Constelação De Temporal

Fogo nas estrelas

Fazem 2 meses que me recordei de algumas coisas do passado. Tenho vivido esses 60 dias com a frequente visita da minha amiga Érica, ela quem me ajuda a lembrar do passado está contra os experimentos e testes que querem fazer em mim devido ao meu sono do milagre. Pela primeira vez hoje irei andar pra fora do meu quarto, passei muito tempo deitada e quero recuperar minha energia.
 
   Com o cabelo preso em um rabo de cavalo, pele macia, olhos castanhos claros, percebi que não envelheci nada. Coloquei a roupa que estava separada pra mim no criado mudo. Uma blusa térmica branca e uma calça marrom. Aparentemente o mundo nesse ano não gostava de coisas coloridas.
  Comecei a andar pelos corredores daquele imenso lugar, televisores holográficos me cercavam, bem como os purificadores de ar, pequenas caixas de cor prata que soltavam umq fumaça com cheirinho de eucalipto. De repente, uma mão me puxou para um quarto pequeno e escuro. Tentei gritar mas haviam tapado minha boca com a mão.  Quando me virei pronta para furar o olho da pessoa, percebi que era a Érica. Quis saber o motivo do surto.

  - Eu encontrei suas anotações e pesquisa, agora tudo faz sentido, agora sei o porquê de todos aqui te tratar como algo especial, não que você não seja, enfim, você entendeu. - Ela gaguejou de nervoso, mas entendi.

  - Eu não acredito nisso. Muito obrigada, de verdade. Não sei como te agradecer.

   No momento em que parei de falar, eu só conseguia encará-la. Notei seus belos olhos, o nariz pontudo, seu cabelo que no escuro ficava mais vermelho. Notei e estudei toda a expressão facial que ela apresentava. Minha memória de neurocientista havia voltado e eu pude perceber que ela queria algo que não podia. Me aproximei para enxergá-la mais de perto. Mas o meu cérebro é quem dá as ordens e ele ordenou que eu a tocasse no rosto. Temi ser repreendida, invés disso, fui retribuída. Seu rosto ficava cada vez mais perto do meu e eu pude perceber que ela tem sardas, que tem alguns cravos no nariz e que seus olhos inploravam por mim.
  Como se estivéssemos em câmera lenta, nossos lábios se tocaram, automaticamente os olhos fecharam e o tempo parou. Nada existira naquele instante. Não havia medo, dúvida, descoberta. Eu queria sentí-la assim para sempre. Após um longo beijo, olhei assustada para a minha médica e perguntei o que havia acontecido. Ela olhou-me com aqueles olhos chamativos e disse: eu sonho com esse momento desde que te estudava, quando você ainda estava no sono.
   Após perceber que não era uma atitude vinda por impulso, mas sim, com muito desejo, atirei a minha ruiva na parede e a beijei. Nao sentia essa sensação verdadeira desde o casamento.
  Nossa noite foi incrível. Érica tinha os lábios mais doce que um favo de mel, as mãos mais suaves que um vestido de seda, os olhos mais brilhantes que cristais. Naquele momento, eu era completamente dela.
   Ao acender a luz, a biomédica procurou um botão, o qual ao ser pressionado, abriu uma porta com uma escada que, ao subir, nos levou ao observatório da Roscosmos.
  Me deparei com uma sala enorme, o teto estrelado, rodeado de slides com vídeos e fotos do universo. Eu me senti em casa. Eu estava feliz.
  - Trouxe para nós. É da sua época - Ela disse mostrando uma garrafa de vinho dos anos 1960. E entao rimos muito.
   Olhando para a imensidão da noite com sua vasta constelação, meus olhos brilhavam. Deslizei meus dedos em todo corpo da minha amiga, mapeei as estrelas daquela noite em suas costas e passamos a noite juntas. Dormimos agarradas como unha e carne, torcendo para que não amanhecesse para que pudéssemos transformar aquele momento em algo eterno.

   Ao acordar, observei o nascer do sol e seus primeiros raios refletirem nas costas da Érica, iluminando apenas algumas estrelas do meu mapa e me fazendo relembrar de algo que mudaria tudo.
   A minha pesquisa não era sobre uma constelação, era, na verdade, sobre um buraco de minhocas que não sugavam estrelas, apenas as atraíam, e, por isso, havia uma constelação em sua volta.  A constelação Temporal na verdade era um buraco de minhocas.