Capítulo 3 - O Garoto no Galpão

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Ansel

- Ansel – A chamada veio acompanhada por três batidas sucessivas em minha porta - Abra a porta! Vai se atrasar para a escola – Mãe H parecia agitada.

- Tô indo, calma – Gritei.

Levantei da cama com o coração acelerado, que forma de começar o segundo dia de aula, ainda não conseguia discernir se o dia anterior havia sido um sonho ou se realmente acontecera, de qualquer forma descobriria assim que saísse de casa. Vesti uma blusa azul amarrotada e coloquei as calças apressadamente, em seguida destranquei a porta abrindo-a em seguida.

- Desde quando você tranca a porta do quarto? – Mãe H entrou, desconfiada.

- Precisa respeitar a privacidade do nosso garoto querida – Mãe T apareceu subindo as escadas – Nunca se sabe quando ele pode estar praticando uma sessão de auto amor.

- Uuurgh – Berramos eu e mãe H ao mesmo tempo.

- Trish, por favor, ainda não tomamos café da manhã – Mãe H se virou e as duas se abraçaram – Só o quê poderia tirar essa imagem horrenda da minha cabeça é seu rosto querida.

As duas se beijaram intensamente enquanto eu observava a cena, ainda tentando recobrar a consciência depois de uma noite de sono mal dormida.

- Hey dondocas, arrumem um quarto.

- Alguém está querendo ir andando para escola hoje – Mãe H cruzou os braços.

- Na verdade, Latrice e Sra. Roxxene vão me dar uma carona – Uma buzina soou em frente a casa – E devem ser elas, tchau.

Peguei minha mochila e uma maçã na cozinha e saí de casa como um furacão. Entrei no carro de Trice.

- Bom dia pessoal – Não sei se elas conseguiram escutar pelo fato de a minha boca estar cheia.

- Alguém tomou um caldeirão de café – Caçoou Sra. Roxxene – Como está querido?

- Ah, a senhora sabe, bem, só... Trabalhando agora e tentando não pensar em coisas não "frutíferas".

- Por mais que tenha adorado o momento de epifania devo alertar que se eu escutar senhora mais uma vez vindo da sua boca, vou te jogar desse carro – Sra. Roxxene começou a dirigir e ligou o rádio.

- Mãe! – Trice se virou para ela.

- Só estou brincando Latrice.

Era bom ter essa intimidade com a Sra. Roxxene fora do consultório, me dava à impressão de ainda ser alguém normal, de poder agir como se nada tivesse acontecido e como se pudesse seguir em frente.

No caminho, quando Trice pegou seu celular para responder algumas mensagens e Sra. Roxxene tinha sua atenção voltada para o noticiário minha mente voltou-se para todos os acontecimentos de ontem. A história de Tomas me tocara em um lugar profundo, saber os abusos de seu pai me dava ojeriza, só de pensar no que ele deve ter sentido, no que sempre sentiu com pais que tinham nojo da própria existência do filho, meu estômago começou a revirar.

Pelo menos no meio de todo o caos ele tinha Elizabeth, a forma como ela me olhou quando disse explicitamente que me mataria se algo acontecesse a seu irmão fora algo tão poderoso, ela se importava com ele, o laço entre os irmãos se tornara mais forte do que o vínculo entre pais e filhos, tudo isso pela ignorância.

O carro parou em frente ao colégio e Trice saltou imediatamente, saí do carro e fechei a porta atrás de mim.

- Tchau mãe, nos vemos mais tarde – As duas se despediram e nós dois fomos para nosso local. A árvore ao lado da entrada.

Corações FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora