é ridículo – Esbravejou Tomas – Por que eles não admitem logo que se amam?

- O famoso suspense para prender o leitor.

Continuei a ler até quando senti minha boca secar, peguei a garrafa de água ao lado do colchão improvisado e percebi que Tomas cochilara em algum ponto, por isso, organizei minhas coisas e me levantei tentando não acordá-lo.

- Cochilei – Escutei-o dizer – Me desculpa.

- Tudo bem, o capítulo estava quase no fim – Menti.

Ele se sentou e me analisou. Algo se passava em sua mente.

- O quê? – Confrontei-o.

- Me conta algo sobre você – Pediu.

- Algo sobre mim? – Refleti por um tempo sobre o que ele queria dizer com aquela pergunta - Bom, você sabe praticamente tudo, eu trabalho aqui há duas semanas e alguns dias, estou no terceiro ano do inferno e planejo ser um grande escritor um dia.

- Isso eu sei, mas é só o superficial – Senti o arrependimento em seu olhar no mesmo momento em que as palavras saíram da sua boca.

- Você tá me chamando de superficial?

Corações FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora