Ser filha de pais conservadores ao extremo é um tanto fatigante na maioria das vezes. Sou privada de tudo, e sinto que sou controlada pelos meus pais como uma marionete. Não tenho concessão para viver minha própria vida, e perco muito do proveito que poderia ter, devido a tantas regras e manipulações mentais. Provavelmente sentem que estamos vivendo uma vida tradicional e perfeitamente correta, quando na verdade estou sendo psicologicamente aprisionada de uma forma um tanto desnecessária.
As coisas nem sempre estão tão controladas quanto eles pensam. Uma vez acabei por me perder em um bairro de movimento e de trânsito caótico. Um garoto que eu não sabia o nome a princípio me ajudou a chegar em casa. Meus pais sempre me alertaram sobre falar com estranhos, mas, mesmo que não fosse nem um pouco familiar, nada me fez pensar que ele pudesse me sequestrar, o que poderia ter sido um grande risco se minha intuição não estivesse correta. Pensei que nunca mais o veria, até que em um certo dia ele apareceu em minha casa no meio da madrugada, afirmando que precisava de um lugar para dormir. Permiti que ficasse comigo e não questionei sobre.
Suas visitas súbitas aconteceram várias vezes e, mesmo que ele nunca tivessse tido conversa frente a frente comigo, estava mais do que claro que tinha sérios problemas com o pai. Boris alegou morar com o ele sozinho, e que sua mãe havia falecido. Não sei muito bem o que aconteceu, porque ele não gosta de falar muito sobre, e também não ousaria perguntar. Às vezes, ele afirma que aparece apenas para passar a noite comigo, mas sei que só não quer me preocupar. Pessoas não visitam umas as outras de madrugada sem um motivo coerente, apesar de ser o horário mais seguro para o fazer, levando em conta que meus pais provavelmente surtariam se soubessem que converso com ele e que ainda permito que entre em minha casa. O ponto principal nem é por Boris ser uma péssima influência, mas sim, por ser uma péssima influência do sexo masculino.
Sou acordada de meu sono leve quando várias pedrinhas atingem o vidro da minha janela de uma só vez, fazendo com que eu tomasse um breve susto instantâneo. Exalo um suspiro profundo ao me recordar, e saio da cama com uma certa dificuldade por estar meio zonza.
— Acordei você, princesa? — ele perguntou, jogando uma outra pedrinha, que por pouco não acertou minha testa.
Boris pode parecer um idiota com apelidos idiotas para flertes, mas ele só me chama assim desde que ouviu uma vez meus pais o fazerem. Agora tenho que lidar com isso todas as vezes que o vejo e, mesmo que eu insista, ele nunca se refere a mim normalmente. Pode parecer inacreditável, mas não duvido nada que ele se tenha esquecido do meu nome e opta por continuar me chamando dessa maneira, considerando que talvez tenha vergonha de me perguntar.
— Não — digo, sorrindo. — Geralmente estou acordada às 3h da manhã.
Saio do rumo da janela, e o observo escalar uma árvore ao lado, até finalmente chegar e pular para dentro do quarto. Meus pais são obcecados por plantas e talvez se esqueçam de que árvores de grande porte podem facilitar visitas de ladrões ou garotos estranhos à casa. Não que a primeira opção já tenha ocorrido, mas é bem provável que aconteça.
— Sentiu saudades? — Ele arqueou as sobrancelhas e sorriu, esticando os braços logo após para um abraço.
— Pouca. — Sorrio de volta, correspondendo ao ato.
Boris tem sempre um cheiro fortificado de tabaco recém fumado, e isso nunca muda. Posso dizer que me acostumei com isso, assim como suas visitas inesperadas. Nunca sei quando ele vai vir e nem quando esperar por ele. É como se dizer que nunca sei quando o pai vai se estressar com o mesmo, e as coisas vão sair do controle em sua casa, só que de uma forma indireta.
O garoto se jogou na minha cama, mesmo sem concessão, e retirou um maço de cigarros e um isqueiro do bolso da calça jeans escura.
— O mundo está um caos. — Ele acende um cigarro, levando-o até a boca. — Sorte dos que estão partindo cedo.
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Finn Wolfhard Imagines
FanfictionO pensamento é ilimitável para se resumir em simples devaneios. Aqui, diversificadas histórias abrirão portas para amplificar sua imaginação, possibilitando uma criação mais vasta e realística de aspirações quase inalcançáveis. Desfrute sem moderaçã...