Epílogo

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Elizabeth

As chamas na lareira dançavam enquanto a tempestade fazia com que os gritos de Vincent fossem afogados.

- Nós temos que contar a verdade! – O arrependimento, a vergonha em sua voz fora algo crescente nos últimos três anos. Como se tivesse esquecido os motivos que nos levaram àquela decisão.

- Vincent – Cruzei a sala e parei em frente a ele, pude perceber seus tremores, mas não eram pelo frio, e sim pelo medo. Toquei seu rosto suavemente – Não podemos, o que fizemos foi para nos proteger, sabe disso. Meus pais não mereciam a chance de estragar nossas vidas.

- Pode parecer justo para você Elizabeth – Sua voz trêmula acompanhou as lágrimas que escorriam em seus olhos – Mas para mim não é mais justificável ter tirado a vida de duas pessoas – Ele afastou minhas mãos – Eu vou à polícia, se quiser fugir tem o tempo em que estarei lá, mas é isso - Vincent cerrou os punhos - Não posso mais viver assim.

Ainda nervoso, ele pegou sua jaqueta e enquanto a vestia notei o quanto tenho tentado fazê-lo entender, por tanto tempo, que o que fizemos era a única saída, eu estava esgotada. Antes de ir ele se aproximou e beijou minha testa.

- Eu amo você – Havia um mas naquela frase – Mas preciso dormir quando encostar minha cabeça no travesseiro.

Ele se virou e andou em direção à porta. Tudo que passou pela minha cabeça naquele momento foi o quanto ele não conhecia minha dor, o quanto não tinha noção do que nossos pais fizeram com Tomas. Ao abrir a porta notei que se Vincent saísse dali, tudo que eu fizera teria sido à toa. Antes que pudesse dar um passo adiante a porta se fechou com um baque em sua cara.

Vincent olhou ao redor e eu senti enquanto as chamas da lareira ganhavam vida atrás de mim.

- Elizabeth – Ele se voltou para mim – O que está acontecendo? O que está fazendo?

- Eu não sei - O sangue percorria meu corpo como eletricidade - Só sinto que não posso deixar você ir, me desculpe.

Mesmo que eu não soubesse como, o sentimento fazendo meu coração bater naquele momento foi o suficiente para fazer com que os pés de Vincent saíssem alguns metros do chão. Ele levitou no ar por um instante e foi trazido até mim pela força que o sustentava. Seu olhar era de profundo pânico e incredulidade.

Me movi alguns metros e observei enquanto o fogo da lareira manifestou-se até encontrar o corpo de Vincent, consumindo-o.

Observei a cena ainda com euforia, suava frio. Quando tudo que restava eram cinzas na minha frente, percebi que o temporal se acalmara e as chamas haviam voltado a lareira. Ao tentar dar o primeiro passo para sair dali, caí com tudo no chão. Antes de desmaiar e com a visão borrada, vi alguém se aproximando.

- Ela é perfeita – Uma voz irreconhecível disse – Eu quero ela. 

Corações FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora