Por algum motivo, Jimin estava envergonhado.
Talvez um tanto... culpado.
Quando Jeongguk o flagrou chegando em seu quarto tanto tempo depois do dia amanhecer, se sentiu numa posição de alguém que estava fazendo algo errado. O que não fazia sentido algum, se pensasse melhor. Era um homem adulto e tinha o direito de chegar em casa na hora que bem entendesse.
A verdade é que estava incomodado por notar que Jeongguk era seu novo vizinho. Sabia que o garoto se tornaria cada vez mais próximo de seus amigos, uma vez que, além de ser melhor amigo de Taehyung, todos o adoravam.
Jimin até tinha tentado ser simpático. De verdade.
Quando se encontraram no vestiário no dia anterior, depois de ter assistido o treino do moreno, até tentou cumprimentá-lo, mas Jeongguk sequer olhou para si. Logo, Jimin se irritou.
Sua paciência era tão pequena quanto ele mesmo e a falta de reciprocidade pela sua simpatia tinha feito com que decidisse que não iria se esforçar novamente para manter uma relação amena.
Mas agora, além de conviver com ele em possíveis saídas descontraídas com os amigos, também teria que manter a política da boa vizinhança.
Quando se esbarraram no corredor, Jimin estava voltando do dormitório de Taemin, um patinador que também treinava no centro e um parceiro casual de longa data. Jimin era o maior fã de patinadores artísticos? Não. Negaria que, apesar disso, às vezes ir contra seus princípios valia a pena? Jamais.
Tinham se encontrado na lanchonete, acabaram conversando e estendendo um pouco a noite.
Não tinha feito nada de errado.
Mas por que se sentia desconfortável?
Porque, agora, Jeongguk era seu vizinho e sua mente compulsória e involuntariamente sempre voltava nisso.
Jimin tinha transtorno obsessivo compulsivo, ou como sua terapeuta preferia dizer: ele era um neurótico obsessivo.
Isso significava que a mente dele transformava trivialidades em gatilhos que rebobinavam em sua cabeça o dia inteiro.
Quando criança, assim que diagnosticado, Jimin contava os azulejos das paredes incansavelmente. Todos os dias de manhã, contava os azulejos de seu banheiro enquanto escovava os dentes. Na escola, contava os azulejos da sala de aula. Contava os azulejos da casa da sua avó, assim como os do consultório de sua dentista. Contava em todas as oportunidades, só para ter certeza de que estava tudo bem.
Na adolescência, criou um hábito não saudável de escovar os dentes de forma compulsória. Não escovava a cada refeição, mas sim a cada hora, no máximo. Escovava tanto, até sangrar, ao ponto de sua dentista (a mesma do consultório do qual contava os azulejos) disse que tinha perdido 20% da massa gengival.
Depois que saiu de casa, criou um ritual antes de dormir. Todas as noites, checava três vezes se tinha 1) desligado o gás; 2) fechado a torneira; 3) trancado a porta. Conferia os três itens exatamente três vezes nessa exata ordem.
Acreditava que Jeongguk era um novo gatilho.
Pensava no rapaz em todas as oportunidades e, quando não pensava, torcia para que alguém mencionasse algo que o fizesse pensar.
O tempo foi passando desde que descobriu que eram vizinhos e agora fazia quase uma semana que tinha conhecido o rapaz. Quase nunca o encontrava e quando acontecia, era geralmente na ala de treinamento e apenas de longe. Tinha notado que Jeon saía de seu quarto basicamente no horário em que acordava e provavelmente voltava antes de si, uma vez que os treinos de hóquei duravam até a parte na noite. Pensava nele antes de dormir e pensava nele ao acordar.

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burning ice [jikook]
FanfictionAos 22 anos e no ápice de sua carreira, o patinador artístico Jeon Jeongguk sofre um acidente que faz com que sua vida vire de ponta cabeça: após seis anos morando em Moscou, o atleta se muda para Seul a fim de se recuperar para a próxima temporada...