Remember me

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De um dia para o outro, coisas inimagináveis podem vir a surgir, com o propósito único de arruinar nossas vidas. Não sou aquele tipo de pessoa que vive cada momento como se fosse único, porque sempre enxerguei isso como asneira. Viver e valorizar são coisas diferentes. Relaciono boa parte da vivência como uma grandeza insignificante. Porque são incontáveis os momentos supérfluos que podem ser simplesmente descartados, e eu sempre tive o costume de o fazer. Pelo menos até determinado tempo.

Arrependimentos doroloros vieram à tona quando o observei numa distância imensurável do que se é nomeado realidade. Uma onda de questionamentos vieram a surgir, e me culpo a cada dia por ter considerado uma banalidade os melhores momentos de toda minha vida. Sua pele pálida e sua pálpebras, impossibilitando que suas orbes castanhas fossem expostas ao mundo, contribuíam cada vez mais para me machucar inteiramente. Almejava contemplar seu sorriso ou ouvir sua risada contagiante, mas durante um ano inteiro, fiquei sem apreciar a essência singela de um ser humano que tentou me ensinar a amar o mundo. Porque Finn nunca foi de seguir "regras idiotas", nem mesmo as que podem te destinar a um coma.

Quando ouvi que havia despertado, meu corpo gelou. Talvez a dominância da incredulidade me paralisou por não ter pensando em tal possibilidade. Porque sentia que desejar todas as noites que aquele acidente de carro não tivesse o afetado de tal maneira era estupidez demais. Tampouco a possibilidade de todo esse sofrimento acabar me vinha em mente, porque sempre fui cética ao extremo e era incapaz de crer que havia realmente acontecido. Mas seus pais esboçavam um sorriso largo que poderia contagiar o universo devido à sinceridade explícita. Nunca os vi sorrir desde que Finn se desligou do mundo e anulou qualquer sinônimo de felicidade que eles poderiam conhecer. Era real. Ele havia voltado tão abruptamente quanto nos deixou.

Conversei com meu pai sobre me levar, mas ele acabou por negar por estar cansado demais para algo fútil. Não convivo com minha mãe, e desde criança sou criada apenas por ele. Apesar de sentir que dá o seu melhor, nem sempre ele é tão compreensível e disposto a fazer de tudo por mim. Não queria incomodar qualquer pessoa, então pedi a Josh para me levar, considerando que faz quase tudo por mim, mesmo não concordando.

— Mas ele já saiu do coma? — questionou, sem tirar os olhos da estrada à frente.

— "Já"? — indago, desentendida. — Um ano pra mim foi mais do que suficiente. Você não tem noção de tempo, não é?

— Meu tio ficou por sete anos. Finn teve até sorte nisso.

— Pra mim não é sorte alguma ficar em coma. Meio idiota da sua parte dizer isso. — Cruzo os braços, e ele vira o rosto para a minha direção por alguns poucos segundos.

— Desculpa, ok? Não foi a intenção — diz, e eu dou de ombros. — Fico feliz por ele ter despertado. Ninguém merece passar por isso.

— Tudo bem. Sei que não foi sua intenção.

Quando chegamos, Josh dissera que esperaria dentro do carro, mas depois veria como ele estava, considerando que sente que seria um incômodo se ficasse a todo tempo, porque sequer são amigos. Notei os pais Finn conversando com um médico, até que ambos me notaram e vieram em minha direção.

— Olá, querida — Mary diz num tom animado. — Bom ver você aqui.

— Oi, tia. — Sorrio. — Como ele está?

— Acordado, posso dizer. — Ela suspira com um ar decepcionado.

— Ele está podendo receber visitas?

— Sim. Mas no máximo duas pessoas por vez. Não é bom encher o ambiente agora, entende?

— Eu posso vê-lo?

Finn Wolfhard Imagines Onde histórias criam vida. Descubra agora