A interrupção

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Ouço passos apertados vindo em direção do meu quarto, automaticamente as portas se abrem e um homem de aspecto idoso, barba branca e cabelo bem penteado aparece. Como se tivesse visto um fantasma, Érica levanta e faz uma reverência ao velho, o qual a ignora e a olha com desdém.  Ele abre bem os meus olhos, pressiona meu pulso, aponta a lanterna mágica novamente nos meus olhos e, ao tirar alguma conclusão do que estava fazendo, olha fixamente para a biomédica que, no momento, parecia um cachorrinho com medo.
  - Senhorita Lopez, a paciente apresentou uma boa ativação na memória e eu não fui comunicado? Eu avisei que esta moça é uma peça de urgência no nosso laboratório! -ele gritou na última frase, ambas demos um pulinho de susto.

  - Mil perdões senhor Nelson, eu estava esperando mais alguma melhora em sua mente para poder colher o material que preciso para completar a pesquisa. Não irá se repetir nivamente. -Érica abaixou a cabeça e pude perceber que ela queria chorar.

  Não consegui ouvir aquele velho falando de mim e ficar calada. Segurei a lanterna firmemente, como se segurasse uma espada, e então, olhando nos olhos dele eu mostrei que ninguém falava comigo daquele jeito.

  - Primeiramente, peça de urgência? Eu não sou um objeto e exijo respeito! Em segundo lugar, quem é o senhor?

  Ele se apresentou, pediu desculpa pela grosseria e disse se chamar Dr. Nelson Cavanohg, formado em Medicina do Exército Nacional Russo e Medicina da Aeronáutica Russa. Aproveitei o embalo e perguntei sobre minha vida, esperando que ele tivesse respostas sobre esses artigos que escrevi e minhas pesquisas. Ou uma foto dos meus pais e do meu namorado Miguel.
  
    -Lamento informar mas seu marido Sr. Miguel Arango está desaparecido desde 1990. Obviamente já está morto, mas o que a tolice do amor não faz, não é?! Ou vai dizer que a formiga ruiva não contou que o melhor neuro e bioquímico do país foi atrás de você pelo universo e nunca mais voltou?

   O meu mundo novamente escureceu. Primeiro, então eu realmente me casei com o Miguel. Segundo, ele morreu. Terceiro, tentando me salvar. Era muita informação em menos de 24 horas. Eu precisava respirar um ar puro. Caminhei lentamente até uma janela que ficava em um corredor ao lado do meu quarto, na esperança de sentir a brisa das árvores ou então o cheiro de chuva. Mas ao abrir as portas, fui tomada por uma decepção enorme: não havia árvores, muito menos nuvens. Era como se o ar estivesse parado e, por incrível que pareça, o falso ar do ar-condicionado estava melhor que o ar lá de fora.
  Voltei para meu leito e então a biomédica apareceu.

  - Me desculpe por isso, eu não queria falar disso agora pois sei como está confusa. Vou aplicar outra dose do remedinho de ontem, quando acordar, acredito que se lembre de mais alguma coisa.

   - Sem querer ser rude, mas, aplicar remédios, checar os olhos, temperatura, não é a função dos enfermeiros? Por que você está cuidado de mim sem a sua equipe? -Fiz uma cara de dúvida e pude perceber que ela estava querendo soltar um sorrisinho de canto.

  - Você está certa, mas você é um caso especial, como havia dito o Dr. Nelson. Então há momentos em que apenas eu irei te checar. Espero que não te incomode. Agora vamos introduzir isso aqui. Bons sonhos garota, espero que se lembre de algo bom.
 
  E então adormeci.

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