Capítulo 6 - Asylum

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Tomas

Quando abri os olhos, a claridade do sol que entrava pela janela iluminava o quarto onde estava. Tentei observar o máximo de detalhes que pude sobre o lugar. Eu estava deitado em uma cama, vestia uma roupa típica de hospital, minhas mãos estavam amarradas à lateral da cama e havia duas cadeiras ao meu lado direito, o quarto era branco e parecia ter sido pintado há pouco tempo.

Tentei me soltar das amarras, sem sucesso. Era isso, o que quer que meu pai houvesse planejado, não havia nada que eu pudesse fazer pra impedir, a não ser me recusar a dar pra ele o gosto de me ver sofrer.

A porta do quarto se abriu de relance. Por um tempo ninguém entrou, escutei alguns sussurros e depois, para minha surpresa, minha mãe apareceu acompanhada por uma mulher vestida com o hábito, uma freira.

- Vou dar a vocês alguns minutos – A freira disse aquilo como se estivesse fazendo uma grande caridade.

- Obrigada Madre Octávia – A madre fechou a porta atrás dela.

Minha mãe aproximou-se da cama, me olhou por um segundo, não disse uma palavra. Então, senti o peso da sua mão em meu rosto, outro tapa, e outro.

- Você não sabe o quanto meu coração dói em te ver assim – Pela sua voz, podia-se acreditar que ela realmente sentia o que disse, parece que Elizabeth herdou seu talento de algum lugar, afinal de contas.

- Dói? Dói torturar seu próprio filho? – Não queria chorar, não queria dar a ela a satisfação de ter minhas lágrimas, mas não consegui.

- Torturar? – Sua voz soou surpresa – Não é o que estamos fazendo, veja, estamos te dando a chance de uma vida normal.

- Eu sou normal – Já estava sem forças para poder lutar com ela, para tentar fazê-la entender.

- Você nunca foi normal – Minha mãe sentou-se em uma das cadeiras e inclinou-se em minha direção – Desde quando eu estava grávida de você, sabia que eram dois? Sim, gêmeos, mas mesmo no útero você comeu seu irmão, uma fera, desesperada por sobrevivência – Os olhos dela começaram a lacrimejar – E então, não pude, simplesmente, amamentar uma criança assim? E quando você começou a crescer, sempre tão extraordinário e ao mesmo tempo sempre falhando, seu estilo de vida é uma perdição, torna você fraco, menos homem que os outros.

- Você é doente – Desabafei.

Ela se levantou, abriu a porta.

- Não, querido. Você está doente, seu interesse e atração por outros homens não é natural, é uma disfunção, mas nós vamos curar você – Disse ela, fechando a porta ao sair.

Algum tempo se passou, não sei quanto ao certo, minutos? Horas? As amarras faziam meus punhos arderem, fome e sede geravam náuseas em meu estômago. Finalmente a porta se abriu novamente, a madre entrou no cômodo com um copo de água e uma bandeja de comida. Ela deu a água em minha boca.

- Você está pronto para se arrepender dos seus pecados e aceitar o senhor Jesus Cristo como seu salvador, deixando para trás os antigos hábitos da carne? – A freira segurava o pão que pegara da bandeja como se esperando uma resposta para poder me dá-lo.

- Eu não acredito no seu Deus – Assim que as palavras saíram da minha boca, senti uma bofetada.

- Você e os outros desvirtuados – A madre passou suas mãos pelo meu corpo – Pervertidos e pecadores, são o motivo dessa terra precisar ser purificada. Sem pão pra você hoje, só os puros merecem a misericórdia do senhor.

- O que está acontecendo aqui? – Uma mulher parou diante da porta observando a cena, ela usava um jaleco branco e tinha os cabelos pretos presos em um coque.

Corações FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora