Um novo passado

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   As telas que me cercam são enormes. A máquina de datilografia se transformou num teclado fino, as transmissões de ondas de rádio permitem o contato entre pessoas de diferentes lugares do mundo com apenas um aparelho móvel. Estou me sentindo no paraíso, um pouco assustada mas, ainda assim, no paraíso. 
Pude acessar os bancos de dados sobre recentes descobertas para me atualizar e descobri que há novas fórmulas matemáticas; a Física quântica fora aprimorada; existem até fotografias daquilo que antes era apenas pintado. Sinceramente, eu poderia morar nesta sala completamente enorme.

   - E então, achou algo de relevante? - Érica chegou tão delicadamente que mal pude perceber sua presença.
 
   -Na verdade, achei sim. Foi um pouco difícil, tanta tecnologia às vezes é assustadora.  Queria te pedir uma coisa.

   - Qualquer coisa. - Em sua boca formou-se um lindo sorriso, deixando aparecer uma covinha, o que realçara ainda mais suas bochechas rosadas.

   - Gostaria de ter acesso ao laboratório Químico. Se meu experimento funcionar novamente, o próximo passo será visitar o espaço outra vez.

    Pude perceber que seu semblante mudou. O sorriso fechou-se deixando o rosto com um aspecto de medo. Senti que ela não ficou confortável com minha ideia.
  Mesmo assim, ela me levou até uma sala totalmente branca. O chão era de mármore branco, nas paredes haviam um estofado com Chumbo dentro para que a sala não ficasse tão exposta à radiações. Haviam todos os tipos de microscópio, máquinas de Raio X, entre outros equipamentos fundamentais. Porém, um equipamento em especial chamou minha atenção. Ao avistá-lo, meu sorriso se expandiu de alegria. Era uma cabine em forma de um grande cilindro, que, ao ter suas portas lacradas, tem sua gravidade diminuída. Não precisaria ir ao espaço, posso centrifugar meu sangue  aqui mesmo.
   
    Concentrada em meus afazeres, ouço passos largos. Repentinamente a porta se abre, dando espaço para que o Dr. Nelson adentre o meu mais novo lugar sagrado. Seu olhar é de ira, intriga, prazer, raiva. Uma mistura de sentimentos, os quais sou incapaz de decifrar.

   -Ora ora, então nossa protegida já está pronta para voltar aos trabalhos, não é mesmo? Pois bem. Estávamos todo esse tempo à sua espera. Esperamos você acordar para que você resolvesse o problema que você criou. - A cada "você" , seu tom de voz aumentava. O dedo que ele estendia sobre meu rosto estava me dando ânsia.
 
    - Depois do show que o seu marido deu nos jornais quando soube o motivo de sua partida, todos os olhos foram voltados para o seu prjeto louco "buraco de minhocas". Tentamos por anos e não conseguimos descobrir, sendo cobrados pelas autoridades Russa. Agora você vai nos ajudar a recuperar o que é nosso. Nossa dignidade.

   Eu estava prestes a explodir. Como alguém ousa falar assim comigo? Eu faço o que eu quero, quando eu quero e onde eu quero! Mas infelizmente não posso ir contra as portas de metais que se fechariam até que eu conseguisse a resposta. Trancada dentro do laboratório, me senti mal por estar sendo pressionada, porém, senti um conforto familiar. Estava com saudade da minha própria companhia. É estranho, desde o Miguel, eu só pensava em mim e ficava feliz, mas agora, sinto a falta de uma pessoa para compartilhar alegrias e descobertas. E apenas uma pessoa ocupa esse pensamento.

   - Me desculpa por isso, o Dr. Nelson é um ditador, todos o temem. Mas eu prometo te tirar daqui. Infelizmente, não tenho muito o que fazer para ajudar agora. Tenho ordens de ficar e orientar você. - Quando a ouvi falar, todos os meus instintos, moléculas e átomos queriam abracá-la. Ela era combustível e eu comburente, prontas para pegar fogo. E foi aí que pensei: Fogo.
   Vi em uma de minhas pesquisas que assim como as estrelas, os cometas não são atraídos pelo buraco, o que reforça minha teoria de que lá dentro é um espaço exageradamente frio. Tudo estava se encaixando na minha mente, de uma forma que eu não conseguia explicar ou escrever. Então, com a ajuda de Érica, fizemos o teste da injeção de hemácias visanso a Hipóxia cerebral. Centrifugamos o sangue na Câmara de vácuo, o famoso cilindro sem gravidade, e, com roupas apropriadas e com oxigênio suficiente para que eu sobreviva, sujeitei-me a introdução da substância em meu corpo.    É incrível. A mesma sensação, a mesma dor de cabeça e o mesmo desmaio. Daqui a 5 horas acordarei. Está escrito em minhas páginas. 

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