Capítulo 5 - Justiça Poética

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Tomas

Eu continuava a me debater incontrolavelmente enquanto os dois homens que entraram na livraria com meu pai me arrastavam dali, eles usavam roupas brancas e eram fortes a ponto de conseguir me levar para o lado de fora. Fui levado para uma vã que aguardava encostada na rua, pessoas paravam para observar a situação, algumas pareciam surpresas ao me reconhecer, outras indignadas com o teor de violência da cena.

Meu pai saiu da livraria e observou o alarde que aquela atitude havia causado, deu um passo à frente.

- Meus caros cidadãos, o que está acontecendo aqui é apenas algo, doloroso, mas necessário para ajudar um jovem confuso que chegou a forjar a própria morte para sua família – As expressões nos rostos das pessoas passavam pela confusão até chegar à compreensão.

- Hipócrita! – Gritei – Vocês estão sendo manipulados por esse nazista autoritário, se deixarem ele me levar, eu vou morrer!

Paul caminhou em minha direção, juro que se não houvesse tantas pessoas ali, ele provavelmente me espancaria até a morte. Ao invés disso, passou a mão sobre meu cabelo e continuou a falar, voltando-se para o pequeno grupo que se reunira.

- O que estão escutando é a instabilidade de um garoto mentalmente desequilibrado, eu jamais... – Limpou lágrimas de crocodilo enquanto continuava – Jamais machucaria minha própria família, o lugar para onde levarão Tomas será uma clínica que dará a ele uma chance de se curar desse distúrbio.

Apesar de ver que alguns ainda pareciam enfurecidos, grande parte dos ali presentes começou a aplaudir Paul. Assim, comecei novamente a me debater, sem sucesso.

- Isso. Estou orgulhosa da população dessa cidade – Uma voz conhecida interrompeu os aplausos restantes enquanto saia do meio da multidão – Aplaudindo um ditador fascista enquanto ele tortura o próprio filho, qual o nível da lavagem cerebral feita na mente de vocês?

Roxxene, nossa orientadora escolar e psicóloga de Ansel, parou há alguns metros de Paul cerrando os punhos.

- Se não é a minha estimada concorrente em campanha, Roxxene, não precisa causar uma cena, tudo já foi esclarecido – Paul mantinha sua voz firme para não demonstrar a irritação.

- Esclarecido por você – Ela colocou as mãos na cintura, enfurecida - Uma parte de nós, mesmo que pouca, prefeito, sabe que quando as coisas são reveladas por vossa excelência existe uma grande distância entre invenção e verdade.

- Chega, não tenho tempo pra isso – Paul se voltou para os mesmos homens que me seguravam – Levem ele! – Ordenou.

Enquanto era carregado para dentro da vã pude escutar Roxxene dizer:

- Essa é a gota D'água, vamos fazer o possível para salvar esse jovem das suas garras.

- Roxxene, você não vai querer recomeçar essa guerra – Paul advertiu-a.

- Te vejo no campo de batalha – Disse ela.

E então fui jogado na vã e as portas se fecharam.

Ansel

- Não podemos deixar isso acontecer – Minha voz soou firme e decidida, apesar da insegurança.

- Você está certo – Sra. Roxxene saiu de deus sabe onde e estendeu a mão para me ajudar a levantar – Temos que fazer algo sobre esse babaca.

- Sra. Roxxene? O que a senhora está fazendo aqui? – A dor na minha cabeça ainda era grande.

- Ela me ligou, contou o que aconteceu – Elizabeth interveio – Rox foi minha orientadora na escola, contei a ela sobre os abusos do meu pai e ela concorreu com ele nas últimas eleições para poder evitar que a cidade continuasse nas mãos desse tirano.

Corações FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora