Backup cerebral

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Mais uma vez abro os olhos, desta vez, me deparo com Érica me olhando, seu olhar trazia um ar de fracasso, tristeza. Então levanto e percebo que estava enrolada em cobertores. Ao meu lado, medicamentos e chás naturais, acho que adoeci. Perguntei o que havia acontecido.

- Sinto muito, Kat, você desmaiou durante o procedimento. O correto seria acordar em 5 horas mas você não não acordou... dormiu por cinco dias. - Eu estava decepcionada comigo mesma. Como não pude conseguir repetir o que fiz há quase um século?

- E o Dr. Nelson? O que disse?

- Não se preocupa com ele, eu disse que você estava anotando fórmulas e não queria ser interrompida. Ele não sabe do seu mini coma. - Ao dizer isso, um sorriso de canto surgiu em seu rosto, e foi impossível não sorrir para ela. Essa mulher me encanta, me faz querer encontrar resposta, me faz querer tê-la por perto, sempre.

- Obrigada por todo carinho comigo. Em meio à tanto caos, tanta bagunça, loucura, é em você que encontro um porto seguro. - Então minhas mãos tocam as dela, e sinto que nada mais no mundo importa.

- Katrina, enquanto você dormia, ousei investigar o Dr. Nelson, saber o porquê dele agir estranho conosco. Puxei a ficha completa dele e vi que ele tinha Arango no sobrenome, porém mudou quando veio trabalhar nessa agência. Não acha estranho?

- O mesmo sobrenome do Miguel... Será que é filho de algum parente?

Com tanta dúvida pairando no ar, volto minha atenção aos papéis, contas e fórmulas na tentativa de descobrir porque meu procedimento falhou. Então olhei para Érica, ela estava lendo alguns artigos, tão focada que esquecia que estava mordendo as unhas. Sentimentos surgiram em mim e então lembrei: hormônios, substâncias químicas, sangue. Eu me lembrei completamente de tudo que não havia escrevido. Eu estava pronta pra voltar no céu. Mas não podia entregar isso de bandeja para esse ditadorzinho conhecido como Nelson.

- Érica, tem alguma forma de anotar minhas ideias e escondê-las? Não quero que descubram que consegui resolver o caso e que sei como nos levar ao espaço. -Falei tão baixo que a minha ruiva teve que se aproximar mais de mim, então continuei a sussurar, disse "por favor", e dei um beijo em suas bochechas coradas.

- É claro que sim, minha paciente mais doida. Na verdade, criei um dispositivo há um tempo, usando suas próprias ideias escritas num artigo, e não tive em quem usar. Eu introduzo esses acessos em seu cérebro e todos seus pensamentos serão armazenados nesse Pen Drive. Não era bem assim que você havia planejado porém aprimorei mais. Pode trancá-lo com uma senha, se quiser. -Como a tecnologia evoluiu. Fiquei abismada, eu havia pesquisa sobre isso no início da minha carreira, deixei de lado quando foquei na Temporal. Porém concordei.

As maos suaves de Érica introduziram uns fios na minha testa, na minha veia, um soro fora injetado e, mais uma vez, a tela holográfica apareceu, porém, agora havia algo diferente na leitura dos meus códigos cerebrais.

- Kat, parece que o tempo em que esteve dormindo fez com que o seu cérebro "escondesse" algumas coisas. Agora, com estímulo de substâncias químicas e recuperação de confiança, há algo no seu lobo Occipital, mas não consigo decifrar. - Naquele momento percebi que eu realmente sabia de algo, mas não lembrava. Então pedi para que injetasse em mim mais um soro de memória, que me fizesse lembrar de tudo.

Mais uma vez acordo, sonolenta, porém as lembranças surgem nitidamente a cada segundo. Eu estava espantada com tudo que me recordava. Gostaria que Érica estivesse do meu lado para colocar aquela lanterna mágica em meus olhos e ver o que eu vejo. Mas ela não estava. Levanto rapidamente e olho ao meu redor, então a vejo, sentada com os pulsos machucados. Seus labios sussuravam "me perdoa", então a porta se abriu. Era o Nelson.

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