Reencontro

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       Passaram-se algum tempo que estamos tentando montar a máquina neutralizadora. Tenho a ajuda do Dr. Nelson, que é extremamente inteligente. A Érica e eu conseguimos falar com a Elizete, ex engenheira aposentada, mesmo idosa, com sua pele enrugada e seus cabelos bracos com as pontas ruivas, nos recebeu de braços abertos. Fazia alguns anos que Érica não via a mãe, a qual estava na sua casa de infância cuidada por enfermeiras. Temos acesso à todos os arquivos da Engenharia da NASA e da Roscosmo graças ao Jacob e sua esposa.
       Enquanto a oficina estava lotada de engenheiros mecânicos operando, calculando e criando a máquina, tive tempo para conversar com a mulher que me tira o fôlego.  Com o rotineiro jaleco branco, o cabelo preso em uma trança e fiapos soltos pelo rosto, óculos quadrados realçando os seus olhos verdes, Érica vem em minha direção. Meus dedos se entrelaçam nos seus, nos guiando pelos corredores. Caminhamos juntas até o laboratório.

- Quem diria, o lugar que nos tornou reféns é agora o meu canto de paz... - Ela disse enquanto olhava para todos os cantos daquela enorme sala que um dia nos aprisonara.  - Então, quando a máquina ficar pronta, você irá embora? O que será de nós?
   Eu pensei, pensei bastante antes de respondê-la. Eu realmente não queria me afastar dela, mas tinha que voltar lá no espaço com a máquina e "salvar o mundo" das fendas temporais. Ela poderia me acompanhar, mas sinto que é pedir muito.

- Érica, você é o meu primeiro pensamento ao acordar, é com você que quero ficar. Mas tenho que partir. O que vou te pedir é ridículo então sinta-se a vontade para negar. Olha, eu não tenho mais ninguém além de você que me prenda na terra, não tenho família, não tenho casa. Assim como você. Sua mãe está bem cuidada, você é inteligente e importante para nosso projeto... enfim... Você aceitaria ir comigo nessa viagem? Mesmo sabendo que podem se passar anos.

      Ela olhou-me com um olhar que não pude desvendar. Uma mistura de dúvida, alegria, medo se encontravam naquelas íris cor de esmeraldas. Fui surpreendida com um grande beijo, e tenho certeza que essa fora a resposta. Tenho certeza que isso é um SIM! Após me dizer que concorda ir ao espaço comigo, ela aperta um botão que tranca as portas. Seus dedos tocam meu rosto lentamente. Retribuo. Sinto cada átomo em meus dedos. Sinto seu coração saltar. Nossos narizes encostam um no outro, dando espaço à um grande beijo. Minhas terminações nervosas transformaram-se em faíscas. Todo o meu corpo estava em chamas, suando. Sem nenhuma dificuldade arranquei o jaleco do seu corpo. Para que tanta roupa? Havia ainda mais blusas em seu corpo. Tirei tudo que me impedia de sentí-la. Pude sentir meu corpo ser despido, à medida que acariciava suas costas. Eu estava perdidamente apaixonada por ela, e, ao dar uma pausa nos beijos, deixei escapar em sussurros "eu te amo". O medo de ser repreendida tomara conta. A última vez que disse isso à alguém foi um dia antes do meu casamento. Já fazem anos. Então ela segurou minhas mãos, e olhando nos meus olhos disse: Eu te amo!

          Após sair do laboratório radiante, o Engenheiro nos chama para uma conversa.
- Dra.  Érica Lopez,  Dra. Katrina, acho que gostaria de saber que faltam apenas uma semana para terminarmos. Se não for muita audácia, posso saber o que pretende fazer depois?

- Tudo bem, amigo? Então, você poderia avisar à equipe para preparar uma nave espacial para nós? Iremos levar a maquina à um lugar.

- Entendido senhora. Obrigada.

    Para ser sincera, sentia falta de ser tratada como alguém importante. Passei muito tempo aqui sendo a paciente, a pessoa que precisa de cuidados. Agora sou eu quem dou as ordens.
     Chegamos à oficina e então convoco à todos. Quem me visse de longe acharia que sou a comandante da Roscosmo. Convoco o exército e toda equipe de segurança da Agência espacial.
- Atenção à todos. Há uns anos fenômenos raros como fendas temporais pairam no universo, com a destruição gradativa da camada de ozônio, essas fendas irão aumentar. Esse projeto é para isso, impedir que todos sejam "sugados" por um lapso temporal. Porem a NASA não pode saber, pois os recursos vieram de alguém que lá trabalhava. Conto com uma equipe para me acompanhar nessa viagem, mas não os forço, sei que ao ir, não saberão quando irão voltar. Preciso de muitos policiais, médicos, engenheiros, agrônomos e físicos. Ademais, quem for de outro cargo e quiser se voluntariar, podem me procurar. Partiremos em uma semana.

       Sentei-me numa sala branca, com mesas e máquinas de comida em volta. Peguei um copo grande e o enchi de café. Peguei uma barrinha de cereais para acompanhar. Então érica sentou ao meu lado.
- Kat, há alguma chance do meu pai estar vivo? E do Miguel também. - Nunca havia pensado nisso, mas talvez.

- Eu não sei te dizer. Eu ainda não sei como funciona o tempo. Talvez tenha se passado anos pra ele, ou dias.  Ou talvez o Miguel tenha aprontado algo com ele.

            Acordei naquela Quinta-Feira, pronta para partir novamente. Penteei meu cabelo num alto rabo de cavalo, deixando cair uma mecha marrom, acho bonito. Encontro com Érica pontualmente às 06:00 horas no laboratório. Lá, contei com a presença dos voluntários e, para minha surpresa, havia vários. De médicos à engenheiros, de físicos à cozinheiros. Toda classe trabalhadora estava aqui. Com ajuda de Érica, colhemos o sangue de todos, centrifugamos no cilindro de gravidade zero e implantamos os seus próprios hormônios para atrasar a velhice. Todos estavam prontos. Inclusive nós duas. Dr. Nelson apareceu de última hora, nos deixando surpresos.
   - Sei que errei com você Katrina, mas quero compensá-la. Deixe-me ir com vocês. - Não podemos negar que o Nelson fora de grande ajuda ultimamente, então o aceitei na equipe e fiz os procedimentos. Agora sim, estávamos prontos para partir.
   
       Em 3, 2, 1... Estamos voando. Na terra, jornais e revistas estavam curiosos para saber do nosso plano, mas ninguém disse nada.  Na nave, sento ao lado do meu grande amor. Olhamos para as estrelas, vemos a terra tão longe. Era um monento marcante. Lembrei-me de quando fui sozinha para o espaço, com medo, chorando. Agora estou acompanhada. Feliz. Sinto que cumpri minha missão. Meu pai estaria orgulhoso por eu ter saído da caverna.
     Após alguns dias, vejo novamente o buraco escuro, nada mudara, nem mesmo a espiral de luzes ao seu lado. Isso me fez crer que a Tripulação do Amanhã ainda existe. Ao ser atraída para a grande molécula sugadora de estrelas, as turbinas param de funcionar. Todos se assustam, mas fico feliz, pois significa que entramos na órbita em direção à Tripulação. A grande luz faz com que todos fechem os olhos para não ficarem cegos. E então, mais uma vez, olho para os quatro guardas. Eu me senti tão feliz, tão radiante por vê-los. Ao sairmos da nave, eu e minha tropa, dei um grande abraço no guarda número dois, que acenou para mim e nos levou até a sala com portas de vidro. Aquele ambiente parecia um Flashback, eu queria mostrar tudo a todos da minha equipe, queria fazer um Tour pelo espaço. O pessoal esperou lá fora enquanto entrei na sala. Meu coração palpitava, minhas mãos tremiam de ansiedade. Quem seria o Agente? Quanto tempo se passou? Onde estaria o Jacob?
    - Minha amiga, sentiu falta do espaço? O que fez para voltar tão rápido pra cá? - Era ele, nada havia mudado. Seus olhos escuros brilhantes, o sorriso enorme, demonstrando toda sua alegria ao me ver, seu terno branco de metal. Não me aguentei e dei-lhe um abraço enorme. Estava tão feliz por vê-lo.
-Ah Jacob! Você está vivo! Senti sua falta. Teremos tempo para conversar, mas antes, quero te mostrar algo. Érica? Venha aqui.
    Érica entrou lentamente na sala. Estava com os cabelos soltos e ruivos, duas mechas presas em tranças, seus olhos piscavam e deixaram cair lágrimas. Ele era igualzinho a foto que sua mãe havia lhe dado há um tempo.
- Oi, pai. É um prazer te conhecer. - Ela disse isso e chorou.

    

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