Remember me [pt.2]

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Diante de tamanha desordem que se encontrava meu armário, embora a todo momento eu tente manter a devida organização, acabo por encontrar o que tanto almejava. Uma caixa avermelhada já desgastada e empoeirada guardava recordações que, apesar de serem um tanto relevantes para mim, não eram relembradas pelo devido remetente. Retirei a caixinha com cuidado de onde estava, pretendendo não derrubar nada do meu "canto da bagunça", segundo meu pai. Percorri os cômodos do domicílio, até me encontrar com o homem que passa momentos intermináveis sobre uma poltrona de veludo. Geralmente demonstra uma feição amargurada quando trabalha, mas parecia estar impassível, o que sugere que somente apreciava o ambiente silencioso enquanto desfrutava de uma pilha de diversificados livros ao seu lado.

— Pai — chamo a atenção do mais velho, que faz um gesto de silêncio com o dedo indicador sobre os lábios. Espero que ele se demonstre disposto para dar continuidade, até que o mesmo fecha o livro que segurava e dirige seu olhar incomodado a mim. — O senhor pode me levar ao hospital?

— A essa hora da noite? Deveria ter pedido mais cedo.

— Fiquei estudando durante a tarde...

— Josh, não pode te levar? — questionou, franzindo a testa.

— Na verdade, tenho que passar na casa dele antes, mas não é por conta disso. Enfim, não quero pedir a ele.

E como se tivesse deduzido completamente tudo o que eu ocultava em poucos seguidos, ele assentiu com a cabeça, levantando-se da poltrona esverdeada. Sem dizer mais nada, começou a trancar as portas e janelas da casa e simplesmente fez um gesto com a mãos, fazendo-me compreender que devia acompanhar seus passos. Logo, estávamos diante da estrada um tanto amena. O silêncio, rompido apenas por Freddy Mercury dominando o ambiente com suas notas altas em uma playlist exclusiva, era perturbador para mim. Minhas mãos suavam, e fui obrigada a deixar a caixa que segurava dentro do porta luvas, evitando o risco de danificar o que já não está em seu melhor estado. Tinha ciência de que meu pai sequer perguntaria o que estava errado mesmo se não soubesse. Não o culpo, porque sei que não tem a capacidade de perceber sensações alheias. É o jeito dele.

— Vai demorar? — indagou com indiferença quando chegamos à primeira parada.

— Garanto que não. — Sem dar tanta importância, deixei o veículo e não levou muito para que já estivesse de frente para ele. Josh esboçou um sorriso largo ao me ver, e me esforcei para retribuir com meu melhor sorrisinho amarelo.

— E aí, gatinha? — Ele apoia um braço no batente da porta, e desliza a outra sobre o topete. — Saudades, não é? Imaginei que sentiria, levando em conta que passou a semana inteira em um hospital e mal teve tempo pra mim.

— Podemos conversar? — pergunto simplesmente, e seu sorriso se dissipa com minhas palavras.

O mesmo anui, e eu passo por ele, evitando encará-lo. Como sempre ocorria quando havíamos de dialogar, nos assentamos sobre o sofá e, mesmo que eu não desejasse isso, ambos de nós estávamos de frente um para o outro. Porque é assim que uma conversa funciona.

— O que foi? — diz.

— Bom, eu deveria ter conversado sobre isso antes com você, mas não consegui coragem o suficiente pra isso, entende? — pergunto, e ele somente permanece com uma expressão vazia. — Sei que as coisas andam meio ruins entre nós, mas não é culpa sua...

— Ruins? — Franziu o cenho, cruzando os braços. — Pensava que estava tudo certo, e você só estivesse ocupada demais.

— E isso é verdade, mas é que... não é tudo. — Meu nervosismo provavelmente estava explícito, porém era admirável o autocontrole que ele estava tendo, considerando que não demonstrava nenhum semblante que entregasse o que sentia. — Quando começamos a namorar, pensei que as coisas fossem mesmo dar certo. Você apareceu na minha vida em uma época difícil e me ajudou ao máximo que conseguiu. Pensei que estivesse dando certo, mas agora, quando finalmente tive a capacidade de enxergar diante de tudo, percebo que nunca fui realmente feliz com você. E isso não vai mudar. Eu fui uma idiota todo esse tempo. Nunca deveria ter me relacionado, pensando que funcionária como um curativo pra essa ferida que me atormentou por um ano inteiro. Eu sinto muito.

Finn Wolfhard Imagines Onde histórias criam vida. Descubra agora