XXI

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O sexto planeta era dez vezes maior. Era habitado por um velho que escrevia livros enormes. 

- Bravo! eis um explorador! - exclamou ele, logo que viu o principezinho

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- Bravo! eis um explorador! - exclamou ele, logo que viu o principezinho.

O principezinho assentou-se na mesa, ofegante. Já viajara tanto! 

- De onde vens? - perguntou-lhe o velho.

- Que livro é esse? - perguntou-lhe o principezinho. - Que faz o senhor aqui? 

- Sou geógrafo. - respondeu o velho. 

 - Que é um geógrafo? - perguntou o principezinho. 

- É um sábio que sabe onde se encontram os mares, os rios, as cidades, as montanhas,os desertos.

É bem interessante, disse o principezinho. Eis, afinal, uma verdadeira profissão! Elançou um olhar em torno de si, no planeta do geógrafo. Nunca havia visto planeta tão majestoso. 

- O seu planeta é muito bonito. Haverá oceanos nele?

- Como hei de saber? - disse o geógrafo.  

- Ah! - O principezinho estava decepcionado. - E montanhas?  

- Como hei de saber? - disse o geógrafo. 

 - E cidades, e rios, e desertos? 

- Como hei de saber? - disse o geógrafo pela terceira vez.

- Mas o senhor é geógrafo!  

- É claro. - disse o geógrafo. - ... mas não sou explorador. Há uma falta absoluta de exploradores. Não é o geógrafo que vai contar as cidades, os rios, as montanhas, os mares,os oceanos, os desertos. O geógrafo é muito importante para estar passeando. Não deixa um instante a escrivaninha. Mas recebe os exploradores, interroga-os, anota as suas lembranças.E se as lembranças de alguns lhe parecem interessantes, o geógrafo estabelece um inquérito sobre a moralidade do explorador.  

- Por que?

- Porque um explorador que mentisse produziria catástrofes nos livros de geografia.Como o explorador que bebesse demais...

- Por que? - perguntou o principezinho. 

- Porque os bêbados vêem dobrado. Então o geógrafo anotaria duas montanhas onde há uma só.

- Conheço alguém... - disse o principezinho. - ...que seria um mau explorador.  

- É possível. Pois bem, quando a moralidade do explorador parece boa, faz-se uma investigação sobre a sua descoberta. 

- Vai-se a ver?

- Não. Seria muito complicado. mas exige-se do explorador que ele forneça provas.Tratando-se, por exemplo, de uma grande montanha, ele trará grandes pedras. 

O geógrafo, de súbito, se entusiasmou:

- Mas tu vens de longe. Tu és explorador! Tu me vais descrever o teu planeta! 

E o geógrafo, tendo aberto o seu caderno, apontou o seu lápis. Anotam-se primeiro a lápis as narrações dos exploradores. Espera-se, para cobrir à tinta, que o explorador tenha fornecido provas. 

- Então? - interrogou o geógrafo.

- Oh! onde eu moro.. - disse o principezinho. - ... não é interessante: é muito pequeno. Eu tenho três vulcões. Dois vulcões em atividade e um vulcão extinto. A gente nunca sabe... 

- A gente nunca sabe... -  repetiu o geógrafo.

- Tenho também uma flor.

- Mas nós não anotamos as flores. - disse o geógrafo. 

- Por que não? É o mais bonito!

- Porque as flores são efêmeras.

- Que quer dizer "efêmera"? 

- As geografias.. - disse o geógrafo. - são os livros de mais valor. Nunca ficam fora de moda. É muito raro que um monte troque de lugar. É muito raro um oceano esvaziar-se. Nós escrevemos coisas eternas. 

 - Mas os vulcões extintos podem se reanimar. - interrompeu o principezinho . - Que quer dizer "efêmera"? 

- Que os vulcões estejam extintos ou não, isso dá no mesmo para nós. - disse o geógrafo. - O que nos interessa é a montanha. Ela não muda.  

- Mas que quer dizer "efêmera"? - repetiu o principezinho, que nunca, na sua vida, renunciara a uma pergunta que tivesse feito. 

- Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".

- Minha flor estará ameaçada de próxima desaparição?

- Sem dúvida. 

Minha flor é efêmera, disse o principezinho, e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha! 

Foi seu primeiro movimento de remorso. Mas retomou coragem:

- Que me aconselha a visitar? - perguntou ele. 

- O planeta Terra. - respondeu-lhe o geógrafo. - Goza de grande reputação... 

E o principezinho se foi, pensando na flor.  




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The Little PrinceOnde histórias criam vida. Descubra agora